Fernanda Torres conversa com Raphael Montes sobre personagens no
Atriz e escritora reflete sobre protagonistas que criou para seus livros e discute papel da arte na sociedade atual
Elemento da narrativa que conduz as tramas em livros, peças de teatro, filmes, séries e novelas, o personagem é o tema da entrevista que a atriz Fernanda Torres concede para o apresentador Raphael Montes no Trilha de Letras, nesta terça (17), às 21h15, na TV Brasil.
A edição especial do programa foi gravada na casa da artista no Rio de Janeiro. Produtora, roteirista e também escritora, Fernanda Torres fala sobre os papéis que escreveu na literatura ao comentar seus livros Fim (2013) e A Glória e Seu Cortejo de Horrores (2017).
Filha da diva da dramaturgia Fernanda Montenegro e do saudoso ator Fernando Torres, a convidada fala sobre a adaptação da sua obra de estreia para as telinhas em formato de minissérie. A atriz comenta essa experiência de roteirizar o próprio trabalho Fim para outra plataforma. Fernanda Torres conta como se sentiu ao revisitar os personagens alguns anos depois de criá-los.
A autora destaca o porquê de redigir textos protagonistas homens. “Eu fico mais confortável na voz masculina. É uma anomalia. É muito difícil escrever como mulher que não parta de mim. A voz do homem transforma em literatura e me apaga. É uma pele confortável. É como um disfarce perfeito para eu não estar ali”, avalia.
Sobre as suas publicações, ela comenta o peso de escrever um novo título a partir do sucesso do romance anterior que teve bastante repercussão. “Foi difícil. A inocência é maravilhosa. Com o Fim, eu me senti a debutante. É o sentimento de descobrir uma potência que você não sabia que tinha. Tudo que você espera é falhar. E se você falhar, tudo bem. Mas o livro teve bons resultados, foi vendido para outros países. Aí veio o segundo. São bem diferentes”, reflete.
Fernanda Torres conta como faz para desenvolver os personagens que escreve para suas ficções. “Primeiro tem um processo de apagar da realidade. Escrever é um mergulho que demora um tempo. Uma vez que começo a escrever e jogar tinta no papel, surge essa questão de se apropriar da voz que começa quase a falar sozinha na sua cabeça”, reflete sobre o direcionamento da trama.
Ela também discute sobre os gêneros das obras durante o papo com Raphael Montes na atração da TV Brasil. “Não consigo fazer humor ou tragédia. Todo humor que não tem tragédia perde. E toda tragédia que não tem humor tem algo faltando”, pondera a artista.
Arte na sociedade contemporânea
Com décadas de carreira como atriz, a convidada analisa a dimensão da opinião pública nesse tempo atual. “A opinião pública se dividiu e hoje só filme de super herói consegue dar conta. Nem as novelas conseguem mais, não são mais o centro da atenção”, comenta.
O novo livro de Fernanda Torres, “A glória e seu cortejo de horrores”, mostra a trajetória de um ator que vive entre o sublime e o ordinário. A autora compara essa estória com a história do Brasil.
Para ela, a arte não está dando conta do País. “Estou estranhando muito o Brasil. O Brasil é algo muito diferente do que eu achava que ele era. O próprio Brasil perdeu a mão do que é o Brasil”.
Fernanda Torres discute o papel da arte na sociedade contemporânea. “Acho que a arte está sapateando muito. Por isso, escrevi o Gloria. Quis fazer uma reflexão sobre o que foi que aconteceu”, critica Fernanda que aprofunda seu pensamento.
“O teatro e o cinema tinham uma potência transformadora na sociedade. O Asdrubal e o Macunaíma mudaram a vida da minha geração. Era subversivo. A minha mãe me arrastou pequena para o Canecão para ver o show da volta do Caetano com o Chico. Essas coisas eram totalmente ligadas a sua vida”.
Personagem e o público
Ainda nesta edição, o Trilha de Letras traz ainda um depoimento do escritor e dramaturgo Eduardo Rieche sobre como criar empatia com o leitor ou espectador através do personagem, função que ele deve cumprir seja num texto de dramaturgia ou literatura.
“Depende menos do personagem criar empatia e mais do leitor ou espectador demonstrá-la. Convencionou-se que os personagens dever ter conflitos e enfrentar dramas pessoais para que o leitor ou espectador se identifique com ele e possam reconhecer esses odes e amores. É o recorte de uma dramaturgia específica”, avalia o autor.
Assim como Fernanda Torres, outras atrizes consagradas também fazem sucesso na literatura. A jornalista Katy Navarro fala sobre o livro “Entre ossos agora”, de Maitê Proença, no quadro “Leituras da Katy”. A obra reúne 22 crônicas redigidas pela artista para uma revista semanal. O título já tem uma nova edição.
Já no quadro Dando a letra, o programa da TV Brasil apresenta o projeto “ALira POEMAS que enCANTAM” realizado pelo musico e poeta Rafael Clodomiro. Ele fala sobre a iniciativa em que faz música com poesias famosas da literatura brasileira e portuguesa.
Os “poemas musicados” da ALira são os mais conhecidos versos de Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Fernando Pessoa, Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Castro Alves e Cecília Meireles entre outros gênios da literatura.
Essas “canções poéticas” carregam influências da MPB, do reggae, do pop rock, do indie dolk e do rap. Desse modo, cada poesia recebe uma interpretação musical diferenciada.
SERVIÇO
‘Trilha de Letras’
Quando: terça-feira (17), às 21h15, e quarta (18) às 6h
Onde: TV Brasil