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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
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Maria da Penha

Violência contra mulher é razão de projeto

Do Salto ao Alto, lançado, nesta terça, por mulheres que foram vitimas de violência visa promover o debate e desestimular a prática machista

Postado em 14 de agosto de 2018 por Guilherme Araújo
Violência contra mulher é razão de projeto
Do Salto ao Alto

Reprodução Internet

Da Redação 

Com os 12 anos de Lei Maria da Penha, acompanhando em detalhes as cenas que precederam o que pode ter sido o assassinato da advogada Tatiane Spitzer pelo próprio marido, foi um tapa na cara da sociedade brasileira. Unindo-se os dois acontecimentos o Brasil pôde comprovar, ainda, que o caso da jovem bonita de classe média faz parte de estatísticas colossais que remetem a 221 mil casos de violência doméstica em 2017, 60 mil estupros e 4,5 mil assassinatos. Neste cenário, surge em Goiânia uma nova iniciativa, criada por mulheres, para promover a discussão de um tema que por enquanto sem solução: a violência contra a mulher, em suas diversas modalidade: o projeto de Salto ao Alto, que será lançado nesta terça feira (14),  às 20h, no Espaço Maktub.

Idealizado pela advogada criminalista, Márcia Póvoa, que também é vice-presidente da Comissão de Direitos e Prerrogativas da OAB/GO e pela biomédica, sanitarista e Master Coach, Tânia Agostinho, Do Salto Ao Alto visa o atendimento e esclarecimento de mulheres em situação de violência. Porém, além das experiências profissionais que as colocaram frente a frente com a questão da violência contra mulher e feminicídio – já que Tânia foi responsável durante 30 anos pelo atendimento de mulheres vítimas de abuso sexual no IML de Goiânia -as duas têm ainda as próprias histórias particulares de violência para compartilhar e embasar suas ações e compreensão do tema.

Márcia Póvoa, mãe de três filhos, foi casada durante quatorze anos e só percebeu ter sido vítima de violência psicológica por parte do marido ao ouvir os relatos de outras mulheres como advogada criminalista. Quando ajudou a editar a cartilha “Violência Contra a Mulher-Feridas que Afloram” lançada pelada Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas, ela percebeu que deveria empreender algo para auxiliar outras mulheres na mesma situação em que estivera e da qual somente com muitas lágrimas e perdas, inclusive patrimonial, conseguiu sair.

A violência, segundo a advogada, vem de muitas formas, a física é só a mais fácil de constatar. Com o projeto De Salto ao Alto elas pretendem ajudar a, através do debate, do estudo e do auxílio, levar às mulheres a identificar e lutar contra esse tipo de violência. “Sair, antes que seja tarde demais para a vida e para a saúde emocional”, explica a advogada que também é Coach no assunto.

Tânia Agostinho destaca que a violência silenciosa é a mais difícil de identificar e combater, pois a sociedade é conivente com algumas ações do abusador o que leva, inclusive, a mulher se questionar sobre sua dor e se culpar pela infelicidade do casal e da família. “No final, ela é só mais uma vítima e sente, como tal, as consequências desta condição, na autoestima, na saúde orgânica e emocional”, adianta Tânia Agostinho. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, mulheres vítimas de violência – física ou psicológicas – têm mais chances de desenvolverem quadros depressivos ou de ansiedade e de serem levadas ao suicídio.

Para as duas mulheres que sentiram na pele o que é ser vítima e as dificuldades vivenciadas a partir daí o debate, a conscientização e a aceitação do quadro de violência é primeiro passo para começar a se livrar dela. O projeto  Do Salto para o Alto visa através do estudo, da discussão dar o “start” para que a condição de vítima da mulher se reverta. Entre as ações a serem desenvolvidas, estão palestras para mulheres vítimas, para jovens em formação de ambos os sexos, ou seja,  até para homens, já que o abuso praticado por eles é fruto da crença de uma sociedade machista que repassa a este público uma noção errônea de poder. “Não se mata, se estupra ou se agride por amor, desejo ou sentimento, mas por uma relação de poder e devemos ir ao cerne dessa questão para quebrar todos os mitos”, explica Tânia Agostinho.

Nos eventos a quem vêm participando, as idealizadoras de Do Salto ao Alto sempre levantam questionamentos: Por que a Lei Maria da Penha não surtiu o efeito desejado com números cada vez mais alarmantes de violência? Se são as mulheres, como mães, as responsáveis pela educação dos meninos, por que as sociedades ainda se mantem tão machistas? Por que a própria mulher se mostra tão incompreensiva com os dramas de violência vividos por outras mulheres? Por que estamos tão confusas entre a diferença de um galanteio e de uma fala machista? Por que a mulher mesmo independente financeiramente, não consegue se livrar das amarras impostas pelos homens e se veem como vítimas mantenedoras?

“São muitas as perguntas, tantas sem respostas, outras ainda sequer formuladas. Porém, todas necessárias para começarmos a quebrar o ciclo do abuso feminino no Brasil”, afirma Márcia Póvoa. Ela acrescenta, ainda, que projetos como Do Salto ao Alto pode encurtar caminhos para muitas mulheres, à medida que as levam à compreensão de suas condições e de que, embora sem apoio, algumas mulheres conseguiram vencer batalhas, embora a guerra contra um mundo machista esteja ainda em andamento.

A inciativa vem sendo bem recebida por figuras ligadas às questões femininas. Cybelle Tristão, delegada responsável pela 2ª Delegacia Regional de Aparecida de Goiânia,  que tem sob sua responsabilidade nada menos que três delegacias da mulher, acha esse tipo de ideia salutar para o processo de luta contra esse tipo de violência. “Como delegada que cuida do tema, acho essa ideia brilhante, porque a coragem só vem de se saber capaz de lidar com uma situação e a mulher precisa ser capacitada para lutar contra a violência”, sentencia.

Flávia Fernandes, presidente do Conselho Estadual da Mulher, é outra apoiadora da iniciativa. “É muito importante que a sociedade levante esse tipo de debate. Se não a sujeira será sempre varrida para debaixo do tapete, em briga de mulher todos continuarão não metendo a colher e enquanto isso a violência continuará sendo uma das principais causas de morte de tatianes e marias no Brasil”, afirma. 

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