Entidades goianas são saídas para vítimas de violência doméstica
Estado enfrenta dificuldades financeiras para manter abrigos
Eduardo Marques*
Inaugurado há 39 anos, o Centro de Valorização da Mulher Consuelo Nasser (Cevam), em Goiânia, acolhe mulheres, adolescentes e crianças vítimas de violência doméstica, abuso sexual ou abandono. O abrigo é o único em Goiânia que recebe e fornece apoio por tempo indeterminado, já que muitas das mulheres atendidas ficam até que consigam se reestruturar para a vida em sociedade.
A presidente do Cevam, Maria Cecília Machado, ressalta que apesar do trabalho desenvolvido, a Organização Não-Governamental (ONG) enfrenta dificuldades financeiras e já acumula mais de R$ 500 mil em dívidas. Segundo ela, há mais de 8 anos, a entidade se mantém apenas com doações. “As nossas dívidas são referentes a ações trabalhistas, gastos com alimentação, transportes e telefonia”, explicou.
O problema é que, sem verba para deixar a ONG com a documentação em dia, o apoio governamental não chega e é impossível que a entidade pague o que deve. “É um círculo vicioso, pois uma coisa reflete na outra. Mas estamos sempre em busca de parceiros, que comprem a causa do Cevam, para que o trabalho realizado aqui continue assim por muitos anos”, ressaltou Maria Cecília.
Desde a criação da ONG, na década de 1980, o princípio da entidade continua o mesmo: ajudar a amenizar a dor e os traumas causados pela violência. “Aqui temos um caso pior que o outro. São mulheres que foram agredidas e mutiladas pelos companheiros, crianças vítimas de abusos sexuais, na maioria das vezes cometidos pelos próprios familiares, entre outros”, destacou a presidente.
Além de frequentar a escola, as instaladas pelo Cevam fazem cursos e recebem apoio psicológico. No local, as crianças podem se divertir em um parquinho e em uma piscina. “Fazemos tudo para amenizar o sofrimento delas, pois uma das opções que oferecemos é um parque de diversões e uma piscina”, pontua Maria.
Doações
Além de alguns funcionários, o Cevam usufrui através o recurso de voluntários, que ajudam desde a parte administrativa quanto a operacional, como limpeza e manutenção do espaço. A presidente da entidade diz que todo o tipo de doação é bem-vinda.
“Tudo o que ganhamos é aproveitado. O que não usaremos aqui, colocamos à venda em um bazar permanente. É com esse dinheiro que conseguimos comprar os itens que precisamos, como para higiene, por exemplo, e remédios”, explicou Maria Cecília.
De acordo com ela, as roupas que são recebidas nas doações passam por uma seleção. Primeiro, parte delas vai para as mulheres, crianças e adolescentes que estão nos abrigos. Depois, selecionamos vestidos de festa e outras roupas que não usamos muito e enviamos para um bazar que funciona todos os dias e, quando a roupa já não está apropriada para o bazar, fazemos doação para alguma instituição ou para moradores de rua.
“O bazar é aberto para a população e com o dinheiro arrecadado é que compramos remédios, abastecemos o carro, compramos o complemento de tudo que não ganhamos da população”, conclui.
Ainda de acordo com a presidente, entre as principais necessidades de doação estão os alimentos, como verduras, extrato de tomate, bolachas e leite, além de produtos de higiene pessoal, como xampu, condicionador de cabelo e desodorante.
“Nós ganhamos alimentos, mas sabe o que é dar leite para 60 pessoas e a maioria criança? A bolacha e suco estão entre os produtos que mais faltam aqui, porque temos que dar lanche para as crianças entre uma alimentação e a outra”, completa a presidente.
Dívida
Entre as maiores dificuldades enfrentadas pela entidade filantrópica é o pagamento de quem trabalha no local. Maria Cecília afirma que o local está com um número restrito de funcionários. Segundo ela, a casa tinha que ter no mínimo 30 pessoas trabalhando, mas hoje possui apenas 10. “O pagamento teria que ser feito pelas doações, mas fazemos vale, indo daqui e dali e vamos levando até conseguir alguma coisa”, conta.
A presidente aponta que também há uma necessidade enorme de voluntários que possam ir até o abrigo para prestar serviços ou até mesmo brincar com as crianças e entreter as mulheres adultas. “Temos poucas atividades porque não temos recurso financeiro, temos só o voluntariado que vem e presta o serviço. Ensina alguma atividade, alguma coisa”, revela.
Quem quiser fazer doações em dinheiro, pode entrar em contato pelo telefone (62) 3213-2233 ou acessar o site da entidade ou ir ao local pessoalmente. “Temos fé que vamos conseguir reverter a situação difícil que nos encontramos hoje. Muita gente boa tem nos procurado no intuito de ajudar e isso é fundamental para que possamos ajudar essas mulheres e crianças, que sofrem com tantos traumas. Eu trabalho aqui, como voluntária, sete dias por semana, 24 horas. Por isso, ressalto que com pouco podemos fazer muito”, afirma.
Casa Abrigo
Mantida pela Prefeitura de Goiânia, a Casa Abrigo Sempre Viva é um local que abriga mulheres que estão sob ameaça de morte. Durante o período em que estão na casa, as mesmas recebem atendimento psicológico, jurídico e social, além de participarem de cursos de capacitação profissional que contribuem para a sua independência financeira e autonomia psicológica.
Segundo a titular da Secretaria Municipal de Política Para Mulheres, Ana Carolina Almeida, para ter acesso à Casa, a vítima precisa procurar as Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (Deams), (unidade Centro e Noroeste de Goiânia) que irá avaliar se ela enquadra nas normas do regimento interno da casa e de acordo com as normas técnicas do Governo Federal.
“As delegadas entram em contato conosco para enviar as mulheres vítimas de violência doméstica de cunho mais grave, porque somos referência e possuímos estratégia e estrutura para atender as vítimas”, pontua. Apesar dessa contribuição para sociedade, ela ressalta que as mulheres só podem ficar no espaço no período de trinta dias e prorrogar por mais trinta”, diz.
No local, as mulheres são incentivadas a participar de cursos profissionalizantes para reinserção ao mercado de trabalho e as crianças são conduzidas a escola. “Muitas delas chegam aqui sem emprego e para tanto nós proporcionamos cursos profissionalizantes tais como corte e custura, pintura, artesanato e enviamos as crianças ao Cmei e escola”.
Embora a Casa é mantida pela Prefeitura, ela salienta que as doações sempre são bem-vindas. “Aguardamos um recurso do Governo Federal para construção de um outro prédio, porém aqui sempre necessitamos de doações como roupa, comida, brinquedos, enfim, tudo aqui é bem-vindo”.
Ela pontua que a maior dificuldade que a entidade enfrenta é a coragem para denunciar o agressor, pois, de acordo com a secretária, as vítimas têm medo do preconceito, uma possível retaliação do agressor e muitas delas são dependentes financeiramente do homem.
Dificuldade
A equipe de reportagem do jornal O Hoje tentou entrar em contato com algumas mulheres que procuraram alguma Casa de Apoio, porém não obteve êxito. Apesar do Estado oferecer esses abrigos, segundo a Ana Carolina Almeida, a maior dificuldade que existe é a coragem delas denunciarem os agressores, o que dificulta a força feminina.
*(Eduardo Marques é integrante do programa de estágio do jornal O Hoje sob a supervisão de Naiara Gonçalves)