Arte urbana pode ser observada de lugares público e privados
Em muros até os mais altos prédios
Thiago Costa
A palavra arte pode ter significados distintos, e depende exclusivamente das experiências de vida de cada pessoa para ser compreendida, a chamada subjetividade. O que para alguém pode ser arte, para outra pessoa pode não ser. A arte de rua, que usa grafite como principal instrumento ocupa muros públicos e particulares, ruas, prédios e vários outros lugares que servem como tela para que os artistas consigam interação com os grandes centros urbanos.
Em Goiás, a arte pode ser observada por vários lugares, desde gavetas de linhas telefônicas, aquelas estruturas metálicas que ficam em algumas esquinas, passando pelos muros de Goiânia, até os mais altos prédios da Capital.
No Brasil, a arte chegou na década de 70, paralelamente com a cidade de Nova York. A cidade anfitriã da arte de rua urbana no Brasil foi São Paulo, em um período que a censura militar silenciava as pessoas com seu poder e influência. Como uma maneira de comunicação do período, os artistas do grafite da não pediam licença para suas expressões, apenas se expressavam e levavam mensagens à população brasileira.
Uma arte que carrega em sua história o preconceito e a discriminação, hoje começa a ganhar o seu espaço com maior facilidade e já tem grandes telas da arte de levar subjetividade às pessoas. Em Goiânia, o Beco do Codorna é uma dessas telas a céu aberto que serve de palco para álbuns de casamento, ensaios fotográficos, ensaio de grávidas e palco para belas fotos que servem para toda a sociedade, já que algumas artes do Beco interagem com o público, dando a eles a sensação de pertencerem à pintura que, em sua tradução, tem significado a “escrita feita com carvão”.
Mateus Dutra promove em Goiânia o Arte Ocupa Ambiente. “A importância para o evento é a resistência da arte. Um lugar que as coisas se conectam. Artistas, esportistas nas áreas radicais, pessoas ligadas à moda, entretenimento. Para Goiânia, o intuito deste evento é fomentar e divulgar a produção artística de uma gama de artistas visuais que eu particularmente acho importantes. São artistas que tem no DNA da sua produção a linguagem do designer, da ilustração autoral e da arte urbana.
Para o curador do evento, Mateus, enquanto artista de rua urbana, o assunto é algo a se questionar, principalmente quando alguém da arte de rua é rotulado apenas como grafiteiro. “Eu acho que hoje, na arte urbana do Brasil e do mundo, de Goiás e de Goiânia, tem muitos artistas que não são grafiteiros. Muitos são designers e ilustradores que resolvem pintar na rua”. Para o artista, não são todos os que espalham suas artes pela rua que são grafiteiros, mas que usam a rua como suporte, como se fossem telas de pinturas para suas obras.
Às vezes a arte usa spray, tinta, papel. Os artistas, na verdade, são artistas visuais que têm no seu caminho a arte urbana. O responsável pelo evento resolveu desenvolver a ação para reunir desde artistas visuais a profissionais da moda com a sociedade e comemorar, de acordo com ele, o bom momento que as artes visuais vivencia. Para o artista, a oportunidade é para que outros jovens artistas possam mostrar sua arte em um evento da área.
Perguntado sobre as pessoas que encaram a arte de rua como algo pejorativo, Mateus Dutra acredita que a opinião pública tem mudado bastante. “As pessoas que vão contra a arte de rua vão contra o princípio da liberdade de expressão, de autonomia e liberdade de criação. A arte vê quem quer”, garante o artista ao comparar a arte de rua com outras artes, como por exemplo o cinema ou até mesmo a grade de programação na TV.
“Eu tento mudar o rótulo que as pessoas impõem ao grafite. O grafite é uma linguagem muito importante, relevante e tem um papel social muito importante no sentido de despertar nas pessoas o olhar para a cidade, para as ruas, para os muros. O grafite proporciona um novo significado para alguns lugares do município, cria conceitos e eleva a relação das pessoas com a cidade. A pessoa pode ter passado pela esquina várias vezes, mas quando ela passa e tem uma arte de rua por lá, ela presta mais atenção e olha o local de maneira diferente”, comenta Mateus.
A ausência da arte de rua em Goiânia seria de grande impacto para todos, começando pelos donos dos muros, caso a prefeitura resolvesse se espelhar em São Paulo e passar tinta sobre as artes. “Primeiro deve-se ouvir o dono do muro, por exemplo, as pessoas que moram na comunidade, a relação das pessoas com a obra. Muitas obras têm relação afetiva com a sociedade”, comenta o artista sobre o caso da “Onda cinza” de João Dória, então prefeito de São Paulo quando pintou as artes urbanas.
Em relação de artes que foram apagadas em São Paulo, por exemplo, o artista goiano compara a arte de rua com os monumentos de Goiânia. “Você não vai chegar e depredar o Monumento das Três Raças da Praça Cívica só porque você acha que o monumento não agrega ou que você não se identifica com esse tipo de arte. Eu acho que a maneira como a arte urbana é feita no Brasil é um reflexo de como o país relaciona com as suas cidades, ruas, praças e com os muros”, comenta Mateus ao comparar sobre como toda a sociedade se identifica com os vários tipos de artes existentes.
Empresas beneficiam entidades por não pichação
Uma empresa de materiais de construção que fica na Avenida T-63, próxima ao terminal Isidória, após ter o muro pichado por várias vezes e gastado com as novas pinturas do local, resolveu tomar uma atitude humanitária para ver se, assim, acabariam esses problemas. A empresa colocou placas espalhadas pela parte externa do local, em uma tentativa de se comunicar com quem faz esse tipo de crime. Na parede, quem passa pelo local pode ler: “Sr, pichador, beneficiamos uma instituição de caridade todo mês com doações em virtude da não pichação”.
Com as placas informando que com o “dinheiro economizado com a pintura dos muros” a empresa faz a doação de cestas básicas para entidade assistencial, atualmente a empresa auxilia duas instituições, sendo uma delas o Núcleo Social Dona Judith, que oferece assistência às famílias carentes de Aparecida de Goiânia e atende cerca de 300 pessoas, entre crianças, jovens e adultos com cursos profissionalizantes, creche e alfabetização, tudo gratuito e mantido através de doações.
A não pichação dos muros da empresa oferece doações também para a Creche e Educandário Casa do Caminho, que atente a mais de 250 crianças carentes de 0 a 7 anos. De acordo com a assessoria de comunicação da empresa, há mais de dois anos o prédio não sofre os ataques por sprays e isso é uma ótima notícia, já que com esse dinheiro que antes era gasto com pintura, agora é revertido para fazer o bem.
De acordo com a gerente geral de loja, Daiany France, sem a placa a loja sofria ataques em média três a quatro vezes por ano. “Eu acredito que a questão de estarmos transferindo esse valor da pintura para instituições de caridade, é, além de uma atitude humana, uma forma de deixar a nossa cidade ficar mais bonita e ajudar quem realmente precisa”, comenta a gerente.
Daiany afirma que os clientes sempre perguntam se a empresa tem a parceria para ajudar as entidades, que recebem como resposta a importância dessas parcerias pela não pichação e que os pichadores respeitam o gesto. “A conscientização, de um modo geral, é muito importante, até porque o benéfico também é para a loja que adere à campanha. O benefício para a loja participante da campanha é que as despesas com manutenção da empresa diminuem significativamente”, afirma a gerente da loja.
Para inibir pichações, empresas fazem a troca de manutenções, produtos que seriam gastos para a limpeza e doam alimentos a creches, asilos de idosos, hospitais, dentre várias instituições que necessitam do olhar da sociedade. É uma maneira de contribuir em mão dupla, pois todos saem beneficiados nestes casos de não pichação.