Saneago dobrou investimentos, mas lucro cai 58,7% com aumento nos tributos pagos
Lauro Veiga
A
queda vertical no resultado líquido da Saneamento de Goiás S.A. (Saneago) no
ano passado deve ser analisado com cautela, para evitar conclusões precipitadas
e decisões equivocadas por parte do seu controlador principal. Na última linha
da conta de resultados, a estatal registrou um lucro líquido de R$ 115,762
milhões, o que foi suficiente para zerar a conta de prejuízos acumulados em seu
passivo consolidado. Mas representou um tombo de 58,74% frente ao resultado de
R$ 280,575 milhões realizado em 2017.
A
queda, no entanto, não reflete integralmente o que foi o desempenho da companhia
em 2018 e foi provocada pelo salto no pagamento de tributos. Em 2017, a Saneago
havia recolhido R$ 36,418 milhões referentes ao Imposto de Renda sobre Pessoa
Jurídica (IRPJ) e à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) correntes.
A conta subiu para R$ 55,370 milhões no ano seguinte, com alta de 52,0%. Além
disso, a empresa conseguiu diferir (adiar), ainda em 2017, o pagamento de R$
237,938 milhões de IRPJ e CSLL, o que turbinou o resultado daquele ano,
imprimindo um salto de 136,2% diante do lucro de R$ 118,770 milhões realizado
em 2016 (quando a estatal deixou para trás um prejuízo de R$ 328,623 milhões
apurados em 2015).
Além
do aumento no recolhimento de tributos correntes, a Saneago não teve
diferimento de impostos, o que deixou a conta mais salgada. Para comparação,
com o diferimento, o resultado líquido foi engordado em R$ 201,520 milhões em
2017, o que representou 71,8% do lucro acumulado no ano. Em 2018, a conta de
impostos e contribuições ficou negativa em R$ 57,717 milhões, reduzindo o
resultado na mesma proporção. Quando comparados os resultados antes de tributos
de 2017 e 2018, por exemplo, os ganhos mais do que dobraram, saindo de R$
79,055 milhões para R$ 173,479 milhões, num acréscimo de R$ 94,424 milhões.
Maior
participação
Embora
continue a enfrentar notórias dificuldades na geração de caixa, a Saneago
conseguiu dobrar os investimentos realizados em 2018, ainda com participação
relevante de recursos onerosos (que responderam por 82,4% do total investido).
No ano passado, a empresa investiu R$ 263,577 milhões, diante de R$ 125,717
milhões em 2017, significando uma elevação de 109,7%. O investimento em
sistemas de esgoto, que haviam representado 33,6% das inversões totais em 2017,
elevaram sua participação para quase 36,4%, resultado de um aumento de 127% nos
valores investidos, que saltaram para R$ 95,814 milhões. A rede de
abastecimento de água recebeu R$ 112,170 milhões em investimentos, 42,56% do
total (frente a 51,71% em 2017), crescendo 72,5% sobre o ano anterior.
Balanço
·
O
resultado de 2018 foi favorecido pela elevação de 7,46% no faturamento total,
que subiu de R$ 2,071 bilhões para R$ 2,226 bilhões, com avanço de 4,26% na
receita líquida (de R$ 1,984 bilhão para R$ 2,069 bilhões).
·
O
aumento na ponta das receitas veio combinado com uma redução de 14,0% nas
despesas comerciais e administrativas, que somadas passaram de R$ 702,952
milhões em 2017 para R$ 604,522 milhões no ano passado, num corte de R$ 98,430
milhões.
·
Incluindo
provisões para fazer frente a contingências diversas, os gastos da companhia
recuaram quase 10%, passando de R$ 808,014 milhões para R$ 727,268 milhões (R$
80,746 milhões a menos).
·
As
despesas financeiras totais até chegaram a recuar 1,03% no ano passado, para R$
166,567 milhões (diante de R$ 168,306 milhões em 2017). Mas as receitas caíram
25,4% (de R$ 95,057 milhões para R$ 70,931 milhões), o que fez o “prejuízo” na
conta financeira avançar de R$ 73,250 milhões para R$ 95,637 milhões, em alta
de 30,56%.
·
A
geração operacional de caixa, medido pelo resultado antes de despesas
financeiras, impostos, depreciação e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês),
aumentou 36,53%, de R$ 362,875 milhões para R$ 495,436 milhões.
·
Descontados
valores e operações que não têm efeito direto sobre o
caixa, o Ebtida ajustado avançou de R$ 452,995 milhões para R$ 595,010 milhões,
crescendo 31,35%. A margem líquida (Ebitda sobre receita líquida) elevou-se de
22,83% para 28,76%.
A participação do capital de terceiros
(correspondente à soma dos passivos de curto e de longo prazo) sobre o
patrimônio líquido atingiu 80,91% no ano passado, diante de 77,86% em 2017.