Moradores de áreas de risco de Aparecida de Goiânia vivem com medo da chuva
A reportagem foi até o bairro Tocantins para averiguar a situação dos moradores que estão vivendo em área de risco de desabamento
Igor Caldas*
Em muitos locais, a água que cai do céu é uma benção. Mas, para moradores de áreas de risco, as fortes chuvas que caíram nos últimos dias na Região Metropolitana de Goiânia tem sido uma verdadeira perdição. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, a medição pluviométrica na estação central de Goiânia chegou a 110 mm neste mês de abril. A quantidade de chuva esperada para todo mês é de 130 mm. Isso revela que mais de 90% do volume de água esperada para todo o mês já desabou na Capital.
Moradores do bairro Tocantins em Aparecida de Goiânia estão aterrorizados. Eles temem que suas casas desabem também. Existem famílias ameaçadas também na Rua X-41 do Bairro Jardim Olímpico e na Rua 100 do setor Jardim Miramar.
A reportagem foi até o bairro Tocantins para averiguar a situação dos moradores que estão vivendo em área de risco. Ao lado da rua X-64, uma enorme cratera ameaça ruir as casas das famílias que passam dificuldades em morar em um lugar isolado pelo poder público. A rua não tem nem sinal de asfalto e tem lixo e entulho espalhados por todo lado. Segundo Fernando Honório, de 39 anos, o buraco que se formou no chão a aproximadamente 6 anos não para de aumentar. A cada dia que passa, o barracão de Honório fica mais próximo de desabar. O sono tranquilo já deixou de ser uma realidade para o pedreiro que trabalha como autônomo. Seu rosto cravado com olheiras demonstra sua preocupação cotidiana.
“Essa cratera todo ano aumenta mais. Inclusive, quando chove ela vai abrindo ainda mais. Meu barracão só ta aproximando dela. Meu maior medo é esse”, relata Honório. Ele afirma também que a enxurrada tem causado muitos problemas para quem quer passar pela rua. A X-64 vira um verdadeiro rio de lama sob a chuva forte. “A água desce levando tudo que tem na frente. Esse entulho que está aqui na porta, o pessoal joga lá em cima e a água vem e carrega tudo aqui para baixo de novo. A rua toda vira uma enxurrada e ninguém consegue passar”. Fernando afirma que acha que esse ano a chuva veio mais forte do que no passado.
Quando Honório se mudou para o bairro, a situação era bem diferente. A cratera não existia, mas desde que o buraco se abriu, o problema foi aumentando. Segundo Honório, o diâmetro do buraco cresceu cerca de 30 metros nos últimos seis anos. De acordo com o pedreiro, tudo começou com um vazamento de um cano. “Era uma travessia normal, um acesso normal. Daí, estourou um cano da Saneago e o buraco foi abrindo. Depois eles não arrumaram o vazamento, apenas isolaram o cano e a cratera continuou aumentando”, denuncia Honório.
Para seu vizinho, Antônio Damasceno, o problema não estaria tão latente se tivesse sido resolvido a tempo. “Isso aqui não era para estar assim se o governo tivesse tapado esse buraco quando ele estava pequeno. Nada foi feito e agora a gente está aqui, com medo e correndo risco de vida”, afirma Damasceno. Ele também relata que os moradores tentam tapar o buraco de qualquer jeito, mas o lixo que é usado para isso também se torna um inimigo das famílias, pois atrai mosquitos e ajuda a transmitir doenças. Antônio se sente abandonado pelo poder público que nada tem feito para tirar essas famílias desta situação aterrorizante.
“Os moradores aqui vivem uma péssima realidade. É crítico. O setor aqui é cheio de lixo, por que as pessoas tentam tapar o buraco de qualquer forma. Até a gente aqui em casa mesmo, por questão de doença já passou mal. Eu mesmo estou a sete dias de atestado médico por que não tem ninguém pra olhar pela gente aqui. Estamos numa região que é muito feia”, lamenta Damasceno. Ao ser questionado sobre o perigo das crianças circularem próximas da cratera, Antônio foi categórico. “As crianças, se ficarem presas em casa é igual a um animal dentro do curral ou até mesmo um cachorro acorrentado. Não posso concordar com isso”.
A enxurrada não levou apenas a saúde de Damasceno. Ele relata que perdeu eletrodomésticos com inundações frequentes no seu barracão. “Eu já perdi televisão e geladeira. A enxurrada entrou dentro de casa, alagou tudo e o motor da geladeira queimou. A TV, a chuva forte deu um curto circuito e acabou queimando também”. Antônio reitera que deve tomar muito cuidado com o risco de choque elétrico por causa dos alagamentos. Ele teme pela vida de suas crianças.
Sem asfalto, famílias temem perdas além de bens materiais
O morador de uma área de risco em Aparecida de Goiânia Fernando Honório afirma que se sente abandonado pelo poder público, ele usa como exemplo a promessa de asfaltar a rua que, literalmente morreu. “O único que prometeu asfalto aqui foi um vereador que faleceu, o Meinha. Depois, ninguém falou mais nada. Em época de eleição todos falam a mesma coisa, que o asfalto vai beneficiar a gente, que vai ser muito bom, mas depois eles somem e não fazem mais nada. Aí, fica só na proposta, a cratera vai abrindo e nada acontece”, denuncia Honório. Ele afirma que está com medo, mas que no bairro existem pessoas em situação ainda pior. Ele cobra uma resposta das autoridades.
“Tem uma casa vizinha daqui que está a dois metros do barranco do córrego. As próximas chuvas que vierem é capaz até dela desabar. Os moradores estão com medo. Toda vez que a Defesa Civil vem aqui é só para tirar foto e nada acontece. Só tira foto e vai embora. Estamos assustados. Por que para onde que a gente vai, né? Então a gente aguarda alguma resposta do prefeito para ver o que vai acontecer com a gente”, cobra Honório.
Honório e Damasceno levou a reportagem até a casa do bairro com maior risco de desabamento, próxima ao barranco do córrego que passa no setor. O morador do local, Paulo de Almeida, de 55 anos, indicou que em tempos de chuva o nível da água no quintal da sua casa ultrapassa um metro de altura. Em uma das portas que dá acesso ao interior do barracão, Paulo, que também trabalha como pedreiro, construiu uma barreira de tijolos para impedir a entrada da enxurrada. Ele mora há 11 anos no local.
Diante do barranco, a reportagem averiguou que o córrego está repleto de lixo. Junto com Honório, Almeida revelou que no curso d’água existem três manilhas, mas duas delas estão entupidas por lixo e entulho. Isso faz com que o aumento do nível do córrego ameace ainda mais as casas que foram construídas em suas margens.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Aparecida enviou uma nota resposta para se posicionar sobre a situação das famílias que moram em áreas de risco nos bairros Tocantins, Jardim Olímpico e Jardim Miramar. “Com relação à erosão no Setor Tocantins, a Secretaria de Infraestrutura informa que está finalizando o projeto de recuperação da erosão e assim que finalizado, buscará recursos junto ao governo federal para a realização da obra. Ressalta ainda que enquanto a recuperação total não é realizada, serviços paliativos são realizados para minimizar os problemas aos moradores, assim como o monitoramento constante pelas equipes da Defesa Civil, que registram em fotos e mapas.
Sobre o Jardim Miramar, a Secretaria de Infraestrutura explica que o setor está recebendo as obras de pavimentação desde 2018 e ressalta que as obras precisaram ser paralisadas por conta do período chuvoso e que serão retomadas assim que as chuvas terminarem. Explica ainda que com as obras de asfaltamento do setor, os problemas de erosão serão solucionados. Já com relação ao Jardim Olímpico, a secretaria reforça que tem monitorado a área e também está realizando projeto para recuperação da erosão”, diz a nota da Prefeitura.