Dívida externa de empresas e famílias salta quase 20% e atinge R$ 1,3 trilhão em maio
Nos primeiros cinco meses deste ano, o dólar acumulou elevação de 14,5% ampliando o peso da dívida externa nos balanços das empresas
A
tendência recente de alta do dólar, influenciada pelas incertezas políticas
internas, pelas indicações de um esfriamento na economia global e por
turbulências no mercado internacional relacionadas aos conflitos protagonizados
pelo governo dos Estados Unidos, contribuiu, aqui dentro, para agravar a
exposição de empresas e de parte das famílias a dívidas contraídas em moeda
estrangeira. Nos primeiros cinco meses deste ano, segundo números do Banco
Central (BC), considerando as cotações médias registradas em todo o período, o
dólar acumulou elevação de 14,5% frente a igual intervalo de 2018, ampliando o
peso da dívida externa nos balanços das empresas e no orçamento das famílias (evidentemente,
a estatística do BC nesta área não deve incluira família média brasileira e nem
as mais pobres, abrangendo aquelas poucas com acesso ao mercado internacional e
a opções de operações financeiras atreladas ao câmbio).
Na
série de dados do BC sobre o “crédito ampliado”, a dívida externa elevou sua
participação de 23,42% em maio do ano passado para 24,97% no mesmo mês deste
ano, segunda maior marca para um mês de maio em toda a série histórica do BC,
iniciada em 2013. A fatia do endividamento externo só foi menor do que no mesmo
mês de 2016, no auge da crise provocada pela divulgação das gravações da JBS
contra o então presidente Michel Temer, quando atingiu 25,07% de todo o
“crédito ampliado”. Nessa modalidade estão incluídos, além de empréstimos e
financiamentos concedidos pelo sistema financeiro nacional, a captação de
recursos por meio de colocação (venda) de títulos aqui dentro e lá fora,
lançamento de recebíveis imobiliários e do agronegócio, assim como outras
modalidades de crédito fornecido por fundos governamentais, por exemplo.
Maior exposição
O
saldo da dívida contratada em moeda estrangeira por empresas e pelas famílias
brasileiras atingiu R$ 1,354 trilhão em maio deste ano, valor que inclui
empréstimos e títulos colocados nos mercados internacional e doméstico, mas
corrigidos pela flutuação do dólar (ou de outras moedas estrangeiras). Na
comparação com igual mês do ano passado, quando o endividamento externo
daqueles segmentos havia alcançado R$ 1,129 trilhão, registrou-se um
crescimento de 19,9%, sempreconforme as estatísticas do BC. Na comparação com o
Produto Interno Bruto (PIB) estimado pela mesma instituição, a dívida externa
saiu de menos de 17% em maio do ano passado para 19,4% neste ano, o que se
compara com 19,8% em igual período de 2016. Apenas como referência, em maio de
2013, a dívida externa correspondia a 13,17% do PIB.
Balanço
·
O
crédito ampliado total contratado por empresas e famílias aumentou 12,47% sobre
maio do ano passado, em valores nominais, saindo de R$ 4,821 trilhões para R$
5,422 trilhões. Na comparação com o PIB, a participação subiu de 72,49% para
77,84%.
·
O
estoque de empréstimos e financiamentos concedidos pelo sistema financeiro
nacional aos mesmos segmentos avançou em velocidade bem mais reduzida, variando
5,73% entre maio de 2018 e igual mês deste ano, passando de R$ 2,979 trilhões
para R$ 3,149 trilhões em valores aproximados. O resultado foi uma redução da
participação dessa modalidade no crédito ampliado para pessoas jurídicas e
físicas de 61,78% para 58,08%.
·
O
incremento registrado pela dívida externa foi responsável por 37,4% do aumento
geral experimentado pelo crédito total para empresas e famílias. A segunda
maior contribuição (31,0%) veio dos títulos de dívida (como debêntures e
recebíveis), que saltaram 36,26% (de R$ 514,809 bilhões para R$ 701,497
bilhões).
·
Incluindo
todos os setores da economia, inclusive os governos, e excluindo o setor
financeiro, o saldo do crédito ampliado cresceu 9,0% desde maio do ano passado
e passou a representar 137,6% do PIB em maio deste ano, diante de 132,2% há 12
meses. Em valores nominais, saiu de R$ 8,792 trilhões para R$ 9,583 trilhões.
Proporcionalmente, a dívida externa total
(incluindo o setor público na conta) apresentou maior variação, com alta de
16,2% no período analisado, saltando de R$ 1,803 trilhão para quase R$ 2,095
trilhões. Sua participação no saldo total do crédito ampliado avançou de 20,5%
para 21,86%. Os títulos de dívida cresceram 8,38%, para R$ 3,985 trilhões
(41,58% do total).