Série aborda violência contra a mulher
A série, que está disponível a partir de hoje (2), recebe a atriz Cléo Pires como madrinha, para falar sobre temas como feminicídio
Guilherme Melo
“Queremos agregar um propósito à dramaturgia”, com esse
objetivo nasceu a série ‘Onde está Mariana’, uma produção independente que tem
como a temática central girando em torno do combate ao feminicídio. A série chegou a ganhar a atriz Cleo Pires
como madrinha, que é uma das apoiadoras do projeto e defensora da causa. A
série, de cinco episódios, foi produzida para o Instagram e será veiculada no
IGTV da artista, sendo disponibilizada para todos nesta quarta-feira (2).
Segundo a idealizadora do projeto, a goiana Caroline
Fernandez, o assunto surgiu por meio de uma vontade de trabalhar com o tema e
as redes sociais. “Tudo começou com a ideia minha e da minha prima de produzir
um conteúdo para as mulheres no Instagram. No início não tínhamos o objetivo de
fazer uma série, pensávamos em produzir
um vídeo mais curto. Mas com o passar do tempo, percebemos a dimensão que esse
assunto pode abordar”, revela Caroline, em entrevista ao Essência por telefone.
‘Onde está Mariana’, é a estreia de Caroline, que é atriz,
produtora e gestora cultural, no cinema.
A goiana conta que desenvolveu o projeto em parceria com Diego Timbó,
que é o sócio da Uno Criativo e diretor artístico da plataforma On Demand, e
com a atriz Tamiha. “A Tamiha, que é minha prima, é muito amiga do Diego, e
assim que ele pegou o projeto, já veio com a ideia de produzir uma série para o
IGTV. No início ficamos um pouco receosas, mas depois abraçamos a ideia de
corpo e alma”, conta a atriz.
Depois de estabelecerem um projeto de série, que foi gravada
em cinco dias, Carol explica que o próximo desafio seria arrumar apoiadores
para a série. A goiana comenta que Diego
conseguiu ultrapassar as expectativas, arrumando uma madrinha, como Cléo Pires,
para a empreitada. “Apresentamos a proposta para a Cléo, que imediatamente
abraçou a proposta dada a relevância dessa temática. A atriz sempre foi muito engajada na luta das
mulheres e na opinião dela: ‘mulher precisa ter a liberdade de fazer suas
escolhas’”, diz a produtora.
A série colocar em debate os relacionamentos e a forma como
a sociedade aborda a violência contra a mulher. Caroline Fernandez destaca que
a idéia central foi levantada por que os dados de violência contra a mulher são
alarmantes. De acordo com o levantamento de 2016 do Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Direitos Humanos (ACNUDH), o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de
Feminicídio. O país só perde para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia em
número de casos de assassinato de mulheres.
“Esse tipo de dado é assustador, e devemos falar sobre isso. A melhor
forma de tratar esse temas que achamos, foi por meio das redes sociais, que são
uma das maiores plataformas de informações hoje, no Brasil”, revela.
Atuação
Caroline, além da produção, integra o elenco interpretando
Paula, uma das protagonistas. Na série, a personagem é uma homossexual de
classe média, bem resolvida em suas escolhas, que inicia um relacionamento
afetivo com Mariana, personagem principal da série. “Me preparei muito para interpretar a Paula, primeiro para
conseguir passar uma personagem homossexual. Segundo, porque nunca passei nem
um tipo de violência doméstica ou contra a mulher, ainda bem! Mas tive que
escutar e estudar alguns casos para apresentar uma personagem fiel a realidade
de muitas mulheres”, explica a atriz sobre o seu processo de criação.
Além disso, Caroline reforça a ideia de violência contra a
mulher apresentando um casal homossexual. “Geralmente vemos um casal hetero
quando se fala de violência, mas queríamos apresentar algo diferente. A mulher
sofre violência independente de sua orientação sexual, e ponto. Achamos que
desta maneira, vamos conseguir representar muitas pessoas. Queremos também,
falar sobre a violência contra o público LGBTQI+, já que o Brasil é um dos
países que mais matam esse público. Além dos alarmantes números de violência
doméstica”, comenta a artista.
A protagonista da série, que leva o nome no título, é
interpretada pela MC Rebecca. “A trama gira em torno do sumiço de Mariana, que
é uma bissexual que tinha conflitos com a família e consigo mesma por conta da
sua descoberta sexual”, explica Caroline ao falar que, durante os episódios,
várias situações de abusos e agressões contra a mulher serão discutidos.
Outros nomes como Valesca Popozuda, que interpreta uma
mulher que sofre violência do companheiro. A rapper King, que viverá a irmã da
protagonista. Vilma Melo, que recebeu o Prêmio Shell de Teatro, será a mãe de
Mariana. O roteiro é assinado por Beatriz Rhaddou, Cláudio Simões e colaboração
Matheus Chatack. A filmmaker é Jessica Teleze.
A violência contra a mulher
Em Goiás, o número de feminicídio cresceu 22,58%, em 2018,
de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás. No
período, o número de casos de violência doméstica contra a mulher no Estado,
segundo Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), aumentou em 17%, em
relação ao ano anterior.
Sendo uma produção independente, ‘Onde está Mariana?’ inova a cena nacional cinematográfica graças
a adesão ao perfil de agregar causa à produção cultural. “Nós queremos agregar
um propósito à dramaturgia, fazer um alerta social a assuntos que merecem maior
atenção e necessita de políticas públicas”, explica Caroline ao destacar que a
série só foi viabilizada graças ao perfil empreendedor de toda a equipe. “O
ator de hoje não pode se limitar a interpretar, ele tem de desenvolver ideias,
produzir, atuar e buscar maneiras de viabilizar o projeto. E foi isso que
fizemos”, conta.
Quem é Carol?
Natural de Ceres, Goiás, há 180 quilômetros da capital
Goiânia, Caroline Fernandez tem o teatro na sua vida desde 2002, quando começou
a atuar em peças regionais. Formada em Administração de Empresas, abandonou a
carreira corporativa para se dedicar a sua vocação em 2018, quando mudou-se
para o Rio de Janeiro para investir em formação. Atualmente estuda técnicas embasadas em
ensinamentos de Lee Strasberg, Uta Hagen, Bob Lewis, Meisner e Ivana Chubbuck,
que são referências mundiais em interpretação.
Em 2020, ela gravará seu primeiro longa-metragem.
(Guilherme Melo é
estagiário do jornal O Hoje, sob orientação do editor Lucas de Godoi)