Ocorrência de acidentes com ciclistas pode chegar a 1 por dia em Goiânia
Números comprovam o risco dos ciclistas ao dividir vias com outros veículos no trânsito da Capital – Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
Em média, 25 ciclistas sofrem acidentes de trânsito por mês em Goiânia. Em 2019, foram pelo menos 288 acidentes de trânsito envolvendo ciclistas. Os dados são dos atendimentos do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) registrados como acidentes de bicicleta neste ano e no último. No entanto, os números reais sobre acidentes envolvendo bicicletas são ainda maiores, pois nem sempre as vítimas recebem atendimento hospitalar. Além disso, mais seis ciclistas foram a óbito no HUGO desde 2018.
Um dos casos aconteceu com Rubens Francisco de Jesus. O ciclista morreu no dia 1º deste mês, após ser atropelado por uma caminhonete na Avenida Universitária no último domingo (27). Ele foi recebido no HUGO, em estado gravíssimo, vítima de atropelamento. Rubens permaneceu internado em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), após procedimento cirúrgico de emergência. Apesar do tratamento, o paciente não resistiu e morreu na última segunda-feira (1). De acordo com a Delegacia Especializada em Investigação de Crimes de Trânsito (Dict), Rubens atravessou a via de repente, quando uma Toyota Hilux não conseguiu frear a tempo de impedir a colisão.
Os números mostram que dividir as vias com outros veículos não é fácil para quem anda de bicicleta. Daniel Atássio sofreu um acidente no início deste mês. Ele colidiu com um carro que fez uma conversão irresponsável no cruzamento da Avenida T-55 com a Rua 15 no Setor Bueno. “Eu estava na pista, próximo ao meio-fio, quando um carro que estava na outra pista atravessou a via que eu estava para fazer uma curva. Eu bati no veículo por causa da fechada e fui ao chão. O motorista seguiu em frente e não parou para me dar socorro”.
O acidente de Daniel foi um dos que não foi computado pelos hospitais de Goiânia. “Eu deveria ter ido para o médico, mas não fui. Machuquei a costela porque o guidão da bicicleta bateu na minha costela com o impacto da colisão do veículo na roda. Eu caí no chão e não dava conta de respirar. Tive sorte de não ter sido atropelado por outros carros”, lembra Daniel. Quase trinta dias depois do acidente, ele afirma que a região da costela atingida ainda dói toda vez que ele respira.
Na opinião do ciclista que também é proprietário de uma loja skate em Goiânia, o maior perigo de trafegar de bicicleta no trânsito é a falta de respeito. “Os motoristas de Goiânia não tem o mínimo respeito pelo ciclista. Quem pedala todo dia sabe disso. Ao que parece, eles acham que a bicicleta não faz parte do trânsito. Querem que a gente desapareça da rua. Pensam que a gente ‘atrapalha’ o trânsito”. O empresário usa bicicleta como meio de transporte há mais de 15 anos pelas ruas da Capital.
Daniel afirma que a infraestrutura das vias para bicicletas, como ciclovias, ciclorotas e faixas para bicicletas melhoraram desde que ele começou a usar o veículo como meio de transporte, mas não é suficiente para trazer segurança ao ciclista. “A gente sabe que não tem como colocar ciclovias por toda a cidade. Eu pedalo do Jardim América até o Setor Central e não existe nenhuma ciclovia neste percurso. O motorista deve entender que o trânsito é para todos”.
Goiânia tem quase 100 km de malha Cicloviária
Em dez anos, Goiânia construiu 94,07 km de malha cicloviária, entre ciclovias e ciclofaixas. No entanto, para o participante do grupo de ciclistas Pedal GO Ciclo, Edson de Melo, a infraestrutura das vias para ciclistas é insuficiente e mal planejada. “A malha cicloviária aqui não é suficiente. Elas contemplam poucos parques e não tem ligação entre si. Mesmo as ciclorrotas e ciclofaixas não funcionam porque não são respeitadas pelos carros. Falta fiscalização”.
Falta de manutenção nas ciclovias pode ser fatal. Em junho de 2017, João Henrique de Almeida Pacheco sofreu um acidente na ciclovia da Avenida Universitária após passar por cima de um buraco e cair. O ciclista de 26 anos bateu a cabeça e teve traumatismo craniano. Ele ficou dois meses internado no Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO), passou por duas cirurgias, mas não resistiu aos ferimentos e foi a óbito no dia 22 de setembro do mesmo ano.
Por uma coincidência macabra, Pacheco faleceu no mesmo dia em que é comemorado o Dia Nacional Sem Carro. O buraco só foi tapado após o falecimento do ciclista, dois meses após o acidente. Um ano após o caso, uma Ghost Bike foi instalada na Avenida Universitária, esquina com a rua 233.
A instalação faz parte de um projeto em todo mundo que visa instalar bicicletas brancas em locais onde houveram acidentes fatais com ciclistas. O projeto chama a atenção para a pressa mortífera das grandes cidades que tira a vida de ciclistas todos os dias ao redor do mundo. Também aponta para o descaso do poder público em relação à utilização de transportes alternativos tão necessários à melhoria da mobilidade urbana nas grandes cidades.
Outro problema relatado por Edson é a falta de segurança de pedalar à noite por causa do perigo de furtos e roubos. Ele trabalha como designer gráfico e usa a bicicleta para ir trabalhar. No entanto deixou de usá-la quando vai trabalhar no período noturno porque volta tarde e teme ser assaltado. “Eu fui para outras cidades onde é tranquilo pedalar à noite. Aqui, o risco de ser assaltado é muito grande. Por isso as pessoas preferem usar trilhas”.
Dever de motorista é proteger ciclista
De acordo com o Gerente de Edcuação de Trânsito do Departamento de Trânsito do Estado de Goiás (Detran-GO), o princípio básico do Código Brasileiro de Trânsito (CBT) está na premissa de que o veículo maior deve sempre proteger o menor. “Isso significa que existe uma pirâmide de prioridade em qualquer via de circulação na cidade. Em primeiro lugar, está o pedestre. A prioridade é sempre dele em relação às bicicletas, motos e demais veículos”. Dessa forma, ele explica que o motorista deve conduzir o veículo de forma que garanta a segurança do ciclista na via.
No entanto, ele afirma que quem anda de bicicleta deve sempre estar com equipamentos de proteção como capacete, luvas e sapatos cobertos. Além disso, deve seguir as mesmas leis de trânsito dos demais veículos. Nunca circular na contramão ou nas calçadas. “Quem anda de bicicleta tem que tomar vários cuidados. Inclusive, se for usar a faixa de pedestres para atravessar a rua, deve desmontar da bicicleta. (Especial para O Hoje)