Surto do coronavírus na China afeta produção da indústria e comércio em Goiás
Setores das indústrias, comércio e agricultura estão em alerta e monitoram o mercado para possível falta de insumos| Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
Fábricas fechadas, restrições de viagens e problemas de logística causadas pelo surto do coronavírus na China começam a afetar a indústria e comércio em Goiás com falta de insumos e produtos importados do gigante asiático. Os fornecedores chineses são fundamentais na cadeia produtiva do país. Setores das indústrias, comércio e agricultura estão em alerta e monitoram o mercado para possível falta de insumos. Atacadistas já registram atrasos na entrega de mercadorias.
Cerca de 20% dos insumos que servem como matéria-prima para os produtos que são fabricados nas indústrias nacionais vêm da China. Os defensivos agrícolas e agroquímicos são fabricados no país asiático. A Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG) afirma que ainda não tem previsão de interferências no setor, mas está em alerta e monitora o mercado.
A Tecidos Tita, uma das gigantes do mercado atacadista do setor no Estado importa 90% de sua mercadoria da China. O diretor e sócio-proprietário da empresa, Teodoro Lino explica como o surto da doença afetou os negócios em Goiás. “A fábrica que nos fornece está fechada há 30 dias e os funcionários estão proibidos de sair de casa. Estamos com mercadorias atrasadas e sem previsão de entrega”. Segundo Teodoro, três mil funcionários estão sem trabalhar, somente nesta fábrica.
Mais de 10 milhões de chineses voltaram a trabalhar no último dia 10 após duas semanas do feriado de ano-novo chinês. No entanto, o país ainda sofre com restrições de viagem e toda cadeia logística de correios, navios e voos está comprometida por determinação das autoridades.
O presidente do Conselho Temático de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG), Emílio Bittar, afirma que mesmo que o governo chinês esteja incentivando a volta do trabalho industrial, os efeitos da freada na economia chinesa estão sendo sentidos pelos empresários goianos. Ele também é presidente do Sindicato das Indústrias de Cortumes e Correlatos do Estado de Goiás e possui negócios na China.
Segundo o integrante da FIEG, a condição da logística chinesa sofreu uma crise. “Em uma semana, havia movimentação de 55 mil containers, depois do surto ela chegou a apenas dois mil containers”. Ele afirma que algumas empresas diminuíram o fluxo de navios por determinação dos países de origem ou de empresas avieiras. “A logística está pesando demais em vários segmentos segmento, mas de forma pontual”, conclui.
O reflexo da falta de insumo da indústria de vestimentas e comércio têxtil é consequência deste fato. A maior parte da matéria prima da indústria farmacêutica também é importada da China. Mas, de acordo com Emílio, o setor ainda não foi afetado porque as indústrias de fármacos possuem um grande estoque de segurança. Ele ainda afirma que empresas que dependem de insumos importados do país asiático precisam encontrar algum meio de substituí-los.
Estoques no fim
“Algumas empresas têm estoque pequeno por não conseguirem ficar com muito dinheiro parado em estocagem. Elas precisam de um fornecedor substituto”, indica. Bittar usa como exemplo sua própria empresa, que usa produtos químicos da China para tratar o couro. Ele precisou encontrar novos fornecedores do produto na Turquia e na Rússia.
No entanto, ressalta que algumas empresas não conseguem fornecedores substitutos e correm risco de romper contratos que estabelecem uma quantidade de produtos cuja produção dependa exclusivamente de algum produto vindo do mercado chinês.
Sua indústria também atua na área coureiro calçadista e teve que mudar alguns modelos pela falta de acessórios metálicos importados do gigante asiático. “Não tínhamos fivelas para colocar nos sapatos, então tivemos que inovar e mudar o modelo”. Mas, ele afirma que algumas empresas têm que se comprometer com um determinado modelo de produto em contratos e correm risco de rompê-los se não atenderem a demanda.
Outro aspecto interessante destacado por Emílio foi a questão dos problemas enfrentados de quem faz exportação de produtos para os chineses devido a crise logística que o país enfrenta. “Eu exporto muito couro para o mercado chinês. Desde fevereiro estou tendo problemas porque o produto chega lá e demora a ser retirado dos portos. Isso atrasa os pagamentos e toda uma cadeia produtiva”.
Casos levam a diminuição de produtos nas farmácias
Casos confirmados de infecções por coronavírus no Brasil fizeram com que o cidadão comum corresse às farmácias para adquirir equipamentos de proteção. O presidente do Sindicato do Comercio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado de Goiás (SINCOFARMA-GO), sanitarista e farmacêutico com pós-graduação em prescrição e prevenção, João Aguiar Neto, afirma que os principais produtos preventivos como máscara e álcool em gel já estão faltando no mercado das farmácias de Goiás.
No entanto, explica que produtos como agulhas e luvas que também são amplamente importados do país asiático ainda não começaram a faltar. “São produtos utilizados mais na área de tratamento de doenças, os que estão em falta são os de primeiro acesso da população, que está preocupada”, afirma.
João Aguiar ainda explica que a diminuição da oferta e o elevado aumento da procura pelo álcool em gel e as máscaras preventivas fizeram o preço destes produtos dispararem nas farmácias. De acordo com o presidente do Sincofarma, eles tiveram aumento de preço de aproximadamente 25%.
João ainda explica que a máscara é mais eficaz para impedir a contaminação com vírus de quem já está infectado. “Na verdade, quem estaria infectado usaria a máscara para não espalhar o vírus por meio de gotículas de saliva”. Ele ressalta que o maior índice de proliferação do vírus recai sobre objetos manuseados por pessoas contaminadas, por isso lavar as mãos e não colocar a mão no rosto é tão importante.
Como sanitarista, João ressaltou que o álcool em gel é um minimizador da transmissão do vírus, mas a forma mais eficaz de se proteger ainda deve ser a higienização das mãos. “O álcool em gel deve ser usado apenas quando a pessoa não tiver condições de lavar as mãos porque a água e sabão continua sendo o jeito mais eficaz de se proteger contra o vírus”, garante.
De acordo com o sanitarista, a desinformação sobre o novo coronavírus causa uma corrida desenfreada às farmácias em busca desses produtos. “Falta mais conscientização causas como o crescimento de HIV, acidentes automobilísticos com abuso do álcool matam muito mais”, afirma José Aguiar. Ele destaca que o índice de mortalidade do coronavírus é baixo, quando comparado com o Sarampo que voltou com tudo.
Ele conclui que o alarde exagerado acaba impactando a economia. “Quando o susto do cidadão comum tira esses produtos das prateleiras, eles podem faltar para áreas onde são fundamentais como nos hospitais”. (Especial para O Hoje)