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sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Observatório do Clima

Estudo aponta que retomada econômica passa pela questão ambiental

Trabalho sobre o tema foi apresentado em seminário virtual organizado pelo Instituto ClimaInfo – Observatório do Clima | Foto: Reprodução.

Postado em 3 de setembro de 2020 por Nielton Soares
Estudo aponta que retomada econômica passa pela questão ambiental
Trabalho sobre o tema foi apresentado em seminário virtual organizado pelo Instituto ClimaInfo – Observatório do Clima | Foto: Reprodução.

A retomada econômica do Brasil
passa pela discussão da questão ambiental para permitir que o país seja mais
resiliente diante de crises mundiais, como a atual da Covid-19. Essa foi uma
das mensagens do seminário virtual organizado pelo Instituto ClimaInfo, o
Observatório do Clima e o GT Infraestrutura. Nesta quinta-feira (3), durante o
encontro, foi apresentado o relatório com propostas para uma retomada verde e
inclusiva no país em resposta à crise econômica provocada pela pandemia e pela
crise climática.

O trabalho analisou oito setores
chaves, entre eles, o de energia solar, mobilidade, saneamento e resíduo
sólidos, identificados com oportunidades de, no curto prazo, gerar empregos,
incentivar o crescimento econômico e oferecer mais qualidade de vida à
população.

A intenção do trabalho é colocar
à disposição de autoridades brasileiras estudos, números, formas de trabalho,
estratégias, que deem a visão de um país melhor e mais resiliente e que trata
da natureza.

“Muito do que é oferecido nesse
estudo, nós gostaríamos bastante que fosse encarado pelos candidatos e próximos
representantes nas prefeituras, como caminhos muito interessantes para as
gestões dos municípios e que poderia trazer muito ganhos para a gestão desses
próximos eleitos e para toda da população”, disse o secretário-executivo do
Observatório do Clima, Márcio Astrini.

O ambientalista disse que após a
pandemia o mundo não pode voltar à antiga normalidade ou ao que havia antes em
termos de questões ambientais. “Aquele normal, aquele modus operandi nos trouxe
até aqui, ele nos trouxe a um mundo com uma série de problemas e uma série de
desafios, que vão exigir esforço de todos nós, cidadãos, empresas, líderes
nacionais e internacionais na busca de soluções de novos modelos de
desenvolvimento”, disse.

Para Astrini, o Brasil tem grande
possibilidade, nesse momento, de buscar um novo modelo de desenvolvimento com
ganhos não só do ponto de vista econômico e ecológico, mas, sobretudo, do ponto
de vista social. “O Brasil é um país preparado para isso, um país abençoado com
uma natureza, capacidade, possibilidade, e mais que isso, com uma vocação para
o desenvolvimento de sistemas e de uma economia baseada, principalmente, em
soluções climáticas, investimentos exclusivo, e isso tudo com forte poder de
alavancagem da economia”, disse.

Na visão do ambientalista, esse é
o caminho mais inteligente a seguir. “Ou nós seguimos por esse caminho novo ou
vamos continuar insistindo no modelo poluente de destruição da natureza, de
geração de desigualdades, que têm impacto muito grande no planeta”, observou.

Questão ambiental

Um consenso entre os
participantes do encontro foi o de que se o mundo não começar a tratar de outra
forma a questão ambiental, corre o risco de enfrentar crises globais muito
maiores do que a que está atravessando com a pandemia do novo Coronavírus
(covid-19).

O professor de economia da UFRJ e
coordenador grupo de Economia de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável,
Carlos Eduardo Young, disse que a retomada verde inclusiva deve passar pela
recuperação de demanda efetiva, que não se trata de qualquer recuperação
econômica, mas uma atividade acompanhada da conservação dos recursos naturais.

O professor defende que a geração
de empregos precisa garantir a inclusão social de indivíduos de baixa renda. “A
recuperação econômica vai ser dada pelo investimento, gasto que vai gerar
inclusão social e conservação ambiental. Esta é uma possibilidade que está
sendo implementada de um jeito ou de outro em diversas partes do planeta”,
disse, acrescentando que, no entanto, não ocorrerá de forma espontânea.

“Terá que ser conduzido por
políticas públicas. A economia verde, de baixo carbono, é uma possibilidade que
precisa ser induzida pelo Estado em apoio ao setor privado”, disse.

O professor apontou ainda a reforma
tributária como um bom momento para discutir os impostos que podem ser
incluídos no princípio do poluidor usuário pagador que combine com o protetor
recebedor. “A experiência do ICMS ecológico revela que o setor público responde
a esse incentivo, que é uma premiação do desempenho ambiental”.

O secretário- executivo do GT
Infraestrutura e especialista em políticas públicas, Sérgio Guimarães, disse
que não há como saber até quando vai durar a pandemia, que já causou graves
problemas sociais como o desemprego. “Toda vez que ocorre uma crise como a da
pandemia, ela expõe a abissal diferença social”.

Preocupação

A diretora-executiva do instituto
de pesquisa WRI Brasil, Rachel Biderman, destacou que o Brasil é reconhecido
por ter empresas do setor privado que são preocupadas e investem em programas
ambientais. Segundo Rachel, o Brasil está apto a liderar o desenvolvimento
verde.

Rachel Biderman disse que
cenários factíveis realizados pelo estudo indicam que se o país optar por uma
retomada econômica verde, poderia crescer R$ 2,8 trilhões a mais nos próximos
anos em relação a planos econômicos tradicionais. “Se a gente inserir na
equação algumas premissas de sustentabilidade, se a forma com que a gente passa
a fazer investimentos e passa a regulamentar aspectos da economia, forem no
sentido do baixo carbono, a gente consegue crescer”.

Na questão social, o
diretor-executivo do Instituto ClimaInfo, Délcio Rodrigues, disse que é preciso
incentivar a participação das populações negra e periféricas nas discussões
ambientais internacionais, que, segundo ele, já contam com o envolvimento de
indígenas.

“O movimento indígena ganha muito
com isso, e a gente não consegue ver a mesma coisa no movimento negro e no
periférico. Gostaria de saber o que eles ganhariam e como podemos contribuir
para a ampliação de movimentos sociais que não participam hoje da discussão
climática internacional”, defendeu. (Agência Brasil)

 

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