Emprego cresce puxado por ocupações de baixa qualificação e desemprego não cede
Cerca de 122,2 mil trabalhadores entraram ou retornaram ao mercado no Estado, porém, desemprego continua em níveis elevados – Foto: Reprodução
Lauro Veiga Filho
A
economia goiana criou pouco mais de 112,8 mil vagas entre julho e setembro, num
período em que praticamente 122,2 mil trabalhadores entraram ou retornaram ao
mercado, o que manteve o desemprego ainda em níveis elevados, com a taxa de
desocupação próxima a 13,3% diante de 13,4% em julho. Dois terços dessas novas
ocupações foram preenchidas por trabalhadores de menor qualificação técnica, em
setores de baixa produtividade, o que tende a limitar o avanço da renda e
condicionar o crescimento futuro a atividades de reduzido potencial produtivo. A
movimentação coincide com o período em que foi acelerado o relaxamento das
medidas de distanciamento social e de reabertura dos negócios em Goiás, segundo
a edição mensal da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), mais
conhecida como PNAD Covid-19, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).
O
total de pessoas com algum tipo de ocupação no Estado avançou de 3,015 milhões
em julho para algo acima de 3,127 milhões em setembro, subindo 3,7% nesse
intervalo. Na comparação com maio, quando o IBGE iniciou a edição mais recente
da pesquisa, classificada pelo instituto como experimental e sem a mesma
abrangência da PNAD trimestral, devido à amostra mais reduzida de pessoas
entrevistadas e a periodicidades diferentes, o emprego praticamente não saiu do
lugar, variando apenas 0,5% (o que significou apenas 16,3 mil colocações a
mais).
O
número de desocupados em setembro ficou estagnado em 477,5 mil (pouco menos de
478,0 mil em agosto) e ligeiramente acima dos níveis registrados em julho
(468,2 mil), numa variação de 2,0% (9,4 mil desocupados a mais). Desde maio,
quando a PNAD Covid-19 apontava 448,5 mil desempregados, o número de
desocupados aumentou 6,5% (mais 29,0 mil, em grandes números).
Os
dados da PNAD Covid-19 refletem o que tem ocorrido no mercado de trabalho nos
meses de pandemia e a comparação entre as duas versões da pesquisa não é
exatamente recomendada. Apenas como referência, no trimestre encerrado em
setembro do ano passado, o Estado registrava 3,407 milhões de trabalhadores
ocupados e 414,0 mil desempregados, conforme a PNAD Contínua, que segue periodicidade
trimestral.
Subestimado
Ainda
tomando julho como base, a população com 14 anos ou mais de idade registrou um
acréscimo de 22,4 mil pessoas (proporcionalmente, uma variação de apenas 0,4%)
e outras 99,8 mil decidiram retomar a procura por um emprego, o que trouxe uma
redução de 4,5% para o contingente que havia saído do mercado e abandonado a
busca por vagas seja por conta das medidas de afastamento adotadas para conter
o avanço do Sars-CoV-2, seja por falta de opções. Ainda restam 2,104 milhões de
pessoas fora do mercado, das quais perto de um terço ou 705,0 mil delas (33,5%)
gostariam de trabalhar se tivessem oportunidade. O dado mostra, como tem sido
reforçado neste espaço, que o desemprego continua subestimado pelo
distanciamento relativo das pessoas, ainda que em níveis menos intensos do que
nos meses anteriores, e pela baixa oferta de vagas.
Balanço
·
Uma
forma de estimar essa subestimação consiste em considerar o nível da ocupação
registrado antes da crise com o dado mais atual. O nível de ocupação
corresponde ao número de ocupados comparado com o total de pessoas com 14 anos
ou mais. Em setembro (considerando o trimestre encerrado naquele mês), em torno
de 58,9% daquelas pessoas tinham alguma forma de ocupação, nível reduzido para
menos de 54,8% em setembro deste ano.
·
Para
que a ocupação tivesse se mantido nos mesmos níveis, seria preciso que a
economia tivesse gerado empregos para 235,4 mil trabalhadores a mais, o que
significaria aumentar o total de empregados em praticamente 7,5%. Como não
houve a criação de vagas para todo esse contingente, pode-se assumir que o
número de desocupados seria quase 49,3% mais elevado do que sugerem os números
atuais.
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Mais
claramente, a economia teria registrado perto de 713,0 mil desempregos em
setembro, o que corresponderia a uma taxa de desocupação muito próxima de
19,8%.
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Há
outros dados que devem ser ainda considerados para uma avaliação mais precisa
das estatísticas do mercado de trabalho. Tomando o período entre julho e
setembro deste ano, ainda de acordo com a PNAD Covid-19, dois terços das 112,8
mil novas ocupações criadas no período corresponderam a empregos de
qualificação mais baixa, incluindo trabalhadores na área ade vendas no setor de
serviços e “ocupações elementares”, na classificação do IBGE.
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Somadas,
aquelas duas categorias foram responsáveis por mais de 1,151 milhão de
ocupações, em torno de 36,8% do total de empregos. Em relação a julho, houve
incremento de 6,95%, com abertura de 57,507 mil vagas (o que representa 66,3%
de todas as ocupações criadas no período). São ocupações caracteristicamente de
baixa remuneração e produtividade limitada, pelas características próprias
desse tipo de emprego.
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Em
outro tipo de avaliação, em torno de 62,1% das novas ocupações criadas no
período foram ocupadas por trabalhadores informais, que cresceram de 1,102
milhão para 1,172 milhão, em alta de 6,36% (70,088 mil a mais).
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A
pesquisa mostra ainda que o auxílio emergencial alcançou proporcionalmente mais
domicílios em Goiás do que no restante do País. No Estado, perto de 45,5% dos
domicílios, em setembro, tinham pelo menos uma pessoa que havia recebido o
auxílio, diante de 43,6% na média brasileira. Mas o valor médio per capita do
benefício recebido pelos domicílios goianos foi menor, girando em torno de R$
848 por domicílio, frente a R$ 894 em todo o País.
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Um
ponto de preocupação está na redução do valor do auxílio a partir de setembro.
Naquele mês, ainda foram registrados pagamentos no valor integral (entre R$ 600
e R$ 1,2 mil, a depender do enquadramento de cada beneficiário), mas parte das
famílias favorecidas já começou a receber apenas R$ 300. O valor médio do
auxílio por domicílio recuou 1,3% entre agosto e setembro em Goiás, o que se
compara com uma redução de 1,5% na média do País.