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quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Econômica

Destruição de empregos continua e desemprego aproxima-se de 15,0%

Pesquisa mostra uma tendência persistente de destruição de empregos, queda na massa de rendimentos das famílias de trabalhadores e desemprego histórico – Foto: Reprodução

Postado em 31 de outubro de 2020 por Sheyla Sousa
Destruição de empregos continua e desemprego aproxima-se de 15
Pesquisa mostra uma tendência persistente de destruição de empregos

Lauro Veiga Filho  

A
pandemia parece ter causado um “desalinhamento” geral nas estatísticas do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Os números informados
pelas empresas ao sistema já não parecem refletir o momento atual no mercado de
trabalho, ao sugerir a criação de nada menos do que 697,3 mil empregos formais
entre julho e setembro, resultado de 3,776 milhões de novas contratações e
3,078 milhões de demissões. Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), retratados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNADC), que inclui o mercado informal na equação, mostram uma
tendência persistente de destruição de empregos, queda na massa de rendimentos
das famílias de trabalhadores e desemprego histórico – um cenário que não
guarda a menor relação com aquele desenhado pelo Caged.


pouca proximidade entre aquelas duas bases de dados, mas algumas comparações
mostram que algo não caminha muito bem no Caged, sugerindo, como já anotado
pelo economista Daniel Duque, pesquisador doInstituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV)
na área de mercado de trabalho, a possibilidade de subnotificação de demissões
pelas empresas. Para tornar a comparação menos distante, em julho e agosto, com
2,396 milhões de contratações e 2,012 milhões de desligamentos, o saldo de
empregos formais teria registrado incremento de 383,73 mil pessoas.

Entre
os trimestres terminados em junho e agosto, no entanto, a pesquisa do IBGE
mostra o fechamento de 1,681 milhão de ocupações – e não há indícios de que o
mercado formal tenha se saído muito melhor. Na verdade, a PNADC ainda não
indica qualquer sinal de reação no mercado de trabalho. No trimestre finalizado
em maio, a pesquisa registrava um total de 85,936 milhões de pessoas ocupadas,
o que havia representado uma redução de 8,215 milhões de empregos desde o
trimestre encerrado em janeiro deste ano.

Cortes
sobre cortes

A
edição seguinte da pesquisa, cobrindo o trimestre junho a agosto, apontou
redução do total de ocupados para 81,666 milhões (o nível mais baixo de toda a
série histórica da pesquisa, iniciada em 2012), com encerramento de 4,270
milhões de vagas desde maio (queda de 5,0%). Isso significou o fechamento de
12,485 milhões de empregos a partir do trimestre entre novembro de 2019 e
janeiro de 2020, um tombo de 13,3%. O ritmo de fechamento de empregos parece perder
algum fôlego, mas é importante lembrar que os cortes mais recentes ocorrem
sobre uma base já bastante reduzida, o que torna o cenário mais dramático,
enquanto a atividade econômica mostra-se incapaz de ativar os mecanismos que
poderiam estimular o mercado a retomar as contratações de forma consistente.

Balanço

·  
O
total de ocupados com registro em carteira e contribuição para algum tipo de
instituição previdenciária, numa aproximação da PNADC para o contingente de
trabalhadores formais, somava perto de 54,869 milhões no trimestre entre junho
e agosto de 2019, baixou para 53,639 milhões no trimestre finalizado em maio
deste ano e daí para apenas 50,623 milhões em agosto (igualmente considerando a
média trimestral).

·  
No
período mais curto, ou seja, entre maio e agosto, os cortes atingiram 3,016
milhões de trabalhadores formais (uma redução de 5,6%). Em 12 meses, o tombo
foi de 7,7% e 4,246 milhões de pessoas perderam sua ocupação. Os trabalhadores
informais foram ainda mais afetados, com encerramento de 7,719 milhões de
ocupações entre junho-agosto de 2019 e igual trimestre deste ano, quando o
total de ocupados sem registro e sem direitos trabalhistas baixou para 31,043
milhões (em baixa de 19,9%). O corte de ocupações informais respondeu por 64,5%
do total de empregos perdidos em um ano.

·  
No
curto prazo, a contribuição dos formais tornou-se mais relevante para a “torra”
de empregos. Entre os trimestres março-maio e junho-agosto deste ano, em torno
de 70,6% das ocupações perdidas em toda a economia eram desempenhadas por
trabalhadores formais.

·  
O
dado pode sugerir que o caráter da crise no mercado de trabalho pode estar
mudando, com as empresas passando a descartar trabalhadores formais diante de
perspectiva ainda pouco animadoras para a economia como um todo. Mas trata-se,
aqui, ainda de uma hipótese a ser referendada (ou não) pelas próximas
pesquisas.

·  
Os
economistas Paulo Peruchetti, Tiago Martins e Daniel Duque, todos do Ibre/FGV,
conduziram um trabalho para “mensalizar” as estatísticas trimestrais da PNADC.
Entre outras conclusões, o estudo mostra que o estrago foi praticamente
generalizado em todos os mais importantes setores da economia durante a
pandemia e que a perda de empregos foi muito mais severa do que na recessão de
2015/16.

·  
Além
disso, no acompanhamento mensal construído por eles, a taxa de desemprego,
depois de girar em torno de 12,9% de março até maio deste ano,subiu para 14,8%
em agosto (a PNADC aponta uma taxa já recorde de 14,4% no trimestre
junho-agosto deste ano).

·  
Segundo
a trinca de economistas, o emprego chegou a avançar a taxas de 2,9% em maio de
2019 (comparado a igual período de 2018), mas entrou em desaceleração e chegou
a registar crescimento de 1,8% em fevereiro deste ano, sempre puxado pelo
aumento da informalidade. Dali em diante, as perdas mensais se sucederam, com
quedas de 2,5% em março, de 9,2% em abril, de 10,7% em maio, de 12,1% em junho
e 14,2% em julho. O recuo em agosto ficou em 12,1%.

 

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