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sábado, 23 de novembro de 2024
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Proposta de Tarcísio de Freitas

Senado destrava votação do Marco das Ferrovias

Parlamentares de Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo cobram aplicação de recursos em melhorias de malha viária | Foto: Reprodução

Postado em 15 de março de 2021 por Augusto Sobrinho
Senado destrava votação do Marco das Ferrovias
Parlamentares de Goiás

Samuel Straioto

Um acordo que envolve investimentos em Goiás pode destravar a votação do marco regulatório das ferrovias. O texto aguarda votação desde o ano passado no Senado e pode entrar em pauta nesta semana. O relator do projeto, senador Jean Paul Prates (PT-RN), estuda incluir no seu parecer algum tipo de dispositivo que preveja a destinação de investimentos no corredor Centro-Leste – que sai de Goiás, passa por Minas Gerais e chega no porto de Vitória (ES) – como parte da antecipação da renovação da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica.

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, havia apresentado proposta de levar os recursos da renovação da concessão para outros Estados. A discussão irritou parlamentares das bancadas de Goiás, Espírito Santo e Minas Gerais. Em Goiás, a Ferrovia Centro Atlântica interliga diversos municípios e é oriunda da primeira ferrovia goiana, a Estrada de Ferro Goyaz.  A Centro Atlântica é operada pela empresa VLI, uma subsidiária da Vale. A renovação de contrato da FCA, que termina em 2026, por mais 30 anos, inclui uma troca por obras adicionais. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) prevê investimentos de cerca de R$ 13,8 bilhões.

A VLI, concessionária que administra a via afirmou que a indicação de projetos e aportes a partir da renovação do contrato de concessão é feita com base na metodologia e parâmetros técnicos da agência reguladora e decisão do Ministério da Infraestrutura. A VLI apontou ainda que dos R$ 13,8 bilhões, da renovação, cerca de R$ 4 bilhões serão destinados ao Corredor Centro-Leste para melhorias na malha e renovação de frota. A verba é considerada importante para a manutenção das atividades da mineradora Vale na região.

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (CREA-GO) encaminhou ofício à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e recomenda a não renovação da concessão com a VLI. O documento ressalta que, de acordo com levantamento feito no site da ANTT, o volume de transporte em Goiás continua o mesmo desde 2006. Ou seja, o volume de cargas com origem ou destino em Goiás e Distrito Federal em 2020 é inferior ao de 2006, com exceção do transporte de bauxita com origem em Brasília.  Em relação à ociosidade da ferrovia, a declaração da Rede da FCA para o ano de 2021 não está disponível no site da ANTT. A do ano passado mostra que, no estado de Goiás, a ferrovia está ociosa, com níveis próximos a 90%, mesmo havendo uma grande demanda de cargas a serem transportadas.

Entre os vários tipos de investimentos a serem feitos, o CREA-GO sugeriu a implantação de um terminal de transbordo em Anápolis, servida tanto pela bitola métrica quanto pela larga, para permitir que as cargas possam ser intercambiadas entre as duas ferrovias e alcançar maiores distâncias transportando, por exemplo, os fertilizantes produzidos em Catalão para as regiões produtoras do Norte goiano. É necessária a construção de um terminal em Anápolis para as transferências de cargas entre bitola estreita e bitola larga.

O que é o marco regulatório das ferrovias?

O marco regulatório permite que ferrovias sejam construídas e operadas no regime de autorização, que é mais flexível que as atuais concessões. Ou seja estradas de ferro poderão ser construídas e operadas pelo regime de autorização, inclusive trechos abandonados. Nesse novo regime, ao contrário do atual, não haverá leilões. Basta que as empresas interessadas apresentem projeto para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O objetivo é destravar investimentos privados em ferrovias, que hoje respondem por apenas 15% da matriz de transporte brasileira. A meta do Executivo é chegar a 30% nos próximos dez anos.

Caso o projeto seja aprovado, a empresa poderá construir e operar ferrovias no país por conta e risco. Os bens não serão mais reversíveis à União. A autorização terá prazo de 25 a 99 anos, a ser proposto pelo postulante à concessionária e aceito pela ANTT. Atualmente, a construção e operação de ferrovias é feita pelo regime de concessão. É preciso fazer uma licitação, com estudos de construção e operação de ferrovias sendo feitos pelo governo, aprovados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e editais postos em leilão para interessados. O regime é considerado por alguns especialistas um dos empecilhos ao desenvolvimento do setor.

O poder público também poderá rescindir o contrato das autorizatárias caso constate: negligência, imperícia ou abandono da linha; de transferência irregular da autorização para outra empresa; descumprimento reiterado dos compromissos assumidos, ou até mesmo em razão de excepcional relevância pública. O projeto é de autoria do senador José Serra (PSDB-SP) e tem a relatoria de Jean Paul Prates (PR-RN). O texto está na lista de 16 projetos prioritários do Ministério da Economia para aprovação no Congresso em 2021.

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