A pandemia da desinformação
Confira o artigo de opinião do professor de geografia, Jibran Salem Barbar
O meio técnico-científico-informacional possibilitou uma maior rapidez e maior acesso às informações por parte da população. As novas tecnologias de informação, internet, redes sociais, aumentaram a difusão de informações, sejam notícias, conceitos, termos científicos, entretenimento e até bate-papo.
No entanto, muitas pessoas passaram a se basear em Fakenews para se informar, sem filtro. Muitos trocaram profissionais com anos de experiência por uma pesquisa de 10 minutos no Google, significando inclusive um desmerecimento da ciência e da experiência dos profissionais.
O interessante é que como a pessoa tem a possibilidade de postar, replicar, ela passa a defender aquela postagem como se fosse uma verdade absoluta. E enquanto verdade absoluta, ela não vai tolerar outra visão. Esse é o problema, quando a pessoa não tem mais dúvida. Os meios de comunicação tradicionais perderam espaço para sites que são criadores de informação e se tornaram novos formadores de opinião.
Uma das características da informação pelas redes, é que o discurso, muitas vezes é raso, simples, e desta forma atinge com maior facilidade pessoas sem leitura.
Os meios digitais são instantâneos. Desta forma, o indivíduo não se aprofunda naquela leitura, não oportuniza a reflexão e não a contextualiza. Alguns políticos procuram desacreditar a mídia tradicional, favorecendo as redes digitais como meio para a divulgação de suas “verdades”.
Desta forma, o político mal-intencionado irá se basear em uma mentira procurando estimular o emocional dos seguidores. Diferente da ciência que possui estudos consolidados que demandam anos de pesquisa. A irracionalidade é manipulável, pois apela para o emocional. Já a ciência é racional, baseada em preceitos, metodologia, pesquisa e dados. Muitas pessoas são capturadas por discursos fantasiosos, por narrativas, que muitas vezes não trazem nenhum benefício para a sociedade.
A maioria do cidadão comum não tem leitura dos verdadeiros interesses relacionados aos discursos que incitam a agressividade que tem a finalidade de aglutinar seguidores, pois aquele que apoia um determinado líder de forma emotiva, passa a defender todas as suas decisões, mesmo que prejudiquem a sociedade. Desta forma, ele consegue separar mais ainda a sociedade. Esse discurso é muito utilizado na política, criando um inimigo comum e deixando a sociedade perplexa. Cada vez mais absurdo o discurso ou a medida, é melhor, pois se cria uma cortina de fumaça, que deixa a sociedade ocupada com questões pequenas ao invés de lutar pelos seus verdadeiros direitos.
Por exemplo, pessoas que defendem inferioridade de raças sem base científica, estão apenas projetando seu preconceito, sua intolerância e suas frustações. Afinal, uma população alienada é mais facilmente manipulada, abrindo caminho para qualquer decisão política, mesmo que seja absurda.
Muitos até sabem que determinada opinião é absurda, preconceituosa, mas mesmo assim, se sentem identificados. A impressão é que os incivilizados estão aumentando, mas na verdade estão tendo maior visibilidade. E se tem maior visibilidade passam a sensação para a opinião pública de que estão mais fortes. Bem, se a mentira vencer a verdade, se a barbárie vencer a civilidade, estaremos perdidos. As mentiras e os boatos sempre existiram, é que agora adquiriram proporções enormes e de forma muito rápida. As consequências são várias: destroem reputações, tornam mercados mais instáveis e tornam as pessoas mais inseguras. A alienação é uma pandemia que favorece o vírus da ignorância. Uma sociedade alienada se torna mais vulnerável, mais manipulável e dominada.
Por Jibran Salem Barbar, professor de geografia. Especial para o Hoje