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quinta-feira, 5 de dezembro de 2024
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Preocupação

Como o Cerrado goiano pode virar deserto devido desmatamento descontrolado

Com falta de investimento em defesa do bioma e desmatamento desenfreado, ambientalistas alertam para desertificação

Postado em 9 de outubro de 2021 por Redação
Como o Cerrado goiano pode virar deserto devido desmatamento descontrolado
Com falta de investimento em defesa do bioma e desmatamento desenfreado

Por Yago Sales

Não é de hoje que estudiosos tentam, em vão, alertar gestores públicos de um problema que pode causar grandes consequências à população: a destruição total do Cerrado. Existe até um termo cada vez mais comum: a desertificação. Ou seja, com o desmatamento cada vez mais como regra e políticas públicas para evitá-lo como exceção, é possível que Goiás volte ao período Cretáceo – sem árvores, temperaturas mortais, sem água. Secas prolongadas, tempestades de poeira, calor extremo são ameaças para a sobrevivência do bioma.

Ambientalistas ouvidos pelo jornal O Hoje estão preocupados e apontam causas e consequências da problemática do desmatamento do bioma Cerrado, e, sem dificuldade, assinalam para a desertificação do território. E lamentam, com razão.

O Cerrado é, para quem não sabe, o bioma mais antigo. A savana mais biodiversa do planeta. Quem diz são os desbravadores que respeitam os mistérios das paisagens cada vez mais enterradas por correntões, tratores, fogo, veneno e pasto. É o bioma que com mais rapidez desapareceu dos mapas.

Em uma videochamada ao repórter na tarde de sexta-feira (8), o engenheiro agrônomo Durval Fernandes Motta aponta o celular para a tela do computador, onde se vê o evidente desmatamento: a escarpa do vão do rio Paranã, em São João D’aliança, a 356,2 km de Goiânia. “Era coberto por um Cerrado médio. O pessoal arrancou tudo e foi até a borda do aparado da serra. A infiltração era fundamental para a bacia do Paranã”. Tudo isso para a construção de uma barragem.

Ivan Anjo Diniz entende muito de tudo isso. Ele é coordenador Operacional da Rede Contra Fogo. Um brigadista voluntário. Desses corajosos que, ao enxergar um espirro de fogo, corre para o celular, avisa os amigos e vai para o meio do mato salvar bichos e apagar tudo que possa destruir. É dele também uma interpretação dura: o Cerrado pode acabar caso não haja nenhuma ação concreta e prioritária.

Para Ivan, é preciso lutar. “Sim, contra hidrelétricas e mineradoras em defesa do bioma Cerrado”. Segundo ele, o maior problema do desmatamento é o avanço da monocultura, do agronegócio, uso desenfreado do correntão e do fogo para suprimir a vegetação e abrir novas pastagens e novas áreas de plantio especialmente de soja. “Estes são alguns dramas junto com o aquecimento global, muitos rios secando. Talvez a gente nunca tenha visto uma situação dessas”, explica.

Outra preocupação dele é com a chegada do fenômeno do La Niña ano que vem. “Este fenômeno tende a tornar as ocorrências de fenômenos naturais cada vez mais extremos, mais quente, mais frio, mais vento e mais foto. Muito preocupante”.

Sobre a desertificação, ele diz que evitar isso dependerá salvar o Cerrado com a mudança na forma de produção agrícola. “Tem que valorizar a agroecologia, os pequenos agricultores. Se não fizer isso, dificilmente vamos salvar o Cerrado. Corre-se o risco de o Cerrado deixar de ser savana e virar deserto”.

ENTREVISTA

O jornal O Hoje conversou com Yuri Salmona, diretor-executivo do Instituto Cerrados, para falar sobre a problemática do desmatamento

O que mais preocupa quando se fala em desmatamento do Cerrado hoje?

O desmatamento no Cerrado é tão grave quanto o desmatamento na Amazônia. Essa é uma mensagem que precisa ficar clara. Desmatar o Cerrado significa quebrar e fragilizar o ciclo hidrológico de rios que abastecem grandes porções do País, inclusive a Amazônia (via Rio Xingu), emitir o dobro dos gases do efeito estufa que a indústria, e com isso agravar extremos climáticos. É impactar o habitat de diferentes espécies, como polinizadores e ignorar as oportunidades que a savana mais biodiversa do mundo tem a oferecer.

O que poderia ser feito?

Investir no monitoramento do desmatamento, nas instituições de comando e controle e outros órgãos do sistema nacional de meio ambiente. Reconhecer territórios tradicionais e aprender com suas tradições; estimular e desburocratizar a criação de reservas privadas, estimular o agroextrativismo sustentável, que gera renda, alimentos e produtos com o Cerrado de pé.

E, quais as consequências da falta de políticas públicas para o cenário?

As consequências são observadas todos os dias: ampliação da crise hídrica e energética, insegurança climática e aumento do preço de alimentos, diminuição da credibilidade internacional, proliferação da impunidade ambiental, e o cultivo da ideia retrógrada que desmatar Cerrado é progresso, ao invés de se perceber o valor que ele tem.

E quanto à desertificação?

Um dos efeitos das mudanças climáticas em algumas partes é a ampliação e intensificação da desertificação de áreas áridas, como parte do interior do nordeste brasileiro. O Estado precisa implementar políticas públicas de mitigação desse processo, bem como do desmatamento e uso excessivo de água por parte de agricultura de larga escala.

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