Mourão diz que investigar áudios sobre torturas na ditadura não vai “trazer os caras do túmulo de volta”
Vice-presidente ironiza pedido de abertura de investigação com revelação de áudios do Superior Tribunal Militar (STM) com reconhecimento de crimes praticados contra presos políticos até 1985
Depois da revelação de áudios das sessões do Superior Tribunal Militar (STM) em que ministro da Corte reconhecem os crimes de tortura durante a ditadura militar (1964-1985) no Brasil, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) resolveu ironizar nesta segunda-feira (18/4) os pedidos de investigação do caso. “Apurar o quê? Os caras já morreram tudo, pô. Vai trazer os caras do túmulo de volta?”, declarou aos risos Mourão enquanto chegava ao Palácio do Planalto na manhã de hoje.
O historiador Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revelou parte das gravações à colunista Miriam Leitão, do jornal O Globo. Em sessões do STM, ministros militares e civis comentavam os crimes de tortura realizados pela ditadura em sessões da Corte de 1975 a 1985. Para Mourão, o assunto é coisa do “passado”.
“Isso já passou. É a mesma coisa que a gente voltar para a ditadura do Getúlio. São assuntos já escritos em livros, debatidos. É passado, faz parte da História do país.O vice-presidente já defendeu em diversas oportunidades o golpe militar de 1964 e a ditadura militar que durou os 21 anos seguintes.”
Mourão é general da reserva do Exército, mesma força armada que perdeu na sexta-feira (15/4), aos 97 anos, o general Newton Cruz, responsável por comandar o Serviço Nacional de Informações (SNI) até 1985 e acusado de ser um dos seis responsáveis pela tentativa de atentado a bomba ao Riocentro em 1981.
“Dois lados”
De acordo com Mourão, a história “tem dois lados”. O vice-presidente alegou que o golpe militar travou uma “luta” contra “organizações que queriam implantar a ditadura do proletariado”. “É lógico, você tem que conhecer a história. A história, ela sempre tem dois lados ao ser contada. Então vamos lembrar: aqui houve uma luta, dentro do País, contra o Estado brasileiro, por organizações que queriam implantar a ditadura do proletariado aqui.”
Segundo a interpretação general da reserva, “era um regime que na época atraía, vamos dizer assim, uma quantidade grande da juventude brasileira e também parcela aí da sociedade, mas que perderam essa luta”. “Ah, houve excessos? Houve excesso de parte a parte”, declarou Mourão.
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