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domingo, 22 de dezembro de 2024
Micro e Pequenas Empresas

Empresas da periferia de Goiânia têm dificuldade no acesso ao crédito

Algumas das limitações são não possuir um cadastro sem restrições no mercado e obter limite de créditos

Postado em 23 de maio de 2022 por Sabrina Vilela

Não foi fácil para Maria Paixão Soares da Silva, ter iniciado o seu pit dog na região Sudoeste de Goiânia. Ela começou a empreender no ramo alimentício quando estava  em um momento de várias mudanças na vida para conseguir realizar o sonho. Mas, ela teve a dificuldade da maioria dos empreendedores da periferia: começar do zero sem acesso a crédito. De acordo com o Sebrae Goiás, pesquisas realizadas recentemente, com dados de 2016 a 2021, foi constatado que houve um aumento significativo no acesso ao crédito, tanto para pessoa física quanto para jurídica. 

A atual microempreendedora, Maria Paixão juntou coragem e saiu do trabalho como funcionária pública de educadora popular. “Decidi fazer algo diferente da área que estava atuando, mas que pudesse atender a minha necessidade de fazer algo que eu gostasse e pudesse sobreviver por meio do mesmo. Nesse sentido busquei parceiros que me ajudaram a concretizar essa ideia, sempre gostei da área de alimentação e decidi ter meu próprio Pit dog, busquei o Sindicato na pessoa do amigo Ademildo”. Ela relembra também que pessoas como o seu Josias, Waltinho, Anivaldo e Leandro a ajudaram abrindo portas para que pudesse atuar na área. 

Além da falta de acesso ao crédito para abrir a empresa, ela teve que lidar com as adversidades da região que ela abriu o comércio. “Era uma área pública que estava abandonada, o lugar era considerado ponto de droga. Empreender neste local a noite, enfrentando a questão da segurança e o desafio de transformar este ambiente onde as pessoas pudessem desfrutar de um bom x-salada, em um local acolhedor de forma agradável e segura com suas famílias, foi uma das maiores dificuldades”. 

Maria enfrentou também a questão burocrática e documentação para abrir o estabelecimento ainda com receio e pouca informação, mas mesmo diante de incertezas de que daria certo ela conseguiu perseverar em prol do sonho que atualmente se concretizou com o marido e mais três colaboradores. “Não tivemos acesso a crédito, afinal a burocracia para esse tipo de crédito é muita para o pequeno empreendedor, infelizmente. Mas, eu fiz empréstimo pessoal para poder abrir e manter por um período”, relata. 

A questão financeira foi desafiadora para a Maria Paixão, assim como para a maioria dos goianos que desejam empreender, contudo isso não a desanimou. “Minha gestão financeira foi desafiadora e ainda é, no início fazíamos tudo manualmente com o Livro Caixa. Depois fomos melhorando com programa e após consultoria, oficinas e curso no Sebrae mudamos totalmente, foi uma porta que nos foi aberta com possibilidades e ajuda mesmo, e hoje estamos mais organizados ajustando a realidade pós pandemia que nos fez mudar em tudo”, conta positiva.

Após os obstáculos vividos desde que tudo começou em 2016, Maria tem muita coisa para se orgulhar com relação a sua trajetória. Uma conquista recente foi a sua hamburgueria ter ganhado no mês de abril o Festival Burger Time. Além disso, ela conseguiu “fazer do espaço onde está hoje um local de melhor e maior convivência com a comunidade, na questão da segurança tem parceria com o programa vizinhança solidária da polícia militar, uma parceria com a guarda municipal importante também, conseguem hoje se manter mesmo pós período de pandemia com uma clientela fiel”.

Kimberly investiu suas próprias economias para conseguir abrir a loja online mesmo durante a pandemia | Foto: Pedro Pinheiro

Investimento de dinheiro pessoal 

A microempreendedora, Kimberly Flório Sacho, 35, mora na região Norte de Goiânia e tem uma loja online de jóias. Ela teve que investir nas próprias economias para conseguir abrir a empresa e para economizar ela usou a tecnologia a seu favor e abriu a loja online mesmo durante a pandemia. 

“No início éramos eu e minha irmã mais nova,Raiane. A ideia foi dela e o foco era trabalhar de forma online mas que também tivéssemos um tempo pra dedicar pra família. Mas logo que começamos a pandemia se intensificou”. Se vendo sem escolha, Kimberly mergulhou no universo digital para conseguir se manter. 

“Tem mais ou menos um mês que trabalho sozinha e meu modelo de negócio é o MEI [Micro Empreendedor Individual]. Hoje tem uma ajudante Freelance que me ajuda com fotos e Marketing Digital. A minha intenção é manter ela, mas como o modelo de negócio MEI me permitiu ter um funcionário carteira assinada, a minha intenção é ter uma vendedora trabalhando comigo registrada”.

Há cerca de dois meses a empreendedora foi em busca de auxílio para estruturar o seu negócio. “Eu procurei o Sebrae Goiás e todo mês as vendas vêm crescendo, mas eu me sentia muito perdida apesar de cheia de ideias. Lá eles pegaram na minha mão e meu negócio agora tá ganhando uma cara de Negócio de Sucesso”. 

Para começar, ela optou por usar uma pequena quantia de dinheiro próprio para comprar mercadorias e foi reinvestindo o lucro. Mas, por meio do Sebrae ela teve acesso a linhas de crédito com juros baixos para MEI e agora ela pensa em contratar futuramente para capital de giro.

“Tem sido incrível ver as vendas aumentarem. Meu crescimento tem sido orgânico, ou seja, as vendas são resultado de um bom trabalho do início ao fim. As oficinas e consultorias do Sebrae têm sido incríveis porque com elas eu estou aprendendo a administrar de verdade o meu negócio. O E-Comerce da Magnólia Semijoias é a minha próxima meta”, finaliza. 

Já no caso do barbeiro,Watson Carlos dos Santos,34, tem uma empresa na região Oeste da capital. O sangue do empreendedor corre nas veias visto que ele veio de uma família de comerciantes. Ele queria abrir um negócio,mas tinha pouco dinheiro na época e isso exigia recurso financeiro.

“Eu e minha esposa, namorada na época, acreditamos que seria possível já que ela já era da área. Minha maior dificuldade foi ter credibilidade com os clientes visto que eu não era da área e não existiam redes sociais”. Watson teve seu negócio divulgado de “boca a boca” mesmo e outro obstáculo era a falta de qualificação profissional. “Sempre acreditamos no nosso negócio,mas arriscamos de acordo com nossos próprios recursos financeiros”, afirma .

Mas, ele derrubou as objeções e atualmente emprega mais de 20 pessoas e já está na construção da sua segunda barbearia, mas agora em Trindade. “Fazemos o básico bem feito.Nossa prioridade na hora de pagar as contas e sempre pagar nossa equipe primeiro”. Watson não viu necessidade de se arriscar no crédito para conseguir abrir a sua barbearia, mas não descarta essa possibilidade no futuro a fim de expandir ainda mais o seu negócio. 

Gestão financeira dos pequenos negócios 

Watson atualmente emprega mais de 20 pessoas e já está na sua segunda barbearia. | Foto: Arquivo Pessoal

Um dos grandes gargalos das micro e pequenas empresas é o seu controle financeiro e gerencial, muitas empresas não têm uma gestão financeira adequada às suas necessidades segundo o analista do Sebrae Goiás, Rodson Marden. Para ele a gestão financeira em qualquer empresa, independente do seu porte, deve ser feito com planejamento e organização em conformidade com suas atividades e necessidades: Suas contas têm que fechar, separar contas pessoais das contas da empresa, fazer Gestão de Custos, evitando gastos desnecessários e ter controles eficientes como software de gestão e planilhas.

Segundo pesquisas do IBGE, as MPEs são responsáveis por 60% dos quase 100 milhões de empregos no país, possibilitando que muitos empreendedores deixem a informalidade, passando os negócios formais a ser maior do que o quantitativo de negócios informais no país. “Dessa forma é incontestável a importância e relevância dos empreendedores e empresários das Micro e pequenas empresas para alavancar e manter o desenvolvimento local, nas periferias e em todo o país”, conta o especialista.

Nas últimas três décadas, as micro e pequenas empresas (MPE) vêm desempenhando um papel cada vez mais estratégico na economia brasileira, e hoje já respondem por 30% do valor adicionado ao Produto Interno Bruto (PIB) do país conforme destaca o

 Sebrae Goiás. 

“As maiores dificuldades que as empresas encontram para ter acesso a créditos são:possuir um cadastro sem restrições no mercado, ter e manter um bom relacionamento com a instituição financeira, disponibilizar informações confiáveis, oferecer as garantias exigidas pelas instituições financeiras e obter limite de créditos.

O cenário do crédito no Brasil e em Goiás não é uma das melhores. “Apesar desses avanços, o mercado segue altamente concentrado, com 80% do crédito para a pessoa física retido nos cinco principais bancos do país, com esse índice caiu para 63% quando se olha para o financiamento concedido às empresas, isso torna o Brasil um dos países com maior centralização no sistema bancário em todo o mundo”.

Segundo Rodson Marden esse dado é preocupante, pois quanto menos instituições disponibilizando créditos, o empresário fica refém das regras e condições desses bancos e sem outras opções. “Outro dado preocupante dessa pesquisa aponta para os níveis recordes de endividamento das famílias, referem-se às operações de crédito em atraso há mais de 90 dias e às operações nas quais existem indícios de que a respectiva obrigação não será integralmente honrada. Isso prejudica e inviabiliza o acesso a novas linhas de créditos por parte das empresas”.

Nas últimas três décadas, as micro e pequenas empresas (MPE) vêm desempenhando um papel cada vez mais estratégico na economia brasileira, e hoje já respondem por 30% do valor adicionado ao PIB do país.

Empréstimos para a manutenção das empresas no cenário de pandemia podem ajudar, mas se o empresário não tiver organização pode atrapalhar. “Antes de tudo é preciso analisar se de fato o grande problema da empresa é o acesso a novas linhas de crédito, pois caso a empresa esteja com sua gestão financeira desorganizada e sem controle, o acesso a mais crédito ao invés de ajudar vai aumentar o problema, podendo levar ao seu fechamento e o fim das suas atividades”, explica o analista.

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