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terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Opinião

A Volta da Confiança na Economia Brasileira

IBGE anunciou que o PIB sofreu um aumento de 1% no primeiro trimestre, abandonando os economistas

Postado em 27 de junho de 2022 por Redação

Ricardo Caldas

Os números surpreenderam até os mais céticos. Mas aconteceu. O IBGE anunciou que o PIB sofreu um aumento de 1% no primeiro trimestre, abandonando os economistas mais pessimistas que previam uma recessão em 2022 ou um crescimento máximo de apenas 0,28% ao ano, na melhor das hipóteses, segundo o primeiro Boletim Focus do ano de 2022 (07/01/2022). Os indicadores não justificavam tamanho pessimismo do mercado, mas o mercado preferiu dobrar a aposta e pagar para ver.

Os dados do Caged, que comprovam a geração de emprego mês a mês, insistiam em desmentir a tese dos pessimistas: mais de 150 mil empregos gerados em janeiro de 2022, 333 mil gerados em fevereiro, 88 mil gerados em março e quase 197 mil gerados em abril, perfazendo um total de cerca de 770 mil empregados gerados apenas no ano de 2022.

Ora, esse montante de 770 mil novos empregos gerados em apenas quatro meses (janeiro a abril de 2022) corresponde a uma média de quase 200 mil empregos por mês (192,5 mil mensais, para ser exato), muito próxima da média mensal de 2021, quando foram gerados 2,7 milhões de empregos no ano, com uma média mensal de 225 mil novas vagas de emprego abertas. Se em 2021 foram gerados 2,7 milhões de vagas no ano como um todo, com uma média mensal de 225 mil por mês e a economia cresceu 4,6%, em 2022, ao gerar quase 200 mil novas vagas por mês, o crescimento do PIB não poderia ser de apenas 0,28% (ou entrar em recessão), como os analistas financeiros e de investimentos do setor financeiro acreditavam.

Algo estava errado. A geração de empregos não confirmava o pessimismo reinante entre os analistas de mercado. Estes, baseados apenas nos números apresentados da inflação, que eram altos: IPCA de 0,54% em janeiro, 1,01% em fevereiro, 1,62% em março e 1,06% em abril, apenas nos primeiros quatro meses do ano, e 12,13% em doze meses, a mais alta em quase 20 anos desde 2003.

Muitos economistas julgaram, ingenuamente, que o governo federal colocaria o combate à inflação acima do crescimento do PIB e da geração de empregos em um ano eleitoral. No Brasil, eleições prevalecem sobre o combate à inflação desde 1982, quando Delfim Neto buscava combater a inflação no meio de um processo de descompressão política durante o governo Figueiredo (1979/1985).

A sabedoria política diz que a inflação se combate no ano anterior ou subsequente ao da eleição e não durante as eleições. O ano de 2022 não seria diferente. No entanto, apesar das evidências, muitos economistas não se convenciam – ou não queriam se deixar convencer – pelo fato de 2022 não ter as características de um ano recessivo, apesar de alguns sinais poderem dar essa impressão, tais como a elevada e não controlada (ou resistente) inflação, já mencionada, e a alta e crescente taxa de juros estipulada pelas autoridades monetárias, aproximando-se rapidamente da casa dos 13% ao ano (12,75%).

A queda no total de requerimentos de seguro desemprego de 674.632 em março para 567.224 em abril (redução de 15,9% em um único mês) e o lento, porém crescente, estoque mensal de empregos formais de 40,7 milhões em dezembro de 2021 para 40,8 milhões em janeiro, 41,1 milhões em fevereiro, 41,2 milhões em março e 41,4 milhões em abril deveriam ter indicado que um movimento importante estava ocorrendo na economia.

Outro sinal ignorado foi a queda constante da taxa de desemprego, medida pela Pnad, de 14,8% em abril de 2021 para 10,5% em abril de 2022. O fato é que os números do PIB do primeiro trimestre de 2022 (+1%), quando comparados com o quarto trimestre de 2021, obrigaram a grande maioria dos economistas e das instituições financeiras a rever suas estimativas quanto ao crescimento econômico esperado para o PIB brasileiro em 2022. Cabe lembrar que o resultado do primeiro trimestre de 2022 vem num crescendo após dois resultados anteriores também de crescimento econômico no terceiro e no quarto trimestres de 2021.

Dessa forma, o PIB brasileiro está situado 1,6% acima do período pré-pandemia (quatro trimestre de 2019) e próximo ao nível mais elevado da atividade econômica do País, ocorrida no primeiro trimestre de 2014. O IBGE nota que o crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2022 foi puxado pelo setor de serviços, pelo segmento de comércio, pela indústria e pela construção civil. É importante destacar que o consumo das famílias, responsável por mais de 60% do PIB, continua crescendo uma média de 0,7% por trimestre desde o terceiro trimestre de 2021.

Onde está a recessão então? Em virtude de todos esses fatores, os economistas do setor privado (analistas de investimento, analistas financeiros e assessores financeiros de grandes instituições) foram obrigados a rever suas estimativas para o crescimento da economia brasileira para 2022. Dessa forma, segundo a última atualização do Boletim Focus feita pelo Banco Central, as estimativas para o PIB cresceram de 0,28% em 7 de janeiro de 2022 (com viés de baixa) e para 1,20% em 2022 em 6 de junho de 2022. Com essa forte guinada nas expectativas do mercado para 2022, o lema pode ser: “Adeus pessimismo, que  venha 2022”. Portanto, a confiança do mercado na economia brasileira está de volta.

Ricardo Caldas é economista e cientista político com PhD em Relações Internacionais

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