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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Bioma brasileiro

Desmatamento no Cerrado atingiu mais de meio milhão de hectares

Área afetada no país foi de 16.557 km² e o crime ambiental tem sido observado em todos os biomas brasileiros

Postado em 19 de julho de 2022 por Maria Paula Borges

O desmatamento no Brasil chegou a crescer 20% na cobertura vegetal nativa em 2021, se comparado a 2020. A área afetada foi de 16.557 km² e o crime ambiental tem sido observado em todos os biomas brasileiros. Avaliações apontam que, somente no ano passado, foram perdidos 189 hectares de vegetação brasileira por dia, correspondente a, aproximadamente, um estádio de futebol a cada dois minutos. As informações são do Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas.

Os estudos do MapBiomas estão divididos em uma série, sendo esse o terceiro, que analisa os alertas de desmatamento detectados em todos os biomas presentes em território brasileiro. Os dados são coletados a partir da validação, refinamento e geração de laudos para alerta de desmatamento ao ano.

Segundo o levantamento, diante da tendência do alto desmate, nos últimos três anos o Brasil perdeu quase o correspondente a um Estado do Rio de Janeiro de vegetação nativa. Além disso, a velocidade média de desmatamento também aumentou, passando de 0,16 hectares/dia em 2020, para 0,18 hectares/dia no ano passado. Proporcionalmente, em números inteiros, em 2021, a área de desmatamento por dia foi de 4.536 hectares. Somente na Amazônia, 111,6 hectares foram desmatados por hora.

O estudo validou ainda 69.796 alertas de desmatamento no ano passado em todo o Brasil, além de avaliar individualmente cada evento de desmatamento cruzando com dados de áreas protegidas, autorizações e Cadastro Ambiental Rural (CAR), encontrando indícios de irregularidades em mais de 98% dos casos.

Legislação é efetiva, mas cumprimento da lei falha

De acordo com a pesquisadora do Laboratório de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), Lana Mara, uma área é considerada de alerta quando tem supressão vegetal, ou seja, quando a vegetação do local é retirada. “Pode ser por desmatamento direto que é aquele que vai lá e retira a vegetação, ou pode ser também causado por queimadas. Então, a gente costuma falar que supressão da vegetação é quando a vegetação é retirada do seu local nativo”, explica.

Conforme avalia o levantamento, os alertas de desmatamento que cruzam com imóveis rurais cadastrados no CAR, correspondem a 77% da área total desmatada, significando que, em pelo menos 3/4 dos desmatamentos, pode-se encontrar um responsável. Segundo Lana, pelo MapBiomas Alertas é possível verificar onde o desmatamento se encontra e o que pode estar o causando, sendo possível controlar.

“Se a gente sabe o que está causando esse desmatamento, tem que ter política de prevenção, tem que explicar o motivo. O que está causando? É questão econômica? Então vamos trabalhar com políticas relacionadas a economia, a incentivo. Isso varia por regiões. Então, a política de incentivo neste caso é junto com um incentivo econômico também”, afirma a pesquisadora.

Entretanto, Lana explica que, apesar de a legislação brasileira ser boa, o crime ambiental não tem potencial ofensivo. “Ninguém chega a ser preso, por exemplo, por conta de um crime ambiental. Então nós precisamos de mudança, de políticas robustas que levem em consideração também a participação da sociedade, recursos financeiros, isso tudo dos órgãos ambientais”.

A terceira e mais recente edição do estudo tem a identificação dos vetores de pressão do desmatamento – agropecuária, garimpo, mineração, expansão urbana, e outros -, que apresentou números que mostram a prevalência e estabilidade no nível de pressão da agropecuária nos últimos três anos, em que o serviço foi responsável por mais de 97% de áreas desmatadas.

Levando em consideração os números de hectares, em todo o território nacional, as áreas desmatadas com menos de 25 há representam 82,8% do total de alertas, com 22,8% da área desmatada. Com mais de 100 ha, as áreas de alerta representam 4,4%, mas 51,7% do total desmatado, havendo aumento de 37,8% entre 2020 e 2021.

Cerrado foi o segundo bioma mais destruído em 2021

A Amazônia foi definida no estudo como sendo a “grande frente de supressão da vegetação nativa do Brasil”, concentrando 59% da área desmatada e 66,8% dos alertas de desmatamento em 2021, com mais de 977 mil hectares nativos destruídos. Em seguida, o Cerrado também lidera o ranking, com pouco mais de 30% da área, com mais de meio milhão de hectares desmatados, e logo depois vem a Caatinga, com mais de 7%. Representando 30.155 hectares.

Na Mata Atlântica, que já possui menos de 29% da sua cobertura florestal, foram observados 1,8% de área de alerta, com 30.155 hectares desmatados. No Pampa, apesar de responder pela menor área de alertas com apenas 0,1% do total, a área desmatada quase dobrou, com 92,1%. Já no Pantanal, foi apresentado um aumento de 50,5% em alertas e 15,7% na área desmatada.

De acordo com o estudo, “juntos, Amazônia e Cerrado representaram 89,2% da área desmatada detectada em 2021” e, se somada a Caatinga, “os três biomas responderam por 96,2% das perdas”.

Ainda sobre o Cerrado, embora tenha participação de apenas 9,9% no número total de alertas, a área desmatada corresponde a aproximadamente 30,2% do total. No Cerrado, na Caatinga, no Pampa e no Pantanal, o predomínio é de formações não florestais, como por exemplo detecção de desmatamento em vegetação nativa não florestal ainda deficiente.

Os picos de desmatamento aconteceram: em maio, no Cerrado; na segunda semana de julho, na Amazônia; em agosto, na Mata Atlântica e no Pantanal; e em outubro, no Pampa. 

Fogo controlado previne incêndios

Embora possa parecer uma ideia controversa usar o fogo para prevenir queimadas, estudos e práticas têm demonstrado a importância do método para reduzir os riscos de grande incêndios, especialmente no cerrado. “O fogo é utilizado para consumo de combustível seco, combustível morto, vegetação morta, principalmente capim seco – que faz a propagação de grandes incêndios.

O trabalho consiste em prescrever a utilização do fogo nessas áreas para a eliminação do combustível morto”, explica João Morita, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO).Quando se trata de queima de locais com biodiversidade uma das preocupações é os animais que estão em seus habitats naturais e que acabam morrendo por causa de incêndios de longa escala. Para que a fauna não seja prejudica a queima prescrita permite que eles fujam antes que o fogo se alastre.

“Primeiro é feito um planejamento que leva em consideração o histórico e os locais de ocorrência dos incêndios. É feita uma análise também sobre vegetação sensível à passagem do fogo porque nem toda vegetação suporta a passagem decorrente de fogo. O planejamento leva em conta também a melhor época do ano, que é no início ou no final das estações chuvosas”, explica. 

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