Cartas do povoado das Terras de Frei Gil ao povo de Goiânia e Goiás
Trechos tão macios, tão fortes e contundentes como as Cartas Chilenas, não são um oferecimento
Fernanda Santos
Diretamente de um tempo muito distante, lá das terras de Frei Gil, nasceu um menino. Um menino que, como nos contos de Júlio Verne, deu a volta ao mundo em várias e várias milhas submarinas. E que gravita hoje no solo lunar, com total coligação com os astros, estrelas, cometas e galáxias da mesma espécie e grandeza deste menino…
Desde então, o menino que por muito pouco presenciou em loco os horrores da Guerrilha do Araguaia, possivelmente pela fresta de um barraco de taipas, que em alguns de seus capítulos se passaram nas terras de Frei Gil, ele cresceu e desbravou o mundo, ainda menino já aguçou a sua curiosidade no mundo bancário, e na juventude se aventurou, assim como Sherlock Holmes, a desvendar coisas, pessoas e situações obscuras, aquelas que ficam nas sombras, assim como Carmen San Diego no meio da neblina.
E o mesmo menino de pele morena fez morada e estadia nas terras de Goyazes, Caiapós, Carajás… Povos estes que se avizinhavam nas margens do Rio Araguaia, que é a praia dos goianos, e no Rio Tocantins, que traz vida onde a morte quer se fazer de enxerida, em suas entranhas… E por aqui nestas terras goianas fez ecoar a voz da liberdade. Ser a voz daqueles que privados de falar, de viver e de sentir, clamavam e clamam por justiça, paz e liberdade.
Mãos pequenas, habilidosas. Já teceram e redigiram juízos de valor que impactaram o mundo. Que arrebentaram as correntes da prisão do corpo e da mente. Além de tecer e sovar pães, o dono destas mãos pequenas é feitor de diversos quitutes apetitosos, conhecedor do Reino dos Seres Vivos, das artes de Baco, da música e da noite. Quase um Fantasma da Ópera que povoa a curiosidade de tanta gente…
E estes trechos tão macios, tão fortes e contundentes como as Cartas Chilenas, não são um oferecimento. Não são um réquiem, ou um mero agradecimento, ou um massageador de ego por primazia. Nada mais é do que a verdade. É o pronto reconhecimento da luta e militância deste menino chamado Manoel Leonilson Bezerra Rocha contra o arbítrio, a mentira e a injustiça por excelência.
Diferente de muitos nestas terras goianas, de Frei Gil e brasileiras. As honras se chegam ao seu destinatário, em vida e por duas vezes (fora as vezes que eu não me lembro de tal feito)! Os olhos curiosos, castanhos, ágeis e miúdos contemplarão neste pequeno rabisco, que não é diferente de vários outros, que a sua luta não foi em vão. E que despertou a curiosidade de tanta gente…
Desde as épocas remotas da atuação em caráter de estágio na Defensoria Pública do Estado do Pará, ali nascia o tribuno sereno e elegante, eloquente e estudioso, que fez do Júri a sua segunda casa. Que num bate e volta pelo Velho Continente aprendeu muitas outras coisas, que provou de muitos outros sabores e saberes. Que pode aprender tudo o que sabe com Osvaldo Serrão e Américo Leal, mesmo somente de ouvir falar, mesmo que contemplando a distância, poder afiar as suas armas até chegar na potência que é hoje, e que é tão saudado pelos magistrados pelo País afora…
Que em terras goianas teve o privilégio de ser praticamente o único que teve todos os seus manuscritos veiculados em todos os veículos de imprensa deste Estado! Gênio, louco ou a réplica de Carlos Lacerda? Calmo e comedido como Joaquim Nabuco ou revolucionário como José do Patrocínio e Luiz Gama? Ou boca maldita como Gil Vicente? Isto somente a esteira do tempo irá dizer um dia. Pois ele já conquistou a sua imortalidade, a sua obra e seus grandes êxitos já se firmaram na esteira do tempo…
Pai e filho presente, que nem o Coronga conseguiu sucumbir, parar, conter, frear ou deter este fenômeno da natureza que brada como um raio quando se faz necessário, como um clarão que se rasga e se ilumina no meio da escuridão. Que, como Dom Quixote, enfrentou diversas e cansativas batalhas. Mas diferente do arquétipo da obra de Miguel de Cervantes, muitas batalhas ele venceu.
E que somente está colhendo a vistosa promessa de seu grandioso plantio, contemplando em vida a admiração e o respeito de seus pares, por tudo o quanto construiu durante mais de 20 anos de carreira jurídica atuante, envolvente, instigante, surpreendente, e de suas Campanhas Jornalísticas, fluentes e plenas, assim como nos discursos e manuscritos cortantes, encontrados nas Antologias de Rui Barbosa…
Mago e alquimista, na melhor acepção do termo, que pelas madrugadas a fio com olhos atentos, curiosos, sagazes, e dono de mãos pequenas e habilidosas, que preparam filigranas que emocionam e surpreendem toda a gente. E que no dia 4 de agosto de 2022 recebem como prêmio o privilégio de ser conhecido e reconhecido como um cidadão goianiense como qualquer um de nós.
Fernanda Santos é articulista e bacharela em direito, especialmente para o jornal O Hoje