Agricultura e Pecuária sofrem prejuízos com qualidade da energia
Propriedades ficam sem energia e produção muitas vezes é inutilizada
Passam-se os anos e os problemas recorrentes da falta de energia elétrica permanecem. Há tempos o início do período chuvoso em Goiás é sinônimo de sistemáticas interrupções no sistema de energia elétrica para a zona rural do estado. Agora não tem tempo chuvoso ou seco: o problema se tornou constante e não tem tempo, nem hora.
Somente no último fim de semana (8 e 9 de outubro) pelo menos 15 propriedades rurais nos municípios de Iporá, Jandaia, Morro Alto e São Luiz dos Montes Belos foram atingidas e ficaram mais de 10 horas sem luz. A situação está atrapalhando a realização de atividades e causando prejuízos a todos os agricultores e pecuaristas do estado.
Por causa da oscilação, os moradores não sabem quando poderão retomar as atividades e pedem que providências sejam tomadas para resolver o problema. “Eu penso que essa intervenção dos deputados que apoiam o agronegócio do estado, “, afirmou um agricultor da região do Morro Alto que preferiu não ser identificado.
Além dos transtornos dentro de casa, a queda de energia atrapalha a produção rural, como o momento de dar água aos animais. Um morador que vive da produção de leite e queijos disse que nos últimos dias não está conseguindo trabalhar por conta das interrupções.
“A energia é insumo básico para a produção agropecuária. Sem ela, todo o trabalho que o produtor de leite vem fazendo para produzir um produto de qualidade, no intuito de fornecer um produto com segurança alimentar para toda a sociedade, fica perdido”, desabafou o pecuarista André Campos.
Atendimento emergencial
De acordo com o presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Leite da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg), Vinícius Correia, o Estado de Goiás é um Estado com bases econômicas fincadas no setor agropecuário, e com a venda da distribuidora de energia do estado, o órgão vai ficar de olho e cobrar medidas de atendimento emergencial.
“A manutenção da rede elétrica não foi feita de forma adequada na época da seca, o que causa vários problemas, dentre eles a falta de energia. Resolver as questões de infraestrutura e logística é sinônimo de desenvolvimento da rede elétrica, o que pode garantir mais tranquilidade aos agricultores e pecuaristas que dependem disso para dar continuidade a seu trabalho”, aponta Correia.
Ficou tudo parado durante três dias, porque sem energia não tem como a gente bombear água, produzir a ração dos animais aqui do confinamento, e os freezers com carne e de refrigeração do leite, tudo perde, e como sempre ficamos sem nenhuma devolução da Enel.
Leite desperdiçado
Com o estoque de leite represado, devido à queda de energia, o produtor rural Miguel dos Santos é um dos fornecedores da Associação de Produtores de Leite de Jandaia, e afirma que depois de tantas quedas de energia, comprou um gerador para conseguir armazenar o leite. “Quando o laticínio fica sem energia, nós também somos afetados. No fim de semana tínhamos 840 litros armazenados, esperando a luz voltar para eu fazer a entrega pros caminhos da indústria que buscam aqui’, explicou.
Segundo os moradores da zona rural do município, a queda de energia não tem sido só em áreas rurais que utilizam o fornecimento trifásico, que fornecem em média potência de até 75KW (75000W), mas também tem afetado unidades consumidoras que demandam baixa tensão em média, no máximo 8KW (8000W), conhecido como monofásico.
É o caso do produtor rural Lázaro Lobo. No dia 09 de outubro, Lázaro conta que a região ficou das 6h às 20h sem energia e foram feitas diversas solicitações à Enel, mas quando a luz retornou, o estrago já tinha sido feito. “Aqui na fazenda a gente faz a ordenha e entrega na Associação dos Produtores de Leite de São Luiz dos Montes Belos. Só que como a energia demorou voltar, os mais de 150 litros de leite que estavam sendo refrigerados para fazer o transporte não seguia mais os padrões exigidos, e acabei tendo esse prejuízo e desperdício.”
Lobo complementa que o problema é recorrente. “Sempre acontece, e eles nunca tomam uma atitude. A gente faz a reclamação e a energia não chega. Falam que a reclamação não existia”, alega.
Sempre os principais afetados são os produtores de leite, que perdem duas vezes: pelos prejuízos oriundos da perda do leite e do aumento dos custos de produção em virtude da aquisição e manutenção de geradores de energia. “São centenas de milhares de litros de leite jogados fora todos os anos. Isso quando os prejuízos não aumentam em função de queima de equipamentos, ou por problemas com os animais pela não ordenha dos mesmos”, completa o presidente da Faeg.
“Realmente estamos em apagão energético, e teremos que agir com rapidez sobre. Imagino que esses meses não serão fáceis, a ENEL foi vendida a EQUATORIAL e essa transição demora no mínimo 1 ano”, finalizou Miguel dos Santos.
Enel diz trabalhar na manutenção
Por meio de nota, a Enel Distribuição Goiás diz que trabalha em planos de manutenção focado em obras e ações exclusivas para a rede elétrica da zona rural do Estado. “O Plano Rural é um dos principais investimentos da companhia neste ano e as ações dão continuidade ao projeto iniciado no ano passado e que segue em parceria com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa)”, diz.
A companhia esclarece que reforçou o trabalho nas podas de árvores e galhos em contato com a rede, foram mais de 100 mil no Estado, com foco de diminuir as incidências de toque ou queda de vegetação sobre a rede, que é um dos principais motivos que levam à falta de energia.
A companhia também segue investindo na instalação de equipamentos tecnológicos na rede. Neste ano, já foram instalados mais de 400 trip savers, o que corresponde a mais de 70% do planejado para o ano. Com essa tecnologia instalada, não é preciso enviar uma equipe apenas para bater a chave e restabelecer a energia. Os equipamentos conseguem em segundos religar, automaticamente, em caso de falhas transitórias, ou seja, quando não há dano estrutural.
Telecontrole na zona rural
Para as redes trifásicas, que são comuns na zona rural, a empresa segue trabalhando com o projeto de telecontrole. A Enel já instalou mais de 150 equipamentos telecontrolados na zona rural, entre religadores automáticos e chaves telecomandadas. Esses aparelhos são comandados remotamente pelo Centro de Operações, que fica em Goiânia, e permitem rápidas recomposições da rede elétrica em casos de falhas onde não há dano estrutural. Além disso, eles permitem a localização dos possíveis pontos de defeitos quando há estruturas danificadas, agilizando o trabalho das equipes de campo.
Entre as ações do Plano Rural, também está em funcionamento um sistema de monitoramento que identifica os clientes rurais que mais sofreram com reincidência, ou seja, onde a energia cai com mais frequência. Esses clientes são priorizados tanto no atendimento emergencial quanto na realização de ações preventivas de manutenção, poda, limpeza de faixa e correção de defeitos, a fim de garantir maior estabilidade no fornecimento. Com esse monitoramento, a companhia identificou que cerca de 45% das ocorrências foram iniciadas devido a árvores ou galhos que encostavam na rede elétrica.
A Enel também está focada no atendimento personalizado ao produtor rural. Entre as ações realizadas especificamente para este público está a criação de espaço do Produtor Rural no site www.enel.com.br, concentrando os serviços disponíveis; intensificação das visitas e ações de relacionamento com sindicatos rurais; WhatsApp para o produtor rural, por meio do número (62) 99513-7530, que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, e é feito totalmente por atendentes humanos; parceria com a Federação da Agricultura para inclusão da opção de notificação de falta de energia no aplicativo Apporteira – www.apporteira.com.br -, disponível gratuitamente para Android e IOS; tablets foram disponibilizados em sindicatos rurais de cidades com potencial agropecuário para facilitar o acesso dos produtores aos canais de atendimento da companhia, além do canal para registrar falta de energia via SMS, enviando uma mensagem de texto para o número 27949.
Sobre as regiões de Jandaia e Orizona, a companhia destaca que as fortes chuvas dos últimos dias danificaram a rede elétrica com a queda de grandes árvores sobre a rede, além de outros objetos que foram lançados com a força do vento. A empresa destaca, ainda, que identificou mais de 100 mil raios no Estado, a força dessas chuvas e o aumento da incidência de raios causam severos danos à rede elétrica. Com objetivo de garantir maior eficiência no atendimento e rapidez na resposta às ocorrências, a Enel segue reforçando o seu trabalho estratégico de monitorar as regiões com maior risco de temporais e danos à rede elétrica.