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terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Uso do solo

Recuperação de pastagens degradadas custariam R$ 383 bi

A receita proveniente da recuperação seria de R$36,77 bilhões, gerando assim um excedente de R$15,60 bilhões

Postado em 21 de outubro de 2022 por Redação

Vinícius Marques

Um estudo desenvolvido pelo Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV) revela que 18,94% do território brasileiro é composto por áreas de pastagens. Isso corresponde a aproximadamente 160 milhões de hectares. Deste total, 52% apresentam algum nível de degradação (cerca de 89 milhões de hectares), sobretudo, na Amazônia e no Cerrado.

Para recuperar e reformar todas as áreas de pastagem que apresentam algum nível de degradação seriam necessários, aproximadamente, R$ 383,77 bilhões. Entretanto, a implementação de tecnologias de recuperação de pastagens degradadas teria o potencial de gerar receitas mais do que suficientes para compensar esses custos.

Segundo a Embrapa (2022), no Brasil cerca de 95% da carne bovina é produzida em regime de pastagens, o que confere maior competitividade, reduzindo os custos produtivos e, ao mesmo tempo, gera um diferencial qualitativo à carne brasileira. Apesar das vantagens associadas à produção à pasto, muitos trabalhos destacam que o crescimento da produção deveu-se, em grande parte, à expansão das áreas de pastagens sobre a vegetação nativa. 

Cerrado

O Cerrado tem hoje a segunda maior área de pastagem entre os biomas do país em termos proporcionais, o bioma mais ocupado por pastagens cultivadas é a Mata Atlântica, com 25,7%, seguido por Cerrado (23,7%), Caatinga (23,1%), Pantanal (16%) e Amazônia (13,4%). 

Por sua vez, os estados brasileiros que concentram maiores áreas de pastagens são Pará (cerca de 21,5 milhões de hectares), Mato Grosso (cerca de 21 milhões de hectares) e Minas Gerais (cerca de 19,3 milhões de hectares).

O Cerrado é o único bioma que alcança as cinco regiões brasileiras, embora concentre-se, principalmente, no Centro-Oeste. É conhecido como savana brasileira.

Os custos mais expressivos são verificados para os biomas Amazônia e Cerrado. Adicionalmente aos custos elevados associados à promoção da recuperação, esses biomas são aqueles que concentram as maiores áreas de pastagens com algum grau de degradação (aproximadamente 51 Mha). Sendo assim, o custo médio para a recuperação de todas as áreas do cerrado com algum tipo de degradação (moderada, média ou severa), seria de aproximadamente R$ 108,64 Bilhões.

Crescimento das áreas de pastagens

O levantamento mostra que o principal uso dado ao solo brasileiro é a pastagem, sendo que no período entre 1985 e 2020, essas áreas cresceram 200% na Amazônia (38 milhões de hectares), embora neste mesmo período a quantidade de pastagens em estágio severo de degradação tenha se reduzido pela metade no País.

Diante da importância que as áreas de pastagem exercem na atividade pecuária brasileira, diversos trabalhos têm sido dedicados a analisar as suas características, a sua distribuição pelo território nacional e as dinâmicas associadas ao seu estabelecimento. Nesse contexto, os resultados obtidos evidenciam que apesar de reunir condições propícias como terrenos, solos e clima para boa formação de pastagens, a produção brasileira ainda é predominantemente extensiva, o que tende a comprometer a eficiência produtiva e econômica desses sistemas, levando a menor produtividade e lucratividade. 

O desenvolvimento da atividade tendo como base um regime extensivo, no longo prazo, tende a ser responsável por impactos ambientais negativos, dentre os quais sobressaem-se o aumento dos processos de degradação das áreas de pastagens e das emissões de gases de efeito estufa.

Áreas

Além de apresentarem a maior área de pastagem, os biomas Amazônia e Cerrado também foram aqueles onde houveram uma maior velocidade na expansão da pastagem, considerando o período de 1985 a 2020. No caso específico do bioma amazônico, essa expansão foi de 200% no período supracitado. Considerando a qualidade das pastagens, em 2020, 50% das áreas destinadas à pastagens em ambos os biomas encontravam-se degradadas ou em degradação.

Entre as regiões brasileiras, a Região Sudeste é aquela que apresenta os menores custos de implementação de tecnologias de recuperação e reforma de pastagens degradadas. Essa particularidade está fortemente relacionada ao fato de, aproximadamente, 60% das áreas de pastagens degradadas da região estarem localizadas no bioma Mata Atlântica, onde os preços dos fertilizantes e corretivos são relativamente menores.

Recuperação das áreas

O estudo aponta ainda que caso o Brasil implementar as metas definidas no Acordo de Paris de recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030, com o objetivo de reduzir as emissões líquidas totais de gases de efeito estufa, seria necessário investir, aproximadamente, R$21,17 bilhões e os custos maiores estariam nos estados de São Paulo, Pernambuco e Ceará. No cenário atual, a receita proveniente da recuperação seria de R$36,77 bilhões, gerando assim um excedente de R$15,60 bilhões. Considerando um cenário menos otimista, a receita seria de R$21,75 bilhões, significativamente inferior àquela obtida no cenário atual, mas ainda assim haveria retorno positivo com a adoção de tecnologias de recuperação de R$581,25 milhões.

Acordo de paris

Os custos contabilizados contribuem com uma primeira projeção dos investimentos necessários para a implementação de tecnologias de recuperação de pastagens degradadas no Brasil, tendo em vista as metas brasileiras definidas no Acordo de Paris. No âmbito do Acordo, assinado em 2015, o país estabeleceu entre as suas contribuições nacionalmente determinadas (do inglês, Nationally Determined Contributions – NDC) a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030, com o objetivo de reduzir as emissões líquidas totais de gases de efeito estufa. 

Recentemente, o governo brasileiro lançou a iniciativa Plano ABC+ com a finalidade de reafirmar e atualizar os compromissos do país em reduzir as emissões de carbono na agricultura e pecuária para o período de 2020 a 2030. 

O Plano é previsto para ser iniciado em setembro de 2022 e entre as várias propostas elencadas, tem como objetivo recuperar 30 milhões de hectares de pastagens degradadas, ou seja, a contribuição inicial será dobrada.

Sob a pressuposição de que o governo brasileiro irá priorizar o alcance dos objetivos tendo como fundamento apenas os custos médios associados à implementação da tecnologia de recuperação de pastagens

Apresentando os custos médios totais, por estado, da recuperação e reforma de 15 milhões de hectares de pastagens no Brasil. Os valores estimados desconsideram os custos de manutenção e são projeções do quanto o País investiria no período atual, caso os 15 Milhões de Hectares de pastagens fossem reabilitadas sob a perspectiva de menor custo possível, o governo brasileiro teria que investir, aproximadamente, R$21,17 bilhões. (Especial para O Hoje)

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