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terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Imposto

Governadores observam taxação do agro, que pode desaguar em outros estados

Nos bastidores, informação é que Goiás tem sido encarado como “termômetro” para governadores que não descartam seguir pelo mesmo caminho de Ronaldo Caiado

Postado em 15 de novembro de 2022 por Felipe Cardoso

Nos bastidores do alto escalão da política goiana o comentário é que governadores de todo o Brasil estão com os olhos voltados para Goiás. O estado passou a ser visto como “termômetro” para os demais gestores depois que o governador Ronaldo Caiado (UB) optou por buscar equilíbrio nas finanças por meio do setor produtivo. 

Conforme mostrado pelo O HOJE, Caiado enviou à Assembleia Legislativa de Goiás um projeto de lei que cria o Fundo de Investimento em Infraestrutura (Fundeinfra). O objetivo é compensar as perdas na arrecadação oriundas do reajuste do ICMS. Para isso, a proposta do governo passa pela taxação do agronegócio, que, por sua vez, enxerga a matéria com desconfiança. 

A investida contra o setor, claro, trouxe forte reação. A leitura é que governadores, especialmente de segundo mandato, analisam replicar a iniciativa em seus respectivos estados. Porém, aguardam as cenas dos próximos capítulos e avaliam a iniciativa “vale o desgaste” com a categoria. 

“Já pensou se essa moda pega? Quem não cria, copia. Principalmente aqueles que não tem que se preocupar com a reeleição e que buscam, de igual forma, uma nova fonte de receita para os cofres do estado”, avaliou uma das fontes consultadas pelo O HOJE quando questionada sobre o olhar atento dos demais gestores. 

Na última sexta-feira, vale lembrar, o movimento Agro pela Democracia encabeçado por grandes lideranças do setor divulgou uma nota à imprensa para demonstrar sua “preocupação” em relação ao projeto de lei. O documento frisa que a iniciativa onera o setor agropecuário. 

Os dirigentes argumentam que a matéria traz em seu bojo, sob o manto de uma alegada facultatividade, uma condição que basicamente obriga o produtor rural a aderir compulsoriamente ao modelo que o Governo de Goiás quer instituir, “sob pena de perder benefícios fiscais que desoneram o setor” e de não poder usufruir de regimes especiais que privilegiam o seu fluxo de caixa.

“Na Argentina há um consenso de que os direitos de exportação – as “retenciones” – tiveram importante parcela de culpa na deterioração ao longo dos últimos vinte anos do ambiente de negócios, impactando negativamente não só a agropecuária, com a perda de mercados e a redução significativa de investimentos no setor, mas toda a economia daquele país”, argumenta. 

Em outro trecho do documento, o movimento Agro pela Democracia diz entender que a defesa do setor rural deve ser despida de vieses ideológicos e acredita que, se assim não for feito, a atenção continuará a ser desviada de temas importantes, como, por exemplo, o do potencial boicote de empresas de países importadores às exportações de parte da produção de grãos do Cerrado. 

“Por acreditar na força do diálogo e no poder da representação institucional, o movimento jamais fechará as portas para o estabelecimento de canais de comunicação com as autoridades governamentais competentes, sempre que os temas envolverem os interesses do setor rural”, acrescentou.

E continuou: “as centenas de milhares de produtores rurais que se dedicam à agricultura familiar – em quase cem mil estabelecimentos agropecuários – e toda uma cadeia que gira em torno da agricultura comercial e de outras atividades ligadas ao setor rural, com toda a certeza anseiam por uma representação institucional alicerçada nos mais altos valores democráticos e que ajude a colocar o estado na vanguarda do agronegócio responsável no Brasil, mediante práticas ambientais sustentáveis, mais investimento em ciência, tecnologia, inovação e maior rastreabilidade e conectividade no campo”.

Do agro para o agro 

Em entrevista recente, o governador justificou que os recursos arrecadados com a nova contribuição do setor agropecuário vão retornar imediatamente aos produtores rurais, em forma de investimentos em manutenção e pavimentação de novas rodovias, garantindo melhores condições de escoamento da produção e maior competitividade ao setor. Caiado falou sobre o projeto, que está em tramitação na Assembleia Legislativa, ao programa Hora H do Agro, e Jovem Pan News.

 “É algo que está sendo, em um primeiro momento, recebido como contribuição e imediatamente será transferido para o setor em rodovias, pontes, viadutos, aquilo que é necessário nessa área. Agora, não querer contribuir para ele mesmo? Não contribuir para ter rodovia asfaltada na porta dele, para ter ponte onde ele possa atravessar? O dinheiro sai do agro e volta para o agro em forma de rodovia”, disse o governador. 

“Em 2019, quando peguei o estado em crise fiscal, para aprovar o RRF (Regime de Recuperação Fiscal) exigiram de nós que tributássemos em 14,25% o aposentado que recebia salário. Essa foi a condição para que Goiás deixasse de pagar R$ 3 bilhões (de dívida) por ano para o governo federal e passasse a pagar R$ 480 milhões. Durante todos esses anos, eu venho segurando essa conta. Será que nesse momento em que enfrentamos mais uma crise, uma queda de R$ 5 bilhões na arrecadação do Estado, na única hora em que o setor foi solicitado, uma contribuição que não vai passar de 1,65% é motivo para tanta inquietude?”, questionou. 

Entenda

O governador Ronaldo Caiado enviou para apreciação dos deputados, na manhã da última quinta-feira (10/11) um projeto de lei que cria uma espécie de “contribuição agropecuária” em Goiás. Na prática, o texto acarretará na taxação de produtos ligados ao setor. O dinheiro arrecadado será destinado a um fundo de investimento em infraestrutura. O assunto que já movimentava os corredores da Alego na noite de quarta, foi potencializado a partir da chegada formal da matéria ao Parlamento. 

O texto foi protocolado na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) a partir do sinal verde do líder do governo, deputado Bruno Peixoto (UB). Imediatamente deputados de oposição se levantaram contra o texto e anunciaram para a próxima quarta-feira (16/11) um “tratoraço” nas intermediações do Legislativo. Diversas lideranças do setor já confirmaram participação no movimento que pode se estender até o Palácio Pedro Ludovico Teixeira, sede do poder administrativo goiano. 

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