Rogério Cruz precisa de Policarpo e vice-versa
Se o presidente perder a cadeira, a ideia do intitulado “grupo do Policarpo” é manter um aliado no comando da Casa
Um clima sonso marcou o último encontro da semana na Câmara Municipal de Goiânia. Ainda que a reunião tenha contado com discussões mornas e poucos parlamentares em plenário — tanto que foi encerrada por falta de quórum — nos corredores, porém, o ritmo era de articulação intensa.
O assunto não poderia ser outro: a possibilidade de queda do vereador e presidente da Casa, Romário Policarpo (Patriota). Um grupo, ainda nanico, tem se mobilizado intensamente imbuído da certeza de que a ação que tramita na justiça vai prosperar e, consequentemente, afastar Policarpo do cargo.
“A chance é real por um simples motivo: tem jurisprudência. Outros casos semelhantes Brasil afora já foram julgados e a Justiça entendeu que a ação era devida. Ou seja, ao meu ver, os dias estão mesmo contados”, disse um vereador, em off.
Cochichos sobre o assunto eram facilmente percebidos no decorrer do encontro de ontem. O próprio presidente participou de algumas conversas enquanto a sessão se arrastava. Com o encerramento da reunião, as articulações continuaram pelos corredores e gabinetes.
O fato é que nenhum dos dois grupos — de um lado estão os que apoiam Policarpo, do outro os que querem ocupar o possível vácuo deixado por ele — sabem os rumos do processo. Contudo, articulam antecipadamente.
Se o presidente perder a cadeira, a ideia do intitulado “grupo do Policarpo” é manter um aliado no comando da Casa. Isso porque o comentário, nos bastidores, é que o grupo adversário busca a cadeira de olho, na verdade, na prefeitura de Goiânia.
O prefeito Rogério Cruz (Republicanos), vale lembrar, foi eleito na vice de Maguito Vilela (MDB). Uma vez no poder, o primeiro na linha sucessória torna-se o presidente da Câmara. Um novo sucessor que não seja minimamente simpatizante do prefeito representa, claro, uma ameaça. Sem contar que dificulta imensamente a aprovação de matérias de interesse do gestor, que corre contra o relógio, de olho em 2024, para cair no gosto da população goianiense.
Não é atoa, dizem interlocutores, que a Procuradoria Geral do Município (PGM) decidiu se manifestar na arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF). Em outras palavras, o processo que coloca em risco a reeleição de Policarpo.
A PGM, vale destacar, não foi citada na ação, ou seja, se posicionou de maneira voluntária. O documento foi protocolado junto ao Supremo Tribunal Federal que avalia a queixa. Em resumo, a PGM defendeu que as decisões contrárias à reeleição devem ser aplicadas apenas à Câmara dos Deputados e ao Senado. Acrescentou, depois, que os municípios devem gozar de autonomia suficiente para definir suas próprias regras locais.
Em off, muitos avaliam, inclusive, que, por interesses mútuos, a cisão entre os Poderes foi minimizada nos últimos dias. De um lado estaria o presidente em busca de apoio do Executivo para se manter no posto, do outro, o prefeito, que deseja se ver livre das ameaças e precisa, mais do que nunca, apaziguar o clima na Câmara. E Policarpo pode ajudar nisso. Também por isso o prefeito emprestou a cadeira ao companheiro nos últimos dias. A leitura é que a investida representa um aceno ao presidente e aliados.