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terça-feira, 10 de dezembro de 2024
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Luzes no céu

A noite em que o espaço aéreo brasileiro foi invadido por 21 óvnis

Os objetos foram vistos em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás

Postado em 14 de fevereiro de 2023 por admin
A noite em que o espaço aéreo brasileiro foi invadido por 21 óvnis
A noite em que o espaço aéreo brasileiro foi invadido por 21 óvnis | Foto: iStock/ M-Production

No dia 19 de maio de 1986, Sérgio Mota da Silva chegou para trabalhar no Aeroporto Internacional Professor Urbano Ernesto Stumpf, em São José dos Campos (SP). O que o controlador de tráfego aéreo não imaginava, é que aquele plantão entraria para a história da ufologia como “A Noite Oficial dos Óvnis”.

Na noite daquela segunda-feira, 21 objetos voadores não identificados, alguns com até 100 metros de diâmetro, foram vistos por dezenas de testemunhas, sendo elas civis e militares, em quatro estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás. Só no interior de São Paulo, foram registrados avistamentos nas cidades em Caçapava, Taubaté e Mogi das Cruzes.

Em Guaratinguetá (SP), o avistamento foi coletivo, como contou o ufólogo e presidente do Grupo Ufológico do Guarujá (GUG), Edison Boaventura Junior, para a BBC News Brasil.

“Por volta das 20h, cerca de dois mil militares, entre cadetes e oficiais, da Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAR), testemunharam o fenômeno, a olho nu ou de binóculo”, relata.

E não parou por aí. Os óvnis, sigla utilizada para se referir a “objetos voadores não identificados”, foram detectados por radares do Centro Integrado de Defesa Aérea e de Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta). O que, em outras palavras, significam que tais objetos eram sólidos.

Cinco caças da Força Aérea Brasileira (FAB) foram acionados pelo Centro de Operações da Defesa Aérea (CODA) para interceptar os supostos invasores.

De acordo com os pilotos, os pontos multicoloridos conseguiam pairar estáticos no céu, além de voar em zigue-zague, fazer curva em ângulo reto, mudar de cor, trajetória e altitude. Os objetos também conseguiam atingir uma velocidade de até 15 vezes à do som.

“O número de objetos avistados naquela noite foi bem maior do que 21”, acredita o controlador de tráfego aéreo Sérgio da Silva Mota.

“Às vezes, os pilotos tinham contato visual dos alvos, mas os radares não registravam nada. Outras, os radares até captavam a presença de objetos, mas os pilotos não conseguiam avistá-los. A Aeronáutica considerou apenas os avistamentos que tiveram confirmação simultânea. Os demais foram descartados”, conta ele.

Foto: Acervo Edison Boaventura Júnior

Os contatos imediatos

Em São José dos Campos (SP), a “Noite Oficial dos Óvnis”, teve início por volta das 20h, quando o sargento Sérgio Mota da Silva começou a gerenciar a decolagem do voo 703, da extinta empresa aérea Rio Sul, com destino ao Rio de Janeiro (RJ). Foi neste momento que Sérgio avistou uma luz estranha, parecida com um farol, parada no céu.

Intrigado, Sérgio Mota ligou para a torre do Aeroporto Internacional de Guarulhos para checar se alguma aeronave seguia em direção a São José dos Campos. E a resposta que recebeu foi negativa.

Enquanto os dois conversavam, a brilhante luz desapareceu e, pouco tempo depois, voltou a aparecer. Mas agora, com um brilho muito mais intenso. Sérgio pegou um binóculo para observar melhor. Como recorda, o objeto era cintilante e multicolorido.

O sargento foi reduzindo a intensidade das luzes da pista de pouso e decolagem do aeroporto. Com isso, os artefatos foram se aproximando. Quando ele aumentou o brilho, eles se afastaram.

Pânico a bordo

Foram avistadas, pelo menos, três aeronaves naquela noite. A primeira foi em Bandeirante, da TAM, que estava fazendo a rota Londrina (PR) São Paulo (SP).

O piloto informou o Centro de Controle de Área de Brasília (ACC-BS) que um artefato havia se aproximado dele, em uma possível rota de colisão.

A segunda, da Transbrasil, avistou um UFO (sigla em inglês para objeto voador não identificado – unidentified flying object) sobre a região de Araxá, no interior de Minas. O voo seguia de Guarulhos (SP) para Brasília (DF).

Já a terceira e última aparição foi um avião bimotor Xingu, prefixo PT-MBZ, que estava voltando de Brasília com destino a São José dos Campos (SP). A bordo estavam o coronel Ozires Silva, que estava voltando de uma reunião com o então presidente da república, José Sarney, e o copiloto, Alcir Pereira da Silva.

Às 21h04, Sérgio fez contato com o piloto do bimotor, perguntando se ele havia avistado “algo esquisito no ar”. Através do radar, o controlador tinha detectado três UFOs São José dos Campos.

Quando ele avisou que tentaria uma manobra de aproximação do alvo, que foi descrito como um “ponto luminoso” e “bem enorme”, Ozire ouviu de Alcir, que estava visivelmente apavorado: “Todo mundo que tenta perseguir um negócio desses acaba desaparecendo, sabia?”

E para alívio do copiloto, dessa vez, quem desapareceu, foi a misteriosa luz. Ela sumiu assim que o piloto começou a manobrar a aeronave.

No dia seguinte, Ozires Silva tomou posse como o novo presidente da Petrobras. Durante a coletiva de imprensa, nenhum jornalista lembrou de perguntar sobre o petróleo. Todos os presentes só queria saber sobre os discos voadores.

“A Noite Oficial dos Óvnis é um dos mais importantes casos da ufologia mundial. É o caso com o maior número de testemunhas em todo o planeta”, explica o ufólogo Jackson Luiz Camargo, autor de A Noite Oficial dos UFOs no Brasil (2021).

“Não definiria o que aconteceu como invasão. Em nenhum momento, houve qualquer comportamento hostil por parte das inteligências que operavam aqueles aparelhos”, disse ele.

Foto: Adenir Britto/ Acervo pessoal

Lá fora está a verdade

Naquela noite, quem também estava de plantão era o repórter fotográfico Adenir Britto. Por volta das 21h, ele atendeu uma ligação na redação do extinto Vale Paraibano.

“Tem um disco voador sobre o jornal”, disse uma voz masculina. O fotográfo acreditou que fosse um trote, banhado pela curiosidade, ele e a repórter Lara de Carvalho resolveram investigar.

Já no pátio do jornal, os dois avistaram luzes multicoloridas, que se movimentavam por todas as direções. Com uma Nikon, mais uma lente teleobjetiva de 500 mm e filme ASA 6400, Britto tirou algumas fotos.

“Entre surpreso e emocionado, registrei aquele momento. Nunca mais avistei nada igual. Aquela aparição jamais será apagada da minha memória”, diz Adenir.

Um mês após o ocorrido, dois oficiais do Centro Técnico Aeroespacila (CTA), acompanhando do ufólogo americano James J. Hurtak, compareceram à redação e pediram ao editor-chefe os negativos das fotos.

Segundo explicação de Hurtak, o material seria levado para ser analisado pela Nasa, a agência espacial norte-americana. Trinta e seis anos depois, e os negativos nunca foram devolvidos.

“A que conclusão eu cheguei? Bem, acredito que aqueles objetos fossem mesmo do ‘espaço sideral’. E, a meu ver, estavam monitorando instalações militares e industriais do Brasil”, observa Hurtak.

Uma brincadeira de gato e rato

O risco de um desatre aéreo era iminente. Além de possuirem uma luz intensa, os objetos realizavam manobras impossíveis para qualquer aeronave. Para agravar a situação, eles sobrevoavam instalações estratégicas para a defesa aérea, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos (SP), e a Academia de Força Aérea (AFA), em Pirassununga (SP).

Por esses e outros motivos, o então ministro da Aeronáutica, brigadeiro Octávio Júlio Moreira Lima, foi colocado a par da situação. Dali a instantesm três caças da FAB (Força Aérea Brasileira), dois F-5 e um Mirage entraram em ação.

O F-5, com prefixo FAB-4848, pilotado pelo tenente Kleber Caldas Marinho, partiu da Base Aérea de Santa Crus (RJ), às 22h34.

O segundo caça, um Mirage F-103, prefixo 4913, comandada pelo capitão Armindo Sousa Virato de Freitas, às 22h48, ele decolou da Base Aérea de Anápolis (GO).

O terceiro, um F-5, prefixo FAB-4849, pilotado pelo capitão Márcio Brisolla Jordão, às 22h50, da Base Aérea de Santa Cruz (RJ).

As três aeronaves de combate receberam a mesma missão: interceptação não agressiva. Ou seja, embora estivessem munidos de armamento pesado, tentariam uma aproximação pacífica. Não conseguiram.

Quando os caças se aproximavam dos alvos, rapidamente eles desapareciam da vista dos pilotos e dos radares. Mas logo apareciam novamente, em outro lugar.

“Tudo ali foi muito curioso e inusitado. Desde o tamanho dos objetos, o maior deles, provavelmente a nave mãe da frota, tinha 11 quilômetros de extensão, até sua tecnologia era imensamente superior à nossa”, analisa o jornalista e ufólogo Ademar José Gevaerd, editor da revista UFO.

“Em nenhum momento, eles tentaram nos atacar. Brincaram de ‘gato e rato’ conosco”, acrescentou.

Mas pelo sim pelo não, os pilotos foram orientados a acionarem o “modo rojão”. Que basicamente era manobrar as aeronaves com as luzes de navegação apagadas e o sistema de armas ativado.

“Ao longo dos anos, tive a oportunidade de entrevistar militares de alta patente que, entre outras coisas, me disseram: ‘No Brasil, não se atira em UFO porque não representa ameaça’ e ‘Não sabemos como eles reagiriam se fossem atacados'”, relata o ufólogo Marco Antônio Petit.

“Ao contrário do que é divulgado oficialmente, eles sabem muito bem com o que estão lidando”, disse ele.

Além da velocidade do som

Um dos operadores do Centro de Operações Militares (COpM) cogitou a hipótese de que os artefatos observados pelo tenente Marinho eram, nada mais nada menos que aeronaves de espionagem. Em relatório, o piloto solicitou que fosse investigado a possibilidade de haver um porta-avião de origem estrangeira no litoral brasileiro. Nada disso foi confirmado.

O capitão Jordão realizava buscas visuais na região de São José dos Campos quando, às 22h59, o controlador de voo, o sargento Nelson, informou que havia “numerosos tráfegos a seis horas de sua aeronave”. Traduzindo o linguajar militar, os alvos estavam voando atrás dele.

O piloto realizou uma manobra de 180º na tentativa de visualizar seus perseguidores, mas foi em vão. Segundo as imagens do radar, 13 UFOs, sete de um lado e seis do outro, “escoltavam” F-5 do capitão Jordão.

Foto: Acervo Adenir Brito/ Jornal Vale Paraibano

Cerca de 800 quilômetros dali, em Goiás, o capitão Variato continuava sua missão de interceptação. Às 23h09, um sinal não identificado surgiu, a 22 quilômetros de distância, em seu radar a bordo. Imediatamente, o piloto enquadrou seu alvo e se preparou para disparar contra o suposto inimigo.

Logo, o Mirage do capitão Viriato atingiu a velocidade de Mach 1.3, algo em torno de 1.600 km/h. Quando estava a nove quilômetros do alvo, o impensável aconteceu: o artefato acelerou de maneira brusca. Segundo cálculos do piloto, o objeto chegou a inacreditáveis Mach 15, o equivalente a 18.375 km/h.

“Se existe avião que possa desenvolver essa velocidade, eu desconheço”, declarou o capitão Viriato em entrevista ao programa Globo Repórter, da TV Globo, em 1993.

Para uma rápida comparação, o avião masi rápido da história é o North American X-15. Em outubro de 1967, ele atingiu sua velocidade máxima de 7.274 km/h.

“Até hoje, não sabemos quem eram, de onde vieram ou o que queriam. Mas, sabemos que, além de reais, aquelas aeronaves eram controladas por alguma forma de inteligência”, observa o ufólogo Thiago Luiz Ticchetti, presidente da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU).

Ao longo de toda noite, mais dois caças Mirage foram acionados: um, prefixo FAB-4918, pilotado pelo capitão Rodolfo Silva e Souza. O outro, FAB-4917, que estava sob o comando do capitão Júlio Cézar Rozemberg.

O primeiro deles decolou às 23h17, e o segundo, às 23h46, ambos da Base Aérea de Anápolis, em Goiás. Nenhum dos dois teve contato, visual ou pelo radar de bordo, com qualquer tipo de objeto voador.

Não estamos sozinhos

Foto: Acervo Edison Boaventura Júnior

No dia 23 de maio de 1986, às 16h30, o ministro da Aeronáutica, o brigadeiro Octávio Júlio Moreira Lima, convocou uma coletiva de imprensa, para comunicar que cinco caças da FAB perseguiram 21 UFOs.

“Não se trata de acreditar ou não [em seres extraterrestres ou em discos voadores]. Só podemos dar informações técnicas. As suposições são várias. Tecnicamente, diria aos senhores que não temos explicação”, declarou, à época.

No final da coletiva, que contou com a presença dos cinco pilotos da FAB e dos controladores de voo que estavam de plantão naquela noite, o ministro declarou que o episódio seria apurado, dentro de 30 dias, e que logo seria divulgado um dossiê completo.

23 anos depois, em 25 de setembro de 2009, um relatório sobre o caso, assinado pelo interino do Comando da Aeronáutica (COMDA) José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, datado como sendo de 2 de junho de 1986, foi divulgado.

“Como conclusão dos fatos constantes observados, em quase todas as apresentações, este Comando é de parecer que os fenômenos são sólidos e refletem de certa forma inteligência, pela capacidade de acompanhar e manter distância dos observadores, como também voar em formação, não forçosamente tripulados”, dizia o documento.

Em geral, os relatos sobre o caso ainda são inconclusivos. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu na noite de 19 de maio de 1986. Na dúvida, não é descartado a hipótese de que vida inteligente em outros planetas.

“Nós, seres humanos, somos muito presunçosos. Achamos que somos os donos do universo”, declarou o coronel Ozires Silva ao programa 95 On-Line, da rádio 95,7 FM de Curitiba, em 2014.

Através de uma nota, a Aeronáutica informou que todo o material disponível sobre os óvnis foram encaminhados para o Arquivo Nacional, e não dispões de profissionais especializados para as investigações científicas ou emitir um parecer a respeito desse tipo de fenômero.

Hoje, o acervo sobre óvnis é o segundo mais acessado do Arquivo Nacional — só perde para os relatórios da ditadura militar. O material abrange um período de 64 anos e vai de 1952, quando dois repórteres da extinta revista O Cruzeiro avistaram um óvni sobrevoando a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), até 2016, quando um piloto da FAB relatou um suposto avistamento. Ao que parece, a verdade continua lá fora.

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