Apesar dos preparativos, PT nega que 60 anos do golpe militar será utilizado como objeto eleitoral
Paira no ar, porém, preocupação do ato se tornar provocativo e causar mal-estar com as Forças Armadas
A Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, planeja movimentos para rememorar os 60 anos do golpe militar de 31 de março de 1964, que culminou na ditadura que se seguiu até 1985. O ato não é organizado pelo Executivo Federal, como foi o ato do 8 de janeiro para reforçar a democracia (feito com outros Poderes) – em 2023, vândalos invadiram e depredaram os três Poderes, naquele dia –, e nem tem objetivo eleitoral, afirmam petistas.
De volta ao ato, o 31 de março deve ser utilizado pela fundação para fomentar debates, realizar exposições, lançamentos de livros, além de um documentário para marcar os 60 anos do golpe militar. Ainda que as movimentações não sejam ligadas ao governo federal, há quem encare a situação como provocação, o que é rechaçado por lideranças da esquerda.
Deputada federal mais bem votada por Goiás em 2022, Silvye Alves (União Brasil) pensa dessa forma. Ela, inclusive, cita o evento anterior, o 8 de janeiro, como uma oportunidade perdida para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de fazer um ato para todos. “Estamos em 2024, então é bola pra frente, né?”
De fato, nos bastidores a informação é que o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, realiza um trabalho, justamente, para evitar que os atos se tornem uma provocação e causem mal-estar, sobretudo, junto às Forças Armadas. Ele, inclusive, deve atuar para evitar “comemorações” na caserna pela data.
De volta ao 8 de janeiro, a data foi, segundo alguns grupos, transformada em palanque político e como ato de ataque ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nesse sentido, o trabalho do ministro da Defesa deve ser evitar estímulos, ainda maiores, para polarização política que parece ter dificuldades de deixar os ânimos do País.
Sem ligação
Liderança petista, o deputado estadual Antônio Gomide (PT) afasta qualquer ligação do Executivo Federal com a atuação da Fundação Perseu Abramo. “O presidente Lula não vai rememorar os 60 anos do golpe, né? Então, isso não é uma realidade”, reforça. “A Fundação Perseu Abramo é que está fazendo. Então, não tem nada a ver com o presidente Lula e nem com o seu governo.”
Desta forma, ele deixa claro que a data não será utilizada como objeto político-eleitoral. Ele argumenta que a Perseu Abramo não faz parte do processo eleitoral e nem participa do mesmo. “Não é objeto de eleição.” Desta forma, ele não vê nenhuma chance dos lançamentos influenciarem no pleito deste ano, que vai eleger prefeitos e vereadores.
“É uma editora que vai publicar um livro de um momento importante, mas não tem nenhuma discussão no processo eleitoral. A fundação está cumprindo o papel dela de editora de história, de política, mas não vejo isso como nenhum ato político e nem ato do governo”, enfatiza.
Sobre haver algum tipo de provocação, ele descarta. “Pelo contrário, a ideia realmente é de fazer com que tenhamos aí um maior equilíbrio possível do que nós convivemos e vivenciamos no ano 2023”, se refere ao 8 de janeiro.
“Entendo que é a forma correta de podermos rememorar, obviamente, e dando a devida importância para o 8 de janeiro, e também a importância para o golpe militar, principalmente na história da redemocratização do País. A importância que isso [a redemocratização] foi para o crescimento do País, mas não vejo nenhuma ligação disso com o processo eleitoral”, finaliza.