Depois de reforma tributária, “saidinha” é novo tema de Caiado para manter visibilidade
Governador tem ocupado espaço nas mídias locais e nacionais para abordar o assunto
Francisco Costa e Ícaro Gonçalves
O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) ganhou destaque nacional ao se opor à reforma tributária, aprovada no último ano no Congresso. O tema esfriou e a “bola da vez” é a “saidinha” de presos em regime semiaberto.
Na última terça-feira (6), a Comissão de Segurança Pública do Senado aprovou por unanimidade o fim das “saidinhas”. Caiado tem ocupado espaço nas mídias locais e nacionais para abordar o assunto.
Para ele, a medida é necessária para combater o avanço da criminalidade no País. À Rádio Bandeirantes de São Paulo, na última segunda (5), ele afirmou que “bandido faccionado não tem medo de lei e que pessoas de altíssima periculosidade são autorizadas a passar sete dias fora e matam”.
Ele ainda lembrou que, em Goiás, não houve concessão do benefício de forma ampla. Segundo ele, o monitoramento garantiu o retorno de todos os presos que gozaram da medida. No último Natal, segundo dados das secretarias estaduais – e divulgado pela Casa Civil do Estado, dos 56.924 internos que usufruíram da saidinha, 2.741 não regressaram (4,8%).
“Tem governadores que não governam 25% do seu território. E com isso as pessoas sofrem. Elas deixam de acreditar no Estado, e isso abre espaço para o estado paralelo. O Estado Democrático de Direito deve dar ao cidadão autonomia, direito de ir e vir e respeito”, afirmou.
A Gazeta do Povo também citou o governador Ronaldo Caiado. Segundo o veículo de comunicação, o goiano e os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), articulam com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e senadores de oposição, o fim das saidinhas temporárias.
“O brasileiro nunca viveu sob ameaça do crime como estamos assistindo hoje. Não dá para ter concessão para alforriar bandidos que podem voltar a cometer crimes. É uma afronta às autoridades que tanto lutam para botar bandidos na cadeia”, aproveita para alfinetar o governo federal.
De olho em 2026
A estratégia não é por acaso. O governador Ronaldo Caiado é pré-candidato à presidência. Entre os desafios para se viabilizar, conforme já exposto pelo Jornal O Hoje, é garantir visibilidade nacional.
“Caiado é de longe o nome goiano mais reconhecido no cenário nacional. A atuação dele no Congresso sempre foi muito contundente. Uma imagem consolidada nos grandes centros tem uma visibilidade boa”, disse Marcos Marinho, professor e cientista político, em entrevista ao Jornal O Hoje, ainda em 2023.
Apesar disso, ele observa que Goiás não pauta o País. Então, para Caiado fazer algo no governo que reverbere na esfera nacional, tem que ser algo realmente muito interessante. “Precisa fazer um governo de muita visibilidade, para extrapolar as fronteiras”, reforça e completa: “Além disso, ele precisa se consolidar no campo da direita. Aglutinar a direita moderada, centro-direita e um pouco da extrema-direita, ou seja, o bolsonarismo.”
Caiado tem aparecido na imprensa nacional. Seja com críticas à reforma tributária ou até participando de sessões no Congresso em CPI do MST. Agora, a pauta que o coloca no holofote é a saidinha temporária.
Além disso, o chefe do Executivo estadual espera ter o apoio de Jair Bolsonaro (PL). Já disse em entrevistas recentes e também no ano passado. O ex-presidente está inelegível, mas outros nomes também buscam o apoio dele, entre eles Tarcísio de Freitas.
Pode ser difícil
Ao Painel, da Folha, o ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), afirmou que o partido dele tem mais chance de apoiar a reeleição do presidente Lula (PT), em 2026, do que seguir outro caminho. A fala, claro, destoa do que diz Caiado, que tenta se viabilizar.
“Eu respeito a vontade, os anseios individuais de alguns integrantes do nosso partido, mas acredito que a probabilidade de o nosso partido caminhar na reeleição com o presidente Lula é muito maior do que não”, declarou ao veículo de comunicação.
Segundo ele, situações como “a eleição do presidente do Senado do nosso partido [Davi Alcolumbre], a eleição do presidente da Câmara do nosso partido [Elmar Nascimento], com o apoio do governo inclusive, com dois ministérios indicados pelos parlamentares do nosso partido na Câmara” reforçam a tese dele.
O União Brasil indicou os ministros do Turismo, Comunicações e da Integração. Este último faria parte da cota do partido, apesar de indicado por Alcolumbre. Ainda assim, para Caiado, a legenda não deve caminhar com Lula em 2026.