Caiado quer espólio de Bolsonaro e diz que ele é o “maior cabo eleitoral”
Ronaldo Caiado e Tarcísio de Freitas, governadores de Goiás e São Paulo, respectivamente, se movimentam de olho na força do bolsonarismo para as eleições de 2026
Depois de uma semana em Israel ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Gustavo Mendanha (MDB), o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) desembarcou em Goiás em meio às tentativas de conquistar apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao seu projeto presidencial para 2026.
Ao menos esse é um dos alvos que o goiano afirmou ter em entrevista ao jornal O Globo no fim de semana. Questionado se procuraria firmar uma aliança com a sigla de Bolsonaro para disputar a Presidência da República daqui a pouco mais de dois anos, Caiado não apenas confirmou como também disse que buscará apoio do ex-mandatário para se viabilizar no pleito.
“Lógico que quero (o espólio do Bolsonaro, inelegível até 2030). O prestígio dele no cenário nacional é inegável, é o maior cabo eleitoral que temos. Meu primeiro passo era ter estrutura partidária, não dava para continuar como estava”, afirmou o governador ao jornal carioca.
O PL chegou a sondar Caiado para filiá-lo ao partido, mas a ideia não prosperou porque, segundo o jornal, Bolsonaro classifica o goiano como “traidor” por causa da postura adotada por ele durante a pandemia. Caiado, que é médico de formação, defendeu, à época, o isolamento social e a vacinação em Goiás, ao contrário do então presidente.
Caiado afirmou ao Globo que a conversa com o dirigente do partido, Valdemar Costa Neto, sobre a ida para o PL se deu num momento em que o União Brasil estava fragilizado pelas brigas internas, e que agora há uma tendência de pacificação e até mesmo uma chance de formar uma federação com o PP e o Republicanos, de olho em 2026.
Nos bastidores, Tarcísio de Freitas, que também foi ministro do governo Bolsonaro, é visto como a primeira opção para representar o ex-presidente na próxima eleição presidencial. No entanto, segundo O Globo, Caiado tem conversado em caráter reservado com diversos profissionais do marketing político e com empresas de pesquisas para entender o cenário e turbinar a empreitada rumo à Presidência.
Ainda de acordo com o jornal, o principal articulador é o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, vice-presidente do União Brasil, que já sondou um marqueteiro com experiência em campanhas presidenciais e estaduais.
“Pré-candidato de oposição não pode se dar o luxo de começar a campanha no ano eleitoral. Tem que discutir os temas que estão preocupando os brasileiros. O governo está errando muito”, disse o goiano.
A viagem de Caiado a Israel, vale lembrar, não deixou de ser interpretada por aliados como uma sinalização política de ambos governadores na disputa pelo espólio de Bolsonaro em um momento de crise diplomática entre Brasil e Israel. O contratmepo foi iniciado no mês passado após fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que associou os ataques israelenses à Faixa de Gaza ao Holocausto perpetrado por Adolf Hitler e chamou de “genocídio”. Após isso, o governo israelense reagiu às declarações de Lula e o chamou de “persona non grata”.
Auxiliares do Palácio das Esmeraldas disseram ao O HOJE que, para além das questões diplomáticas e de estabelecimento de parcerias, a viagem de Caiado teria tom político de contraponto ao presidente Lula, uma vez que o petista está com as relações desgastadas com o país israelense após a repercussão negativa de suas declarações.
Além do contraponto a Lula, o governador goiano também tem feito outros gestos rumo ao projeto presidencial nas últimas semanas, a exemplo de sua participação ativa na troca de comando do União Brasil. No lugar do presidente da legenda Luciano Bivar, entrou o advogado Antonio Rueda. Na ocasião, duas casas de Rueda em Pernambuco foram incendiadas dias após o pleito que o elegeu presidente. Caiado disse que o incêndio se tratava de “crime político”, voltando, de novo, à mídia nacional.