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terça-feira, 13 de agosto de 2024
Luto

Morre Tuíre Kayapó, líder indígena e símbolo da luta pelos direitos dos povos originários

Ativista Kayapó, conhecida por sua atuação contra a Usina Hidrelétrica de Belo Monte e defesa dos direitos indígenas, faleceu em decorrência de câncer no útero. Sua morte é amplamente lamentada por autoridades e comunidades indígenas

Postado em 13 de agosto de 2024 por Luana Avelar
Sua imagem empunhando um facão durante o Encontro das Nações Indígenas do Xingu, em 1989, tornou-se um símbolo de sua resistência e determinação. Foto: Conexão Planeta

Luana Avelar 

No último sábado (10), o Brasil perdeu uma de suas mais proeminentes líderes indígenas. Tuíre Kayapó, ativista de 57 anos, faleceu em decorrência de um câncer no útero. Sua morte foi amplamente lamentada por autoridades e instituições que reconheciam seu papel vital na luta pelos direitos dos povos indígenas.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) destacou a importância de Tuíre na resistência contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, considerando sua atuação um “momento fundamental pelo respeito aos direitos territoriais e culturais dos povos indígenas”. Em nota, a Funai elogiou sua dedicação à proteção de seu povo e território, enfatizando seu compromisso com a defesa dos direitos e respeito aos indígenas. A fundação também expressou solidariedade à família e amigos de Tuíre, ressaltando a importância de manter viva a memória de sua luta, resiliência e perseverança.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também manifestou pesar pela perda de Tuíre. “Sua vida foi um exemplo de coragem e dedicação pela causa indígena”, afirmou Lula em nota oficial. A perda de Tuíre é considerada um grande vazio para os movimentos indígenas e para todos que lutam pela justiça e pelos direitos humanos no Brasil.

O sepultamento da ativista aconteceu no último domingo (11) na Aldeia Gorotire, localizada na Terra Indígena Kayapó, no Sul do Pará. Ela foi enterrada ao lado de sua filha biológica, que faleceu há alguns anos. De acordo com sua sobrinha, O-e Kayapó, Tuíre havia expressado seu desejo de ser enterrada próxima à filha, a única que teve. A sobrinha também esclareceu que Tuíre teve uma filha adotiva e não deixou netos biológicos.

Durante o velório, que durou algumas horas, os indígenas Kayapós entoaram canções dos principais rituais e cerimônias que marcaram a vida da líder. Além de seu trabalho incansável na defesa dos direitos indígenas, Tuíre estava coordenando um projeto que ensinava outras mulheres da aldeia a costurar, demonstrando seu compromisso com o empoderamento feminino e a preservação das tradições culturais.

Tuíre Kayapó foi amplamente reconhecida como uma das principais lideranças dos povos originários no Brasil, apesar de nunca ter recebido o título formal de cacique. Integrante do povo Mebêngôkre, Tuíre nasceu em 1970, no território Kayapó, na aldeia Kokraimoro, às margens do Rio Xingu, no estado do Pará. Foi uma das primeiras ativistas indígenas mulheres e protagonizou muitas outras manifestações em defesa da floresta, dos territórios e direitos indígenas. Em uma das suas últimas declarações públicas, Tuíre convocou o país para lutar junto contra o Marco Temporal.

Ela foi uma figura emblemática na luta contra o garimpo em terras indígenas e se posicionou firmemente contra o marco temporal. Participou de diversas marchas em Brasília para defender os direitos e interesses da comunidade indígena, e frequentemente expressou sua frustração por não ter sido recebida nos gabinetes do Congresso Nacional.

Sua coragem ficou notoriamente evidenciada durante o Encontro das Nações Indígenas do Xingu, em 1989, quando, aos 19 anos, desafiou o então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz, para impedir a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Sua imagem empunhando um facão como símbolo de sua resistência tornou-se um ícone de sua luta. “Foi lá [no encontro] que ouvi que os brancos iriam fazer coisas ruins na minha terra, no Xingu. Aqui, é minha terra! Não é sua terra não! Foi quando eu coloquei o facão no rosto do branco”, relembrou Tuíre em uma entrevista à Associação da Floresta Protegida, que está produzindo uma biografia da ativista.

O facão, que ela carregou como símbolo de sua luta, representava sua voz e determinação em defender sua terra e seu povo. Tuíre sempre atribuiu sua coragem e conhecimento à avó, que a ensinou a lutar em defesa da floresta. “Minha terra, onde nasci, foi no Xingu. Lá é minha terra mãe. Por isso fico brava quando estão estragando o Xingu. Quero a minha terra sempre preservada”, afirmou em uma das entrevistas.

Com o falecimento de Tuíre Kayapó, o Brasil perde uma figura icônica e inspiradora, cuja vida e trabalho continuarão a ressoar na luta pelos direitos indígenas e pela preservação cultural. Sua trajetória é um exemplo de coragem e dedicação à causa dos povos originários e à justiça social.

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