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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
25 anos

A imortalidade da poesia de João Cabral de Melo Neto

Mesmo após 25 anos de sua morte, a escrita do poeta continua a ser uma referência da literatura brasileira

Postado em 18 de outubro de 2024 por Luana Avelar

Em outubro de 1999, o Brasil perdeu um de seus maiores poetas, João Cabral, cuja obra densa e inovadora ainda inspira novas gerações. Vinte e cinco anos após sua morte, em 9 de outubro, seu legado permanece vivo, refletindo rigor estético e sensibilidade crítica. Nascido em Recife em 6 de janeiro de 1920, foi diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras, recebendo prêmios que consolidaram sua importância nacional e internacional.

O poeta estreou com ‘Pedra do Sono’ em 1942, no Rio de Janeiro. Sua escrita evoluiu, afastando-se do lirismo tradicional e adotando um estilo objetivo e preciso, o que lhe rendeu o título de ‘poeta-engenheiro’ pela construção meticulosa dos versos. Ele desenvolveu uma poesia distante de confissões, evitando a sentimentalidade comum na Geração de 45.

Entre diplomacia e poesia

Além de poeta, ele foi diplomata. Em 1945, ingressou no Itamaraty e morou em países como Espanha, França e Senegal, onde continuou escrevendo. Durante esse período, produziu obras premiadas e manteve um olhar crítico sobre o Brasil. Ele também estudou as navegações europeias na América e escreveu O Arquivo das Índias e o Brasil, compilando documentos históricos. Suas experiências no exterior influenciaram sua obra, mas ele nunca deixou de tratar do Nordeste, abordando a aridez do sertão e as dificuldades locais em livros como O Cão sem Plumas (1950) e Morte e Vida Severina (1955).

O poeta das causas sociais

A partir de O Cão sem Plumas, sua obra assumiu um viés social, refletindo sobre exclusão, violência e miséria. O pernambucano usava uma linguagem precisa e imagens fortes para expor a realidade e questionar a condição humana. Seus versos exploravam a figura da pedra, símbolo da resistência e aridez, como em A Educação pela Pedra (1966), destacando seu compromisso com questões sociais do Brasil. Em Morte e Vida Severina, poema dramático de 1955, narra a jornada de Severino, um retirante nordestino que enfrenta morte, fome e desespero. A obra, adaptada para teatro, cinema e outros formatos, consolidou o poeta como voz das agruras e esperanças do povo nordestino.

Reconhecimento

Ele foi amplamente reconhecido em vida. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1968, ocupando a cadeira 37, anteriormente pertencente ao jornalista Assis Chateaubriand. Ao tomar posse, em 1969, fez questão de homenagear seu antecessor, demonstrando sua reverência às tradições literárias e culturais brasileiras. Além disso, foi o primeiro brasileiro a receber o Prêmio Camões, o mais importante reconhecimento literário em língua portuguesa, e também conquistou o Prêmio Jabuti, consolidando seu lugar como um dos maiores nomes da literatura nacional.

Em seus últimos anos de vida, o poeta sofreu com problemas de saúde. Aposentou-se como embaixador em 1990 e, devido a uma progressiva cegueira, teve de reduzir suas atividades. Mesmo enfrentando essas dificuldades, ele permaneceu ativo, continuando a trabalhar em seus textos até onde foi possível. Faleceu em 1999, no Rio de Janeiro, deixando um enorme acervo literário que ainda hoje é estudado e reverenciado.

Homenagens e memória

Mesmo após 25 anos de seu falecimento, a memória de João Cabral de Melo Neto permanece viva em suas obras e nas homenagens que celebram sua contribuição à cultura brasileira. Em Recife, sua cidade natal, há uma estátua na Rua da Aurora, às margens do Rio Capibaribe, presente em seus versos. O Circuito da Poesia, iniciativa da Prefeitura, também o destaca, reafirmando sua importância para a identidade cultural pernambucana e nacional.

Aos 25 anos de sua ausência, João Cabral segue presente em sua obra, lida e reinterpretada continuamente. Seus versos sobre o sertão, a sociedade e a condição humana mantêm sua relevância, mostrando que, mesmo após tanto tempo, sua poesia segue viva.

 

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