45% dos goianos com mais de 25 anos não terminaram os estudos
Dentre as pessoas que não concluíram os estudos obrigatórios, 26,8% não chegou a concluir o ensino fundamental I ou II
José da Costa Neto, de 54 anos, estudou até a 5° série e depois disso deixou de frequentar a escola. Na época ele conta que dentre os fatores que o obrigaram a largar a escola estava a dificuldade nos estudos, atrelada a necessidade de trabalhar, e ambas as coisas influenciaram ele a tomar essa decisão.
“Na época eu tinha muita dificuldade nos estudos e em aprender e achava que estudar não era pra mim por isso eu não completei. Não fiz o ensino médio também porque fui trabalhar pra criar responsabilidade e “virar homem”. Então eu mesmo decidi parar de estudar e também enfrentei isso. Era anos 80 também e as dificuldades eram maiores Infelizmente a escola ainda não consegue acompanhar todos que precisam fazer as duas coisas como era na época”, contou José.
Ele também destacou que se arrepende de não ter continuado os estudos e que incentiva os filhos a estudar. “Hoje eu me arrependo e sei que deveria ter continuado porque o estudo é muito importante tanto que hoje incentivo meus filhos. Querendo ou não quem é mais humilde e com uma família muito grande precisa fazer uma escolha em uma certa altura do campeonato entre escola e trabalho, não acho que todo mundo tem as mesmas oportunidades”, acrescentou.
No ano de 2016, a PNAD apontou que mais de 50% da população não havia terminado os estudos básicos, apesar desse número ter apresentado uma redução a porcentagem ainda é grande. Para a socióloga Josileide Veras esse cenário é uma mostra direta das desigualdades no estado.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgou, em sua pesquisa anual, que no Estado de Goiás 45,2% da população com mais de 25 anos não finalizou o ensino básico obrigatório. Sendo que 5,1% não passaram pela alfabetização completa, 26,8% não concluiu a etapa fundamental, 7,5% concluiu o ensino fundamental e 5,8% possui o ensino fundamental incompleto.
“Muitos fatores contribuem para isso, sendo o mais significativo a persistente exclusão social e educacional, especialmente das populações negras e de baixa renda. A falta de infraestrutura escolar adequada, o preconceito racial nas instituições de ensino e a necessidade de trabalho precoce para ajudar no sustento familiar são obstáculos imensos para a permanência na escola”, apontou a socióloga.
Daniel da Silva Moura, de 33 anos, também não finalizou os estudos, e explicou que também precisava estudar e trabalhar para ajudar a mãe em casa. Na época Daniel acreditava que a rede de ensino não conseguia suprir a necessidade de todos os alunos, principalmente daqueles que precisam estudar e trabalhar. “Eu não conseguia estudar e trabalhar, se eu fosse estudar chegava atrasado no serviço e se fosse trabalhar não conseguia chegar no horário da aula”, declarou.
A socióloga Josileide Veras explicou que a evasão escolar gera prejuízos profundos tanto para os indivíduos quanto para a sociedade. Para os jovens, ela resulta em uma menor qualificação profissional, dificultando sua entrada no mercado de trabalho e perpetuando ciclos de pobreza e exclusão.
Os grupos mais afetados pela evasão escolar são os jovens negros, mulheres, indígenas e moradores de periferias e áreas rurais, que enfrentam múltiplas barreiras relacionadas ao racismo estrutural, à falta de apoio familiar e à escassez de recursos nas escolas. Esses grupos são mais vulneráveis, pois lidam com a sobrecarga de trabalho doméstico, gravidez precoce e a falta de suporte adequado nas instituições educacionais.
A socióloga ainda destacou que para mudar esse cenário educacional no estado de Goiás, é essencial que o governo adote uma abordagem mais robusta e integrada, com políticas públicas que garantam tanto o acesso quanto a permanência dos estudantes na escola. Ampliar programas como o Jovem Aprendiz e outras práticas profissionalizantes é um passo importante, mas isso não é suficiente.
“É preciso investir em programas de apoio à permanência escolar, oferecendo transporte, alimentação, bolsas de estudo e suporte psicológico para aqueles que enfrentam dificuldades para continuar os estudos. Além disso, é fundamental que o salário dos professores seja valorizado. A valorização salarial é essencial não só para garantir que os educadores tenham condições dignas de trabalho, mas também para que se sintam motivados a investir na formação de seus alunos”, pontuou Josileide Vera.
Outro ponto crucial que Josileide apontou para acabar com a evasão escolar é que o currículo escolar precisa ser mais inclusivo, refletindo a diversidade cultural e social dos alunos, especialmente no que diz respeito à questão racial.
“O Estado precisa garantir que os professores sejam capacitados para lidar com essas diversidades para combater as desigualdades e garantir a equidade educacional. Eles também devem pensar de forma intersetorial, conectando áreas como saúde, moradia e trabalho com a educação. Somente com uma ação coordenada e inclusiva será possível garantir que todos os jovens tenham a oportunidade de concluir seus estudos e romper com os ciclos de exclusão social”, detalhou Josileide.
O jornal O Hoje tentou entrar em contato com a Seduc para obter informações mais precisas sobre a evasão escolar no Estado, entender se o número de vagas disponibilizadas pela rede pública é suficiente para atender toda a população bem como quais medidas são adotadas pelo estado para tentar diminuir os índices do abandono escolar em Goiás, mas até o fechamento da edição desta reportagem não obtivemos resposta.
Número de jovens que não estudam e nem trabalham diminui em 20%
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgou recentemente que o número de pessoas que não estudam e nem trabalham caiu quase 20% no estado de Goiás. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais, em 2023, Goiás contabilizava 6,0 milhões de indivíduos com 14 anos ou mais, ou seja, com potencial para ingresso no mercado de trabalho.
Dentre esses, 4,1 milhões (68,7%) faziam parte da força de trabalho, o que representa um aumento de 4,9% em comparação a 2022, quando o total era de 3,9 milhões. Por outro lado, o número de pessoas sem emprego atingiu 240 mil, apresentando uma queda de 20,9% em relação ao ano anterior, que registrou 303 mil pessoas que nem estudavam e nem trabalhavam. Dessa forma, a taxa de pessoas sem emprego em relação ao total da força de trabalho, ficou em 5,8%, a terceira menor registrada na história do estado.
Em relação a redução no número de jovens que não estudam e nem trabalham, Josileide explicou que em parte, pode ser atribuído à implementação de programas como o Jovem Aprendiz e iniciativas de formação profissionalizante, que buscam integrar jovens ao mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que incentivam a continuidade dos estudos.
“No entanto, a falta de implementação abrangente e eficaz dessas políticas impede que elas alcancem a totalidade das populações que mais necessitam. Muitas pessoas ainda estão fora do estudo e do trabalho, principalmente as que pertencem a grupos marginalizados, como jovens negros, mulheres, indígenas e moradores de áreas rurais ou periféricas. A exclusão social, o racismo estrutural e as desigualdades econômicas ainda são fatores significativos que dificultam o acesso universal à educação e ao trabalho. Para que os avanços sejam mais amplos e impactem de fato todos os jovens, é necessário um esforço mais consistente para ampliar a inclusão educacional e profissional de forma integral e estratégica” finalizou