Número de derrames ligados a casos de aneurisma cresce 18%
Os aneurismas cerebrais são mais comuns em pessoas com idade entre 35 e 60 anos, mas também podem ocorrer em pacientes mais jovens e até em crianças
Foi durante uma consulta ao neurologista para tratar enxaquecas recorrentes que a A jornalista Daniella Barbosa recebeu um diagnóstico de aneurisma cerebral descoberto em 2015. “Descobri o aneurisma enquanto tratava de uma enxaqueca que eu já tinha há muitos anos. Geralmente, aneurismas são silenciosos, mas no meu caso ele alterou o ciclo de enxaqueca. As crises passaram a ser muito mais intensas e frequentes”, conta.
O tratamento foi realizado por meio de uma embolização cirúrgica, o que evitou o rompimento do aneurisma. Apesar do receio inicial, Daniella destaca que teve uma recuperação tranquila. “Fiquei poucos dias na UTI e um mês sem poder subir escadas, carregar peso ou dirigir. Também precisei tomar anticoagulantes por um ano. O maior desafio foi a incerteza de uma cirurgia tão delicada no cérebro, uma área extremamente sensível do corpo”, relembra.
Ela ainda enfatiza que o diagnóstico precoce foi crucial para salvar sua vida. “Aneurismas são silenciosos. Quando se rompem, causam derrames. Por isso, o diagnóstico precoce pode salvar vidas. Todo mundo faz check-ups anuais com vários especialistas, mas quem faz check-up da cabeça? Sugiro que as pessoas consultem um neurologista pelo menos uma vez na vida para garantir que está tudo bem e não sejam surpreendidas.”
Daniella também compartilhou uma experiência marcante que ocorreu pouco antes do diagnóstico. “Um mês antes, eu estava na Argentina e cogitei pular de paraquedas, mas desisti no último minuto. O médico me disse que, se tivesse pulado, teria chegado lá embaixo morta, porque o aneurisma se romperia. Na época, eu também não poderia fazer bungee jump ou mergulho com cilindro. Todas essas atividades poderiam ter sido fatais. Hoje, após a cirurgia, posso fazer qualquer uma delas.”
Ela conclui seu relato com uma reflexão: “Aneurismas podem ter causas diversas e, quando associados a outras doenças como hipertensão, podem ser fatais ou deixar sequelas irreversíveis. Definitivamente, descobrir o aneurisma antes de ele romper me salvou.”
A dor de cabeça, que afeta cerca de 140 milhões de brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia, é um sintoma comum que pode dificultar a identificação de problemas mais graves. Conforme o Ministério da Saúde, muitas doenças neurológicas, como o aneurisma cerebral e até mesmo o Acidente Vascular Cerebral (AVC), são frequentemente confundidas com enxaquecas, tornando essencial diferenciar os sinais de alerta.
O aneurisma cerebral é uma doença que acomete 1 a cada 50 pessoas. No Brasil, a cada 18 minutos, ocorre o rompimento de um aneurisma. Esse evento é crítico: de cada dez pessoas que sofrem um AVC causado pelo rompimento, quatro não sobrevivem.
Os aneurismas cerebrais são mais comuns em pessoas com idade entre 35 e 60 anos, mas também podem ocorrer em pacientes mais jovens e até em crianças. A maioria deles se desenvolve após os 40 anos de idade. Além disso, as mulheres são mais frequentemente acometidas pela doença. De forma geral, a taxa é de três mulheres para cada dois homens portadores de aneurisma. O risco de ruptura também é significativamente maior em mulheres acima de 55 anos, sendo 50% superior ao risco enfrentado pelos homens na mesma faixa etária.
A importância do diagnóstico precoce para salvar vidas
O neurocirurgião Victor Hugo Espíndola, especialista em doenças cerebrovasculares, alerta que, na maioria dos casos, os aneurismas cerebrais são assintomáticos até que se rompam, o que pode levar a complicações graves.
“Normalmente, os aneurismas cerebrais não produzem nenhum sintoma até o rompimento. Quando isso ocorre, o paciente sofre um AVC hemorrágico chamado hemorragia subaracnoidea, que é extremamente grave. Os principais sintomas incluem uma dor de cabeça muito forte, intensa e súbita, frequentemente descrita como a pior da vida. Além disso, pode haver rebaixamento do nível de consciência, crises convulsivas e, em casos mais graves, o paciente pode entrar em coma”, explica o especialista.
Apesar disso, Espíndola ressalta que em casos raros, aneurismas gigantes – os chamados aneurismas “pirantes” – podem gerar sintomas antes do rompimento. “Eles podem funcionar como tumores cerebrais, comprimindo estruturas do cérebro, causando dor de cabeça intensa e refratária à medicação ou até mesmo déficits visuais. No entanto, essa é uma pequena parcela dos casos.”
Os dois principais fatores de risco para a formação e ruptura de aneurismas cerebrais são hipertensão arterial e tabagismo. “Orientamos sempre que o paciente controle a pressão arterial e abandone o cigarro, além de adotar hábitos saudáveis. Estima-se que 20% das doenças crônicas, incluindo os aneurismas, podem ser evitadas com um estilo de vida equilibrado”, ressalta.
Outro fator importante é o histórico familiar. “Parentes de primeiro grau de pessoas que tiveram um aneurisma cerebral rompido têm maior chance tanto de formar quanto de romper um aneurisma. Por isso, é fundamental o acompanhamento médico nesses casos”, destaca Espíndola.
O diagnóstico dos aneurismas cerebrais é feito por exames específicos, como a angioressonância magnética cerebral ou a angiotomografia cerebral. “Exames de tomografia ou ressonância comuns não são capazes de identificar os aneurismas. É necessário utilizar técnicas que estudam os vasos cerebrais detalhadamente”, explica.
Quando o diagnóstico é confirmado e há indicação de tratamento, é realizada uma angiografia cerebral – um tipo de cateterismo que estuda o aneurisma em detalhes e define a melhor abordagem.
Por fim, Espíndola reforça a importância de prevenir os fatores de risco e buscar avaliação médica em casos de dores de cabeça intensas ou histórico familiar da doença. “O controle da pressão arterial, a cessação do tabagismo e check-ups regulares são essenciais para evitar complicações graves como o rompimento de um aneurisma”, conclui