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terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Pesquisa

Novo medicamento injetável contra o HIV demonstrou eficácia de 100%

O HIV é notoriamente desafiador de tratar devido à sua capacidade de se recombinar e escapar do sistema imunológico, além de evitar os efeitos de drogas e anticorpos

Postado em 24 de dezembro de 2024 por Leticia Marielle
Novo medicamento injetável contra o HIV demonstrou eficácia de 100%. | Foto: Reprodução/ Canva

A revista Science nomeou o medicamento injetável lenacapavir como a principal descoberta científica de 2024. A droga, que funciona como profilaxia pré-exposição (PrEP) contra o HIV, demonstrou eficácia de 100% em um estudo clínico realizado com mulheres na África.

No estudo, 5.300 mulheres e adolescentes de Uganda e da África do Sul receberam duas doses anuais de lenacapavir, uma a cada seis meses. O resultado mostrou que nenhuma infecção por HIV foi registrada ao longo do período de observação.

Um segundo ensaio, realizado pela Gilead em seis países, incluindo o Brasil, com homens que fazem sexo com homens, pessoas transgêneras e usuários de drogas injetáveis, apresentou uma eficácia igualmente impressionante de 99,9%. Cientistas e especialistas em saúde pública veem o lenacapavir como um importante avanço para a eliminação do HIV/AIDS no mundo, embora o medicamento ainda não tenha sido aprovado para uso geral.

Em 1º de dezembro, durante o Dia Mundial de Combate à AIDS, a agência da ONU para o HIV/AIDS (Unaids) divulgou um relatório apontando que 2023 registrou o menor número de novas infecções por HIV desde 1990, com 1,3 milhão de casos. Em 1990, o número foi de 2,5 milhões, e o pico de novas infecções ocorreu em 1995, com 3,3 milhões de casos.

A agência ressaltou que o avanço nos serviços de prevenção e tratamento, juntamente com o desenvolvimento de novas terapias, tem sido crucial para a redução constante das novas infecções. Para a Science, o lenacapavir é um exemplo promissor de uma “melhor alternativa de proteção”, pois sua eficácia dura seis meses por aplicação, algo especialmente relevante para países com dificuldades no acesso a tratamentos ou onde o estigma relacionado ao HIV ainda é forte.

O que torna essa descoberta ainda mais notável é o mecanismo inovador do medicamento. Em um editorial, a Science destacou a inovação no desenvolvimento do lenacapavir, que atua no capsídeo, uma estrutura molecular que envolve o material genético do HIV dentro de uma cápsula proteica. O HIV é notoriamente desafiador de tratar devido à sua capacidade de se recombinar e escapar do sistema imunológico, além de evitar os efeitos de drogas e anticorpos.

O lenacapavir age de maneira única ao interferir em três pontos-chave do ciclo de vida do HIV: bloqueando a ligação do capsídeo ao núcleo celular, inibindo a replicação viral e impedindo a formação das proteínas do capsídeo. Uma descoberta crucial foi que o capsídeo, que normalmente se degrade no interior da célula, pode ser “espremido” para o núcleo, onde libera o RNA viral, antes de retornar à superfície celular para reiniciar o processo de infecção. O lenacapavir torna o capsídeo mais rígido, o que impede essa dinâmica e impede a formação de novas cápsulas virais.

Embora o lenacapavir seja difícil de ser absorvido pelo corpo humano, a forma injetável do medicamento proporciona uma “vida longa” ao fármaco, garantindo sua eficácia por até seis meses.

A Gilead, fabricante do lenacapavir, em agosto, anunciou a transferência de tecnologia para a produção de uma versão genérica do lenacapavir em 120 países, embora países com uma grande população de pessoas vivendo com HIV, como o Brasil, não tenham sido incluídos nesse programa. A farmacêutica afirmou que está comprometida em tornar o medicamento acessível e amplamente utilizado, reiterando seu compromisso com as pessoas em risco de infecção ou que já convivem com o HIV.

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