Deportados dos EUA relatam medo e condições precárias em voo de retorno ao Brasil
A aeronave norte-americana que transportava os deportados pousou em Manaus na sexta-feira (24)
Dois goianos deportados dos Estados Unidos contaram momentos de terror durante o voo que trouxe 88 brasileiros de volta ao país no último fim de semana. Kaleb Barbosa e Wendel Lourenço estavam entre os passageiros que chegaram a Minas Gerais na noite de sábado (25/1). Segundo eles, além de serem algemados nos pés e nas mãos, os deportados foram submetidos a agressões, humilhações e enfrentaram problemas técnicos na aeronave.
“Foi desesperador, coisa de filme”
Kaleb Barbosa, 28 anos, natural de Rubiataba, Goiás, vivia nos EUA há seis anos buscando uma vida melhor para seus filhos. Ele descreveu o voo como um pesadelo, afirmando que a aeronave apresentou falhas mecânicas graves.
“O avião estava em condições precárias, teve que viajar com um mecânico a bordo, eu nunca vi isso. O avião não queria funcionar”, relatou. Entre os problemas enfrentados, Kaleb citou falhas no ar-condicionado e no funcionamento das turbinas.
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“O momento mais difícil foi quando o ar condicionado estragou no ar. As pessoas passaram a passar mal, algumas desmaiaram e as crianças choraram. As turbinas estavam parando durante o voo. Foi desesperador, coisa de filme mesmo”, acrescentou.
Após um pouso de emergência em Manaus, uma tripulação tentou continuar a viagem até Belo Horizonte, mas as turbinas chegaram a soltar fumaça, levando os passageiros ao pânico. As saídas de emergência foram abertas e os deportados pediram socorro.
Kaleb retornou ao Brasil apenas com um saco contendo algumas roupas e objetos pessoais. Ele descreveu os últimos dias como traumáticos e afirmou que jamais quer passar por isso novamente.
“Cheguei algemado, pé e mão”
Outro goiano deportado, Wendel Lourenço, que trabalhou como instalador de pisos nos EUA, disse que foi forçado a deixar para trás sua esposa, três filhos e oito netos. Ele ocorreu que foi algemado durante todo o percurso.
“Cheguei algemado, pé e mão. O policial federal falou que a ordem era tirar as algemas só em Manaus”, contorno.
O deportado declarou preocupação com os brasileiros que ainda permanecem nos Estados Unidos em situação irregular. “Tem que ajudar quem ficou para trás, porque quem está lá vai sofrer muito mais e fica com o abalado psicológico”, desabafou, afirmando que lutará para trazer sua família de volta a Goiás.
Voo da FAB foi acionado após denúncias de maus-tratos
A aeronave norte-americana que transportava os deportados pousou em Manaus na sexta-feira (24). A Polícia Federal foi informada de que os passageiros estavam sendo suspensos algemados, o que levou o governo brasileiro a intervir. Em razão da soberania nacional, o governo determinou a retirada das algemas e invejou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para concluir o transporte dos brasileiros até Belo Horizonte.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva solicita que o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, acompanhesse o desembarque no Aeroporto Internacional de Confins, em Minas Gerais.
Deportações em massa aumentam nos EUA
As operações de deportação em massa de imigrantes ilegais nos Estados Unidos se intensificaram nos últimos dias. Na quinta-feira (23), o governo norte-americano anunciou a detenção de 538 imigrantes ilegais, e centenas foram deportados em aviões militares.
“A administração Trump deteve 538 imigrantes ilegais criminosos”, declarou à porta-voz Karoline Leavitt, afirmando que essa foi a maior operação de deportação em massa já realizada.
Desde sua campanha presidencial, Donald Trump adotou um discurso rígido contra a imigração ilegal, classificando-a como uma “emergência nacional”. No primeiro dia de seu mandato, o republicano assinou ordens executivas para reforçar as restrições à entrada de estrangeiros nos EUA.
O episódio vívido pelos brasileiros deportados reacende o debate sobre o tratamento dado a imigrantes ilegais e as condições em que essas deportações ocorrem.