Bolsonaro quer maioria no Senado para acabar com os mandos e desmandos do STF
Ex-presidente articula para eleger o maior número de senadores pelo país. A é a única com poder para bater de frente com ministros e aprovar mudanças legislativas de grande impacto
Desde o ano passado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem reiterado sua intenção de construir a maior bancada possível no Senado Federal nas eleições de 2026. Para isso, ele deve apostar em alianças com outros partidos e em candidaturas com forte apelo popular. A estratégia inclui lançar nomes de peso nos estados, consolidar parcerias regionais e fortalecer a influência do PL no cenário político nacional.
No Distrito Federal, Bolsonaro conta com sua esposa Michelle Bolsonaro como a principal aposta. Pesquisas internas do PL indicam que ela pode atrair entre 800 mil e 1 milhão de votos, sendo uma forte puxadora de votos. Além de Michelle, a estratégia inclui uma chapa puro-sangue com Bia Kicis (PL) como segunda candidata ao Senado, fortalecendo a base bolsonarista na capital do país.
Em Goiás, o cenário político apresenta desafios internos. A primeira-dama Gracinha Caiado (União Brasil) é vista como favorita para uma das vagas ao Senado, com projeções de alcançar 1 milhão de votos. No entanto, sua possível candidatura pelo União Brasil tem provocado uma crise no PL goiano. A aproximação entre o vice-governador Daniel Vilela (MDB) e Jair Bolsonaro no final do ano passado, intermediada pelo vereador de Goiânia, Vitor Hugo, causou desconforto na cúpula do partido em Goiás. O objetivo do encontro foi tentar alinhar o PL goiano a Vilela nas eleições de 2026.
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A movimentação gerou atritos no PL estadual, que chegou a emitir uma nota pública criticando a postura de Vitor Hugo. Nos bastidores, até se especulou sobre uma possível expulsão do vereador. Enquanto isso, o presidente estadual do partido, senador Wilder Morais, defende a candidatura do deputado federal Gustavo Gayer ao Senado, o que aumenta as divergências internas.
Fala-se que uma aliança com o União Brasil, partido do governador Ronaldo Caiado, poderia fortalecer o PL e aumentar as chances de eleger um segundo senador, puxado pela provável votação expressiva de Gracinha Caiado. E Bolsonaro já deixou claro que a decisão final será dele e do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. Diante desse contexto, é quase certo que Vitor Hugo seja o escolhido para disputar o Senado em 2026, colocando-o como um dos nomes de confiança de Bolsonaro no estado.
E assim o ex-presidente, com seus aliados de primeira hora, articula para formar maioria no Senado. Quanto mais senadores eleger pelo país, melhor para seu projeto de poder. O interesse de Bolsonaro na Casa é o fato de o Senado ser o único a poder cassar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e aprovar mudanças legislativas de grande impacto.Um exemplo é a PEC 28/24, que concede ao Congresso Nacional o poder de suspender decisões do STF. A proposta, que tramita atualmente, reflete o interesse da base bolsonarista em limitar a atuação do Judiciário e reforçar o protagonismo do Legislativo.
Desafios
Ao O HOJE, o jornalista, especialista em Marketing Político e mestrando em Comunicação pela UFG, Felipe Fulquim, destacou os desafios dessa estratégia, sobretudo em um cenário político marcado por disputas estaduais e pela necessidade de articulação pós-eleição. Fulquim ressalta que as eleições para o Senado têm peso semelhante ao das disputas para governador, sendo um cargo majoritário com vagas limitadas. “Fazer maioria no Senado exige uma estratégia de longo prazo e muita articulação. Bolsonaro precisaria lançar candidatos competitivos em praticamente todos os estados, algo que não conseguiu em 2018 ou 2022”, avalia.
Além disso, mesmo que Bolsonaro eleja um número significativo de senadores, há desafios para aprovar grandes projetos, como mudanças constitucionais ou medidas que confrontam as decisões do STF. “Ele teria que superar não apenas as barreiras políticas, mas também construir consensos dentro da própria base aliada”, acrescenta Fulquim.
Apesar dos obstáculos, a estratégia de Bolsonaro para 2026 reflete sua visão de longo prazo: fortalecer sua influência política, reconquistar espaço no Congresso Nacional e consolidar uma base capaz de impulsionar sua agenda, incluindo um eventual retorno à Presidência da República.