Brasil está tentando encontrar um caminho de equilíbrio, diz Haddad
Durante reunião do FMI na Arábia Saudita, ministro da fazenda defende agenda que exija mais sustentabilidade fiscal, social e ambiental para o mundo
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Em reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), nesta segunda-feira (17), o ministro da fazenda, Fernando Haddad (PT), afirma que o Brasil está “tentando encontrar um caminho de equilíbrio e sustentabilidade, mesmo em face de um ajuste importante”. Ele explica que o Brasil saiu de uma inflação de dois dígitos, há três anos, para um índice entre 4% e 5%. “O Brasil está relativamente dentro da normalidade do Real, implementado há 26 anos”, aponta, durante conferência em Al Ula, na Arábia Saudita.
O ministro salienta que a alta do dólar no mundo causou um aumento da inflação, no segundo semestre do ano passado, levando o Banco Central brasileiro a intervir para garantir a queda da taxa. Em meio a essa situação, ele disse que o Brasil está crescendo em torno de 3% a 4% ao ano, nos últimos dois anos, contrariando todas as previsões nacionais e internacionais.
Haddad cita resultados do Governo Federal, como a “menor taxa de desemprego da história”, e medidas como “uma Reforma Tributária que é a melhor já feita no país” para atender a população mais pobre, que não pagará impostos sobre o consumo.
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“O ajuste fiscal que estamos fazendo não é recessivo, porque estamos garantindo uma taxa de crescimento de 3% a 4%, com uma inflação em declínio, mesmo tendo que aumentar a taxa de juros neste momento para convergir para as metas estabelecidas pelo Banco Central”, destaca. O ministro observa, também, que o dólar já “voltou a níveis adequados”, caindo em torno de 10% nos últimos 60 dias, o que deve fazer com que a inflação se estabilize.
“Reglobalização” sustentável
Se referindo ao G20 (grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Africana e União Europeia), Fernando Haddad defende uma reglobalização sustentável, não direcionada apenas a interesses do mercado, mas capaz de lidar com as desigualdades regionais e distribuir oportunidades econômicas geograficamente. “Temos que repensar uma reglobalização sustentável, social e ambiental. Algo que ganhou força hoje em dia. Temos que encarar isso com muito, muito cuidado”, frisa.
Nesse contexto, ele também comenta que o FMI está mudando “para melhor”, incluindo elementos que reforçam a cooperação internacional e lançam luz sobre assuntos que antes não eram considerados na relação com os países membros. “Um deles é a questão social, que se tornou a questão central para a situação financeira com os países que são ajudados pelo FMI”, esclarece.
Outro ponto abordado diz respeito às transformações ecológicas, que assumem papel importante nas negociações com os países. Para Haddad, o trabalho que o FMI vem fazendo traz esperança em relação a novas formas de financiamento para países de baixa renda, que estão enfrentando “taxas de juros insuportáveis”, quando precisam cumprir seus compromissos.
Carbono e serviços ambientais
O ministro brasileiro salienta ainda a necessidade de integração dos mercados de créditos de carbono para evitar que alguns países usem barreiras comerciais sob o pretexto de proteger o meio ambiente, “quando nem sempre esse é o principal objetivo”. Além disso, destaca, entre outros assuntos, a questão do pagamento por serviços ambientais, lembrando que muitas economias emergentes gastam “pequenas fortunas para manter suas florestas tropicais em pé”, como acontece com o Brasil e alguns países vizinhos.
Segundo o ministro da Fazenda, o Brasil defende um arranjo financeiro que permita, de um lado, ter um mercado internacional de crédito de carbono e, do outro, o pagamento por serviços ambientais para países de baixa renda que estão tendo dificuldades para pagar suas dívidas em virtude do dólar alto e das altas taxas de juros.
Haddad reforça que é preciso pensar em ajustes fiscais e ações sobre mudanças climáticas junto com desenvolvimento social. “A orientação que o presidente Lula, juntamente com organizações e fóruns internacionais dos quais o Brasil faz parte, é que sejamos capazes de coincidir uma agenda econômica com uma agenda socioambiental. Então, não parece impossível a conciliação desses múltiplos interesses em torno de uma agenda que efetivamente exija mais sustentabilidade fiscal, social e ambiental para o mundo”, disse.
Conferência para Economias de Mercados Emergentes
Organizada pelo Ministério das Finanças da Arábia Saudita e pelo Escritório Regional do FMI em Riad, a Conferência para Economias de Mercados Emergentes ocorre anualmente. O evento trata do tema da política econômica e reúne ministros de Finanças, representantes de Bancos Centrais e formuladores de políticas de mercados emergentes.
O ministro Fernando Haddad participa do painel final do encontro, moderado pela diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, com participação da ministra do Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Cooperação Internacional do Egito, Rania Al-Mashat, e dos ministros de Finanças do Paquistão, Muhammad Aurangzeb, e da Turquia, Mehmet Şimşek.