Queda na aprovação de Lula dá poder de barganha ao Centrão
Popularidade baixa do governo aumentou poder de negociação dos partido de centro na reforma ministerial
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A queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem preocupado a cúpula do Palácio do Planalto. Além dos motivos óbvios que uma popularidade baixa traz para um governo – como o olhar de descontentamento da população, a pressão dos opositores e um cenário eleitoral em desvantagem -, o presidente perdeu poder de barganha nas negociações com o Centrão na reforma ministerial, que é discutida desde o fim do ano passado.
A pesquisa Datafolha, revelada na última semana pelo jornal Folha de S. Paulo, aponta que 41% dos brasileiros reprovam a gestão petista e apenas 24% aprovam o governo Lula. Segundo o instituto, é o maior índice de reprovação e o menor índice de aprovação do presidente em todos os seus três mandatos. A efeito de comparação, em outubro e dezembro de 2005, no auge do mensalão, Lula tinha 28% de aprovação.
Com a popularidade em baixa e a iminência da reforma ministerial, Lula, que antes relutava em entregar ministérios estratégicos para o Centrão, viu seu poder de negociação diminuir. O presidente deve abrir mais espaço para as legendas do Centrão – leia-se PSD, MDB, PP, União Brasil e Republicanos – nos cargos da Esplanada, porém, quem dá as cartas agora são os caciques dos partidos.
As ambições do Centrão na reforma ministerial não são poucas. O bloco vê com bons olhos a Secretária de Relações Institucionais (SRI), que trabalha na articulação política do governo e tem poder de distribuição das emendas parlamentares. A pasta é chefiada por Alexandre Padilha, homem de confiança de Lula que, caso saia da SRI, deve ser direcionado para outro cargo ministerial.
Para substituir Padilha, o Centrão já tem um nome favorito. O cotado é o deputado Isnaldo Bulhões (AL), líder do MDB na Câmara dos Deputados, que tem o aval do presidente da Casa Baixa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
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Além disso, as pastas de Saúde e Desenvolvimento Social são bem quistas pelos partidos de centro. Nísia Trindade, que chefia a Saúde, constantemente tem seu nome ventilado em possíveis demissões do presidente. Já Wellington Dias, do Desenvolvimento Social, tem a desconfiança de aliados de Lula.
O ministro chegou a anunciar publicamente que o governo estudava reajustar o valor do Bolsa Família – programa da alçada de sua pasta – e foi desmentido pelo ministro Rui Costa, da Casa Civil. A atitude enfureceu Sidônio Palmeira, secretário de Comunicação Social da Presidência, que acredita que Dias desrespeitou a determinação de que todo anúncio deve ser previamente combinado.
Com a baixa popularidade do governo, a leitura é que Lula é mais dependente do apoio do Centrão do que o contrário. Os partidos não devem aceitar ministérios menos relevantes e que possuem verbas reduzidas. As lideranças do bloco avaliam que para se aliarem ao governo no atual momento, os ministérios precisam ser do alto escalão.
Na véspera do ano de disputa eleitoral, o Planalto também já projeta 2026. É claro que ter os partidos com cargos ministeriais não implica diretamente em um apoio a Lula – ou no candidato apoiado pelo presidente – no próximo ano, porém, facilita as negociações. Ademais, o Centrão é a maioria do Congresso e o governo não pretende se indispor em quem irá votar suas pautas prioritárias. (Especial para O Hoje)