Goiânia ocupa segundo lugar entre as capitais com pior monitoramento da qualidade do ar no Brasil
OMS estima que cerca de 7 milhões de mortes prematuras por ano sejam atribuídas à poluição do ar
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A qualidade do ar é um tema central nas discussões sobre saúde pública e sustentabilidade no Brasil. Uma pesquisa recente realizada pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) revelou que Goiânia ocupa o segundo lugar entre as áreas mais críticas no que diz respeito ao monitoramento da qualidade do ar. Essas duas cidades, seguidas por Manaus, Belém, Natal, Maceió, Florianópolis, João Pessoa, Teresina e Aracaju, enfrentam graves lacunas nas redes de monitoramento, de acordo com o levantamento.
Segundo o Iema, o Brasil possui apenas 245 estações de monitoramento da qualidade do ar, um número insuficiente para cobrir adequadamente as necessidades do país. O estudo aponta que seriam necessários ao menos 46 novos pontos para atender aos padrões dos Estados Unidos, ou 138 para seguir as diretrizes da União Europeia. Essa escassez de dados compromete não só a precisão do acompanhamento da poluição, mas também a possibilidade de intervenções rápidas e eficazes.
A falta de monitoramento adequado tem repercussões graves na saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 7 milhões de mortes prematuras por ano sejam atribuídas à poluição do ar, sendo as partículas finas (MP2,5), com diâmetro inferior a 2,5 micrômetros, os principais culpados. No Brasil, isso resulta em mais de 50 mil mortes anuais, um número alarmante que evidencia a urgência de ações efetivas.
De acordo com a médica pneumologista Daniela Campos, a exposição contínua ao ar de baixa qualidade pode trazer sérias consequências para as vias respiratórias. “A curto prazo, as pessoas podem desenvolver rinite alérgica, sinusite, irritação nos olhos e infecções pulmonares. A longo prazo, os efeitos são ainda mais graves, com o desenvolvimento de doenças como asma, bronquite crônica e DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica). A poluição também está associada a câncer de pulmão, principalmente devido a poluentes como o benzeno e o radônio, que são carcinógenos conhecidos”, alerta.
Ela ainda destaca que o contato com a poluição do ar também pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC), além de agravar condições preexistentes. “A relação entre a poluição do ar e o aumento de doenças respiratórias é clara, e a implementação de programas de monitoramento da qualidade do ar é essencial para proteger a saúde da população”, conclui.
O ambientalista Henrique Cury, aponta que a falta de estações de monitoramento é um dos maiores desafios enfrentados pela capital. “Goiânia carece de uma rede eficiente de monitoramento. No passado, houve estações que mediam material particulado, mas, provavelmente, não foram mantidas. A falta de estações automatizadas dificulta a obtenção de dados confiáveis e contínuos”, explica Cury.
Segundo ele, a cidade necessita de pelo menos duas a quatro estações automáticas de monitoramento, de acordo com os padrões internacionais. “Essa carência compromete o controle sobre a poluição e a implementação de políticas públicas voltadas à redução de emissões. Além disso, a ausência de inventários de emissões detalhados prejudica a identificação de fontes de poluição, como veículos e indústrias”, destaca.
A comparação de Goiânia com outras capitais brasileiras revela uma situação preocupante. Enquanto cidades como São Paulo contam com uma extensa rede de estações automatizadas de monitoramento, o município ainda luta com a escassez de equipamentos e a falta de cobertura.
“Em São Paulo, por exemplo, os dados de qualidade do ar são atualizados em tempo real e disponibilizados para a população, permitindo que as pessoas tomem decisões informadas sobre quando sair ou adotar precauções. Já em Goiânia, isso é uma raridade. A cidade precisa investir mais em tecnologia e em uma rede mais abrangente de monitoramento”, afirma Antônio Pasqualetto, ambientalista e especialista em poluição atmosférica.
Pasqualetto ainda acrescenta que a falta de monitoramento adequado prejudica a execução de políticas públicas eficazes. “Se não temos dados confiáveis, não podemos implementar medidas concretas para melhorar a qualidade do ar. É fundamental que se faça um esforço conjunto entre as autoridades locais, a sociedade civil e as empresas para superar esse problema”, finaliza.