PGR omite declarações de Mauro Cid e irrita oposição bolsonarista
Denúncia não consta falas do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que corroboram com defesa do ex-presidente
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A denúncia levada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Jair Bolsonaro (PL) e outras 33 pessoas, sendo 24 militares, gera repercussões entre os opositores e apoiadores do ex-presidente. A denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi inserida no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
A denúncia se sustenta através das investigações da Polícia Federal (PF) e das declarações do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, que colabora com a apuração das autoridades. Nos depoimentos de Cid, prós e contras o ex-chefe do Executivo foram apresentados. Porém, o texto que denuncia Bolsonaro omite declarações do tenente-coronel que corroboram com a defesa do ex-presidente.
A PGR cita na denúncia que Bolsonaro tinha conhecimento do plano “Punhal Verde e Amarelo”. O plano tinha como objetivo assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT); o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB); e o ministro do STF, Alexandre de Moraes. Porém, a versão de Cid não confirma se o ex-presidente sabia ou não do plano. “Eu não tenho ciência se o presidente sabia ou não do plano que foi tratado, do Punhal Verde Amarelo, e se o general Mário levou esse plano para ele ter ciência ou não”, relatou Cid, em delação no dia 5 de dezembro de 2024.
O monitoramento de Alexandre de Moraes também é um ponto de discordância da denúncia de Gonet e do depoimento de Mauro Cid. O texto enviado da PGR enviado ao Supremo enfatiza que o delator premiado confessou que Bolsonaro ordenou o monitoramento de Moraes, mas omite a explicação de Cid. Em depoimento no dia 11 de março do ano passado, Cid afirmou: “Um deles [objetivo] é que ele [Bolsonaro] recebeu a informação que o general Mourão estaria se encontrando com ele [Moraes] em São Paulo, então foi uma maneira de verificar se essa informação era verdade ou não”.
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Outros elementos que colocam a denúncia e as declarações de Cid em conflito são: a operação de 15 de dezembro – data que aconteceria a tentativa de golpe; a reunião dos militares em Brasília no dia 28 de dezembro; e a adesão do general Estevam Theophilo, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter), ao golpe.
As omissões de declarações e explicações de Cid na denúncia da PGR irritou os apoiadores do ex-presidente. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), fiel escudeiro de Bolsonaro, afirmou que a denúncia de Gonet era um roteiro “digno de Hollywood”. “Vocês estão de sacanagem? Olha o nível de credibilidade do roteiro digno de Hollywood do Gonet, ao dizer que tinha um ex-presidente querendo matar o Lula (PT) sem provas disso”, disse o parlamentar em discurso na Câmara dos Deputados na última semana. Nikolas classificou a tentativa de golpe investigada pela PF como “golpe de home office”.
Nomes do alto escalão do governo Bolsonaro estão na denúncia de Gonet, como o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), chefe da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) no governo Bolsonaro; o ex-ministro e ex-candidato à vice na chapa de Bolsonaro em 2022, Walter Braga Netto; o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno; o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira; e Mauro Cid. (Especial para O Hoje)