Trabalho demais, saúde de menos
Lesões por esforço repetitivo e distúrbios osteomusculares estão entre as principais causas de afastamento no Brasil e afetam milhares de trabalhadores todos os anos

As dores começam discretas: um leve incômodo no punho, um formigamento no braço, uma rigidez na lombar ao final do expediente. Aos poucos, os sintomas se tornam constantes, comprometem a produtividade e, em muitos casos, resultam no afastamento do trabalho. As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) afetam músculos, tendões, ligamentos e nervos, causando dor, inchaço e dificuldade de movimentação. Embora não sejam novas, essas condições continuam entre as principais causas de afastamento profissional no Brasil.
Segundo dados da Previdência Social, aproximadamente 30% dos afastamentos por doenças ocupacionais no país estão ligados a LER/DORT. De 2007 a 2021, mais de 102 mil diagnósticos foram registrados no Brasil. Em 2023, mais de 10 mil trabalhadores precisaram se afastar do trabalho devido a essas condições. Para alertar sobre o problema e promover a prevenção, o Dia Mundial de Combate a LER/DORT é lembrado em 28 de fevereiro.
Apesar de muitos ainda utilizarem a sigla LER, a terminologia DORT passou a ser adotada para abranger outras sobrecargas que impactam o trabalhador. Além dos esforços repetitivos, fatores como posturas inadequadas, uso excessivo de força, vibração de ferramentas e contrações musculares prolongadas também contribuem para o desenvolvimento dessas enfermidades.
Os distúrbios osteomusculares mais comuns são tendinites – especialmente no ombro, cotovelo e punho –, lombalgias e mialgias, que afetam diversas partes do corpo. A reumatologista Camila Zubeidi explica que os sintomas podem variar. “Dor nas costas, pescoço, ombro, mãos ou braços, inchaço, formigamento ou fraqueza muscular são alguns dos sinais de alerta. Muitas vezes, o trabalhador só busca ajuda quando a dor já compromete suas funções diárias”, afirma.
O tratamento depende da gravidade do caso e pode incluir fisioterapia, uso de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, mudanças na rotina de trabalho e, em situações mais graves, cirurgia. A médica destaca que a prevenção é fundamental e envolve cuidados simples, como manter uma postura correta, organizar o espaço de trabalho de forma ergonômica, realizar pausas regulares para alongamento e praticar atividades físicas.
Quando a dor impede a continuidade da atividade profissional, o trabalhador pode recorrer ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para obter benefícios. O advogado previdenciarista Jefferson Maleski explica que, se a incapacidade for temporária, é possível solicitar o auxílio por incapacidade provisória, antigo auxílio-doença. “Se o trabalhador não conseguir mais exercer sua função de forma definitiva, pode pedir o benefício por incapacidade permanente, que substitui a antiga aposentadoria por invalidez”, explica.
Aqueles que não são contribuintes da Previdência Social também podem recorrer ao Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS), desde que comprovem a deficiência causada pela doença e uma renda familiar de até um quarto do salário mínimo por pessoa. Antes de conceder a aposentadoria definitiva, o INSS pode oferecer reabilitação profissional, com cursos gratuitos do Senai e Senac. Caso o trabalhador seja considerado apto para outra função, ele recebe um certificado e o benefício é suspenso. Se a reabilitação não for possível, a incapacidade é reconhecida como permanente.
As estatísticas reforçam que LER/DORT não podem ser ignoradas. Para muitos trabalhadores, esses problemas representam não apenas dor e limitações físicas, mas também instabilidade profissional e financeira. A prevenção e a conscientização são as melhores estratégias para reduzir o impacto dessas doenças, garantindo condições de trabalho mais saudáveis e protegendo a qualidade de vida dos profissionais.