Kassab vê com desconfiança possibilidade de fusão com o PSDB
Grupo detém maior quantidade de prefeitos no Brasil e pode perder lideranças com abertura de janela partidária

O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, analisa com cautela o destino do partido político que comanda. Nos bastidores, o comentário é de que o dirigente vê, inclusive, com certo receio a possibilidade de fusão da sigla com o PSDB, comandado pelo ex-governador goiano Marconi Perillo.
Os motivos para tal desconfiança são nítidos. O principal deles passa pelo pós-fusão. Isso porque, na contramão do PSDB, o PSD se revelou em 2024 um partido político em ascensão. O protagonismo político nos municípios foi tamanho que fez do partido o grupo com o maior número de prefeitos em todo Brasil.
Evidentemente, quem comanda tanta gente tem um poder de influência e barganha de poucos. A leitura é que depois do triunfo eleitoral de outubro, Kassab passou a circular com ainda mais força entre os principais agentes da república. Ele tem negociado, inclusive, posições de destaque para o partido que foi alçado a um dos principais nomes do famoso centrão.
Ao passo em que Kassab articula espaço para seu grupo político no governo Lula, ele articula também construção de candidatura à presidência da República (tendo Ratinho Júnior, o governador do Paraná, como nome), e, de olho em 2030, posição de vice na chapa governista em São Paulo. Isso tudo só se tornou possível graças à força conquistada pelo grupo que tem crescido cada vez mais.
Na contramão disso, o PSDB vive uma intensa desidratação. Os tucanos perderam importantes nomes de seu quadro de lideranças nos últimos anos. Como se não bastasse, foi uma das siglas que mais perdeu prefeituras a partir das eleições de 2024. Há anos, o partido que já figurou como potência nacional vê, cada dia mais, sua influência escapar por entre os dedos, o que tem forçado tomar decisões pela sobrevivência.
Nesse contexto, uma dessas decisões pode ser a de se fundir com o PSD, de Kassab. Por um lado seria bom para o PSD que incorporaria o que restou dos tucanos. Mas não só. Nos bastidores, a leitura é que Gilberto Kassab enfrenta certo receio. Isso porque a partir do momento em que ambos os partidos decidem se unir, será aberta uma janela para que as lideranças, filiadas em qualquer uma das siglas, possam desembarcar do novo grupo sem prejuízos políticos.
O ganho será maior que a perda? Essa é a pergunta que martela na cabeça de Kassab. Ainda que na posição de presidente dessa importante sigla chamada PSD, é impossível deter um controle absoluto em todos os estado, onde existem realidades completamente distintas do ponto de vista político-partidário.
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Em outras palavras, ainda que em um primeiro momento a decisão de agrupar o PSDB represente ‘soma’, o assunto não é tão simples como parece. Há quem acredite que Kassab não vai titubear em recuar caso entenda que esse movimento possa trazer a perda de ao menos 1% da força de seu grupo.
Otimista
Em paralelo, o presidente nacional do PSDB acredita que o PSDB pode ser uma alternativa viável e que a fusão com outros partidos pode fortalecer sua posição no cenário político. Em entrevista ao Estúdio I da GloboNews, na última terça-feira, 11, o tucano destacou: “Estamos conversando muito nesses últimos três meses, depois das eleições de 2024, com vários atores e vários partidos. Mas, especialmente, internamente”.
Segundo ele, o PSDB tem uma história, um legado no Brasil, não só pelo “grande governo do FHC, plano real e outras conquistas”, mas também pelo que foi feito em vários estados. “Governamos 18 deles. Tivemos e temos bancadas muito qualificadas na Câmara e no Senado. Temos ex-presidentes, fundadores, líderes que precisam ser ouvidos e consultados permanentemente”.
O tucano disse que tem exercitado o papel de conversar com todos para definir o que será melhor para o país. “Não só para nós. Não abrimos mão de discutir um projeto de País. Um projeto econômico e social. O PSDB sempre teve compromisso com programas sociais e foi pioneiro nisso”.