Trump diz que Brasil é um dos países que “cobram demais dos EUA”
No entanto, segundo afirma especialista, “os dados não jogam a favor dele” e o país da América do Norte é “um dos mais protecionistas”

Em um longo discurso proferido nesta quarta-feira (5), o presidente norte-americano, Donald Trump, disse que o Brasil é um dos países que “cobram demais dos EUA”. De acordo com o republicano, se referindo também ao Brasil, “outros países usaram tarifas contra nós por décadas, e agora é a nossa vez de começar a usá-las contra esses países”. Em uma entrevista exclusiva ao Jornal O Hoje, o cientista político Guilherme Carvalho, salienta que o discurso não passa de uma falácia, tendo em vista que os Estados Unidos são, hoje, “um dos países mais protecionistas que tem no mercado”.
O especialista aponta que o discurso nesse sentido “é muito mais uma dessas tentativas de criar narrativas falsas e cortinas de fumaça que o Trump elenca. Ele parte daquele pressuposto que se falar a mesma coisa várias vezes, isso vai virar algum tipo de consciência, algum tipo de verdade, mas os dados não jogam a favor dele”.
“Tanto é que quando olhamos para os contenciosos na OMC [Organização Mundial do Comércio], o país que é mais acusado de deformidades em termos de liberdade de mercado – que é para onde a OMC ‘joga’ – são os Estados Unidos, o mais denunciado. A China tem acionado os Estados Unidos na OMC constantemente, o Brasil aciona constantemente”, analisa Carvalho.
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O cientista político ainda pondera, “e o que são esses tipos de deformidades? Um país tem um acordo de livre comércio em um determinado produto e, para proteger a indústria interna, os Estados Unidos sobem as barreiras tarifárias, para aumentar a competitividade interna. Trazendo, assim, uma deformidade em termos dos acordos, rompendo, dessa forma, acordos internacionais e tratados”.
“Os Estados Unidos são, talvez, um dos países mais protecionistas que temos no mercado, e um dos que mais fazem propaganda a favor do livre mercado. Eles ganham muito com os países que abrem as suas políticas tarifárias. Mas são um dos que mais são protecionistas, principalmente, dentro do setor agrícola, que é o setor em que nós competimos com eles. Sobretudo, naquilo que é relativo à carne bovina, por exemplo”, examina o especialista.
Guilherme Carvalho afirma que esse discurso do presidente norte-americano é uma falácia enorme, “novamente, Trump joga para o público interno”. O cientista também revela que um dos culpados na disseminação desse tipo de discurso falso é a imprensa. “Entendo que a imprensa fica noticiando, repetindo isso, e fica parecendo que é verdade, mas não é. Esse é o ponto, e o Trump sabe jogar muito bem com isso. Ele tem essa habilidade”, ressalta.
“Trump faz esse discurso para dentro, mas é um discurso que obriga a ter ações para fora. Então, ele está jogando para tentar baixar as barreiras tarifárias no mundo inteiro para os Estados Unidos. Tentar forçar a abertura de mercado, mas sem mexer no tipo de política. É a forma como eles lidam com o comércio internacional, que é uma forma profundamente desigual e profundamente desleal em relação aos chamados parceiros comerciais do país norte americano. É uma relação bem unilateral”, finaliza.
Amplo discurso
No contexto geral, no mesmo discurso, Trump atenua briga com Zelenski e menciona Brasil como alvo de tarifas. O presidente norte-americano afirma que a sua defesa é por um cessar-fogo na guerra da Ucrânia. O chefe do Executivo estadunidense chegou a mencionar o Brasil como um dos países que “cobram muito” dos Estados Unidos e prometeu novas tarifas, como mencionado acima. Além disso, disse mais uma vez que deseja retomar o controle do Canal do Panamá e anexar a Groenlândia. O discurso foi proferido no Congresso americano e transmitido para toda a população.