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domingo, 30 de março de 2025
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Agronegócio

Crise financeira no agro: produtores enfrentam juros altos e incertezas políticas

Com o aumento da taxa Selic e a seletividade do crédito, o agronegócio brasileiro enfrenta um de seus momentos mais desafiadores, com produtores rurais pressionados por endividamento e instabilidade econômica

Postado em 26 de março de 2025 por Micael Silva
Crise financeira no agro: produtores enfrentam juros altos e incertezas políticas Foto: Divulgação
Crise financeira no agro: produtores enfrentam juros altos e incertezas políticas Foto: Divulgação

Nos últimos meses, Leandro Marmo, advogado especializado em direito do agronegócio , tem acompanhado com crescente inquietação os desdobramentos políticos e econômicos que afetam diretamente o campo. “A cada nova decisão em Brasília, vejo se formar uma tempestade que ameaça não só a sustentabilidade do agronegócio, mas a sobrevivência de milhares de produtores rurais”, afirma Marmo. Para ele, o cenário atual é de crédito escasso, juros impraticáveis e um setor cada vez mais pressionado por instabilidades econômicas e financeiras.

A elevação da taxa Selic para 14,25% ao ano, anunciada em março, não é apenas um número frio. “Na prática, significa empréstimos com juros superiores a 20% ao ano nas linhas de recursos livres — que, vale lembrar, representam mais de 70% de todo o financiamento bancário disponível ao produtor rural”, destaca o especialista. Essa situação ocorre em um momento crítico, em que o produtor precisa investir para plantar, mas corre o risco de trabalhar a safra inteira para pagar o banco — e ainda terminar no vermelho. Para Marmo, “é uma equação difícil de fechar.”

Enquanto isso, o crédito vai ficando mais seletivo, mais caro e, em alguns casos, simplesmente inacessível. Leandro compartilha: “Conversei com colegas e clientes nas últimas semanas que tiveram propostas de financiamento com garantias cada vez mais rígidas e prazos cada vez mais curtos.” Para ele, isso não é coincidência. “O mercado está desconfiado, os bancos estão cautelosos, e os riscos estão aumentando”, observa. A inadimplência no agro, segundo o próprio Serasa, já vinha subindo desde o fim de 2024, e a tendência é que isso se agrave. “O produtor que já estava endividado empurrou a dívida para 2025. Mas agora, não há mais muito para onde empurrar.”

O cenário político também adiciona camadas de complexidade. “O país caminha para mais uma eleição presidencial, e todo o setor produtivo — do agronegócio à indústria urbana — parece ter entrado em compasso de espera”, aponta Leandro Marmo. A polarização e a incerteza sobre quem estará à frente da economia a partir de 2026 têm paralisado decisões de investimento, represado capital e enfraquecido ainda mais a confiança no ambiente de negócios.

A aprovação do Orçamento Federal de 2025, após mais de três meses de atraso, trouxe algum alívio, mas também escancarou a dificuldade de planejamento. “Com os recursos do governo limitados mês a mês, o setor agrícola ficou sem saber com o que poderia contar”, afirma Marmo. Agora, com os números na mesa — R$ 5,8 trilhões de orçamento —, já se projeta o Plano Safra mais caro da história. “E não é só por causa dos insumos, que seguem dolarizados. É pelos juros. Pela insegurança econômica. Por um crédito cada vez mais exigente”, acrescenta.

Leandro também observa um aumento expressivo nos pedidos de recuperação judicial de grandes empresas do setor. “A AgroGalaxy já entrou com o seu, com um passivo bilionário. A Portal Agro veio na sequência. E, mais recentemente, a Lavoro Agro contratou a mesma consultoria que assessora a AgroGalaxy, o que chamou atenção do mercado”, conta. Ainda que a Lavoro tenha reafirmado sua solvência, para ele, esse tipo de movimentação “apenas confirma que estamos, sim, atravessando a maior crise financeira da história do agro brasileiro.” O volume envolvido nessas reestruturações é gigantesco — e isso gera, naturalmente, instabilidade e receio por parte dos credores e das instituições financeiras.

Marmo considera que vivemos um momento em que o produtor rural está encurralado entre a incerteza política e o estrangulamento financeiro. “E não é exagero dizer que parte expressiva do agronegócio está hoje à beira de um colapso silencioso — silencioso porque, no campo, não há tempo para protesto. Há terra para cuidar, contas para pagar e riscos que não esperam.”

Sua orientação tem sido a mesma, repetida como um mantra aos seus clientes e parceiros: “Cautela. Planeje cada investimento como se estivesse num campo minado. Reavalie seu endividamento. Negocie com seus credores. Diversifique, se possível. E, acima de tudo, mantenha-se informado e juridicamente amparado.” Para ele, as próximas safras exigirão mais do que gestão técnica: “Exigirão inteligência jurídica, firmeza emocional e visão estratégica.”

Leandro conclui: “Porque plantar, hoje, é também um ato de resistência.”

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