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domingo, 30 de março de 2025
Entre telas e transtornos

Série questiona os impactos da era digital na adolescência

Produção aborda impulsividade, assédio virtual e falta de supervisão parental, ampliando o debate sobre a vulnerabilidade dos jovens na era digital

Postado em 26 de março de 2025 por Luana Avelar
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A série Adolescência, exibida pela Netflix, tem se destacado globalmente ao abordar, de maneira franca e intensa, as dificuldades vividas pelos jovens na atualidade. Ocupando as primeiras posições no ranking de visualizações em diversos países, a produção tem sido elogiada por sua abordagem de temas sensíveis, como violência, intimidação virtual e a instabilidade emocional na juventude. O psiquiatra Marco Antonio Spinelli, no artigo Adolescência, a série. O Mundo Frágil em que Vivemos, examina a forma como a série trata essas questões, enfatizando a influência das redes sociais e as pressões impostas a indivíduos entre 10 e 14 anos.

Segundo Spinelli, a narrativa ultrapassa a ficção ao lançar um alerta sobre comportamentos impulsivos que podem surgir sem indícios prévios. A trama acompanha Jamie, um menino de 13 anos, oriundo de uma família de classe média, que surpreende a todos ao cometer um ato de violência contra sua colega Katie. Sem histórico de agressividade ou diagnóstico de transtornos psiquiátricos, o protagonista personifica a complexidade do comportamento impulsivo, aspecto central na análise do médico.

O psiquiatra, mestre pela Universidade de São Paulo, destaca que a faixa etária retratada na série tem apresentado um crescimento em casos de autolesão e condutas de risco associadas ao uso excessivo das redes sociais. Ele cita um estudo britânico que aponta um aumento preocupante em episódios de automutilação, sobretudo entre meninas, ressaltando como a exposição digital e a sensação de isolamento influenciam a saúde mental desse grupo. De acordo com Spinelli, essa realidade refuta a noção de que apenas adolescentes mais velhos estariam sujeitos a tais problemas, evidenciando a necessidade de maior atenção às etapas iniciais da adolescência.

Outro aspecto analisado é a dinâmica virtual de Jamie, que, em determinado momento, é chamado de “incel” por Katie. O termo, derivado da expressão involuntary celibate (celibatário involuntário), tem sido utilizado de forma pejorativa para descrever jovens que se sentem rejeitados socialmente. O psiquiatra observa que insultos desse tipo, aliados ao assédio virtual, podem desencadear sofrimento psicológico, contribuindo para episódios de agressividade ou até mesmo para o agravamento de quadros depressivos.

A série também aponta a falta de supervisão parental como um fator relevante no desenvolvimento desses conflitos. Os pais de Jamie, retratados com um misto de culpa e incredulidade, são apresentados como figuras distantes da realidade virtual do filho. Spinelli adverte que a ausência de acompanhamento familiar no ambiente digital pode facilitar a exposição a conteúdos prejudiciais, incluindo discursos de ódio e estímulos à violência.

Para o psiquiatra, a mensagem transmitida pela série é óbvia: pais, educadores e profissionais da área devem estar atentos ao que ele define como um “sequestro virtual” da juventude, fenômeno no qual crianças e adolescentes passam a ser influenciados por discursos nocivos na internet. Ele defende intervenções precoces e maior regulamentação das plataformas digitais, com o objetivo de mitigar os impactos negativos sobre os jovens.

Ao concluir sua análise, Spinelli reforça a necessidade de um debate aprofundado sobre os riscos do uso descontrolado das redes sociais e a importância do diálogo aberto entre pais e filhos. Para ele, Adolescência se destaca por sua construção narrativa envolvente, mas também se consolida como um instrumento de conscientização, evidenciando as vulnerabilidades da geração atual diante da influência digital.

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