Temperatura dos oceanos atinge recorde e acende alerta para o clima global
Especialistas apontam impactos no Brasil e no agronegócio
Dados recentes divulgados pela agência norte-americana NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) apontam que a temperatura média dos oceanos atingiu o maior valor já registrado: 21,2ºC. O aumento, verificado no início de abril, ultrapassa o recorde anterior de 2016 e intensifica as preocupações sobre os efeitos das mudanças climáticas.
Segundo especialistas, o aquecimento anormal das águas oceânicas pode provocar alterações severas no clima global, como chuvas mais intensas, secas prolongadas e ciclones tropicais mais frequentes. No Brasil, as consequências devem ser sentidas especialmente no setor agropecuário e nos ecossistemas costeiros.
“A elevação da temperatura dos oceanos está diretamente ligada à intensificação do El Niño, que afeta o regime de chuvas e aumenta o risco de estiagem em algumas regiões e enchentes em outras”, afirma o climatologista José Marengo, membro do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.
Impactos diretos no Brasil
As regiões Sul e Sudeste devem registrar mais chuvas e inundações, enquanto o Norte e o Nordeste enfrentam seca prolongada e escassez hídrica. O aumento da temperatura nos mares também ameaça ecossistemas como os recifes de coral e prejudica a pesca artesanal.
Para o agronegócio, a previsão é de prejuízos em safras sensíveis ao excesso ou falta de chuvas, como a do milho e do feijão. A produção de energia hidroelétrica também pode ser comprometida com a redução dos níveis dos reservatórios.
Calor persistente e crise ambiental
O aquecimento dos oceanos tem efeito acumulativo e contribui para a retenção de calor no planeta. Cerca de 90% do excesso de calor gerado pelo efeito estufa é absorvido pelos oceanos. Isso acelera o derretimento de calotas polares e o aumento do nível do mar, com riscos para áreas litorâneas.
“O recorde nas temperaturas oceânicas é um sinal claro de que estamos avançando rapidamente em direção a pontos irreversíveis de colapso climático”, alerta Marengo.
A ONU, por meio da Organização Meteorológica Mundial, já havia apontado 2023 como o ano mais quente da história. A tendência, segundo o novo relatório da NOAA, é de que 2024 e 2025 continuem batendo recordes de aquecimento, especialmente se o El Niño persistir até o segundo semestre.