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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Conclave

Como a igreja católica escolhe um novo papa: Tradição, fé e sigilo

O conclave é o processo secreto de eleição do novo papa, realizado na Capela Sistina, no Vaticano

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 23 de abril de 2025
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Como a igreja católica escolhe um novo papa: Tradição, fé e sigilo. | Foto: Reprodução

Ao longo dos séculos, a escolha do líder da Igreja Católica Romana tem ocorrido de forma bastante reservada, dentro dos muros do Vaticano, por meio dos chamados conclaves. Essas reuniões sigilosas acontecem tradicionalmente após a morte ou renúncia de um papa e seguem um processo repleto de tradição e mistério, cujas origens remontam ao século XIII, período em que a escolha de um novo pontífice podia levar anos e, em alguns casos, exauria os participantes ao ponto de causar até mortes entre os cardeais.

O termo “conclave” deriva do latim “cum clavis”, que significa “com chave”, e remete ao antigo costume de trancar os cardeais até que chegassem a um consenso sobre o sucessor de São Pedro, evitando, assim, qualquer influência externa.

Trata-se de um dos processos eleitorais mais antigos e envoltos em sigilo do mundo. A eleição do papa é, além de um rito espiritual, um complexo jogo político, como é retratado no filme Conclave, lançado em 2024, que explora os bastidores desse evento singular. A ideia é garantir a máxima liberdade dos cardeais para que escolham, com consciência e sem pressões, o nome que julgam mais apropriado para liderar a Igreja.

Durante o conclave, os cardeais ficam completamente isolados, sem comunicação com o exterior, acesso à mídia ou troca de mensagens. Embora, em teoria, qualquer homem batizado na fé católica romana possa ser eleito, desde 1379 a escolha tem recaído exclusivamente sobre membros do Colégio de Cardeais com menos de 80 anos de idade.

Esse colégio é composto por cardeais em diferentes funções, muitos deles bispos e arcebispos nomeados pelo papa para ajudá-lo na administração da Igreja. Alguns atuam diretamente no Vaticano, enquanto outros lideram dioceses ao redor do mundo. Quando o conclave é convocado, todos os cardeais aptos viajam a Roma, pois a votação só pode ocorrer presencialmente.

O processo se inicia com uma missa especial na Basílica de São Pedro. Em seguida, os cardeais seguem para a Capela Sistina, onde acontece a eleição. O local é inspecionado rigorosamente para garantir que não haja dispositivos de espionagem, e os participantes são proibidos de revelar qualquer detalhe, sob pena de excomunhão.

As cédulas utilizadas na votação são de papel e distribuídas a cada cardeal, que escreve o nome de seu escolhido abaixo da frase em latim “Eligo in Summum Pontificem” (Eu elejo como Sumo Pontífice). Os votos são secretos e os cardeais não podem votar em si mesmos. Após preencherem as cédulas, eles se dirigem individualmente ao altar, seguindo a ordem de antiguidade, para depositar seus votos.

O resultado é apurado e anunciado entre os presentes. Caso algum dos candidatos receba dois terços dos votos, é declarado papa. Segundo diretrizes do Vaticano, o primeiro dia é geralmente reservado para celebrações e orações. No entanto, se houver tempo, pode ocorrer uma votação ainda nesse primeiro dia.

Se nenhum nome alcançar a maioria necessária, o conclave prossegue com até quatro votações diárias, duas pela manhã e duas à tarde. A partir do terceiro dia, se o impasse continuar, é feita uma pausa no quarto dia para oração e reflexão conjunta.

Esse processo eleitoral é, acima de tudo, considerado um momento de escuta da vontade divina. Cada sessão de votação é precedida por orações intensas, pedindo a orientação de Deus para que a escolha seja feita com sabedoria.

Após essa pausa, os cardeais podem realizar até mais sete votações. Persistindo o impasse, outra pausa é feita, e o processo segue até que haja uma decisão. Apesar de tudo isso, historicamente, os últimos 11 conclaves terminaram em menos de quatro dias, segundo registros da Diocese de Providence, nos Estados Unidos.

Mesmo com regras que permitem várias rodadas, muitas vezes o novo papa é escolhido já nos primeiros escrutínios. Durante esse momento, os fiéis ficam atentos ao sinal de fumaça branca, que anuncia a eleição, ou preta, indicando que ainda não houve consenso. Todo esse processo é rigidamente organizado e seguido de perto por milhões ao redor do mundo.

Fumaça branca

A entrada na Capela Sistina durante o conclave é estritamente proibida, mas o mundo acompanha o desenrolar da eleição do novo papa através de um símbolo tradicional: a fumaça que sai da chaminé instalada no telhado do Vaticano. Após cada rodada de votação, realizada pela manhã e à tarde, as cédulas são incineradas.

Se nenhum candidato alcançar o número necessário de votos, as cédulas são queimadas com uma substância que gera fumaça preta, sinalizando que a escolha ainda não foi feita. Por outro lado, quando finalmente há consenso e um novo papa é eleito, a fumaça que sobe ao céu é branca, um sinal aguardado com grande expectativa pelos fiéis ao redor do mundo.

Esse anúncio visual desencadeia uma onda de celebração entre as multidões que costumam se reunir na Praça de São Pedro, no Vaticano. Cerca de 30 a 60 minutos após a fumaça branca, o novo papa costuma fazer sua primeira aparição pública na sacada central da Basílica de São Pedro, onde pronuncia uma breve saudação e conduz uma oração.

A posse oficial do novo pontífice ocorre alguns dias após a eleição. Nas duas últimas sucessões, essa cerimônia solene foi realizada na própria Basílica de São Pedro.

Cardeais brasileiros que votam no conclave 

O Brasil possui atualmente uma representação significativa no Colégio de Cardeais da Igreja Católica, com figuras de destaque que exercem papéis importantes tanto no cenário nacional quanto internacional. Entre eles está o cardeal João Braz de Aviz, natural de Mafra (SC), nascido em 1947. Doutor em Teologia Dogmática, foi arcebispo de Maringá e de Brasília, e tornou-se cardeal em 2012, participando do conclave que elegeu o papa Francisco.

Dom Odilo Pedro Scherer, nascido em 1949 no Rio Grande do Sul, é arcebispo de São Paulo e foi nomeado cardeal em 2007. No conclave de 2013, chegou a ser cogitado como possível sucessor de Bento XVI. Já Orani João Tempesta, paulista de São José do Rio Pardo, nasceu em 1950, foi monge cisterciense e atua como arcebispo do Rio de Janeiro desde 2009.

Leonardo Ulrich Steiner, de Santa Catarina, nascido também em 1950, é franciscano e bacharel em Filosofia e Pedagogia. É conhecido por sua postura conciliadora dentro da Igreja. Sérgio da Rocha, paulista de Dobrada, nasceu em 1959, é arcebispo de Salvador e o primeiro brasileiro a integrar o Conselho de Cardeais, nomeado por Francisco em 2023.

Jaime Spengler, nascido em 1960 em Gaspar (SC), é arcebispo de Porto Alegre desde 2013 e foi o último brasileiro a ser elevado ao cardinalato, em dezembro de 2024. Por fim, Paulo Cezar Costa, fluminense de Valença, nasceu em 1967, é arcebispo de Brasília desde 2020 e foi feito cardeal em 2022 pelo papa Francisco.

 

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