Goiânia concentra quase 60% dos médicos do Estado
Com mais de 22 mil médicos em Goiás, apenas 8 mil são profissionais que atuam nas cidades de interior

Goiânia e Goiás têm se destacado, mais uma vez, em um dado que revela a grande disparidade na distribuição de médicos entre a capital e o interior. A cidade conta com 13.299 médicos registrados, o que representa quase 60% do total de profissionais no Estado, os dados foram apresentados a partir do estudo “Demografia Médica 2024”, realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Esse número revela que o Estado tem 8,89 médicos para cada mil habitantes, o que supera a média nacional, que é de 6,97, e a média do Centro-Oeste, de 6,76. Contudo, a realidade no interior de Goiás é diferente, e o Estado apresenta a pior distribuição do Centro-Oeste.
No Estado 22.019 médicos estão registrados, mas apenas 8.720 atuam fora de Goiânia, atendendo a uma população de mais de 5 milhões de pessoas. Isso resulta em apenas 1,49 médicos por mil habitantes no interior do estado, número que fica muito abaixo do ideal.
Essa diferença é uma das mais altas do Centro-Oeste, com Goiás ficando atrás de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O Distrito Federal concentra todos os seus médicos em uma área urbana, já que no estado não existe divisão entre capital e interior.
O levantamento, divulgado no final de abril de 2025, evidenciou que, embora o número total de médicos tenha aumentado no país, a desigualdade na distribuição continua sendo um desafio para garantir o acesso à saúde de qualidade em diversas regiões, principalmente fora das grandes capitais.
A pesquisa revelou que mais de 1,2 milhão de habitantes em Goiás residem em municípios com uma razão inferior há um médico para cada 1 mil habitantes. Isso significa que muitos goianos enfrentam dificuldades para acessar serviços médicos adequados, com a situação se agravando em localidades mais afastadas, onde a presença de médicos é escassa.
A reportagem contatou o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) para questionar qual a razão para essa disparidade entre o número de médicos na Capital e no interior, mas por motivos de agenda o conselho não conseguiu responder às indagações até o fechamento desta matéria.
Fatores que afastam os médicos do interior
Especialistas explicam que o baixo número desses profissionais no interior está relacionado a uma série de dificuldades enfrentadas pelos profissionais que optam por atuar fora da capital. Em alguns casos, a remuneração não atrativa, a falta de infraestrutura e as limitações das cidades menores, que dificultam a adaptação, acabam desestimulando a permanência dos médicos nessas regiões.
Muitos médicos acabam preferindo a capital por conta da maior oferta de serviços, oportunidades de formação contínua e uma estrutura mais robusta para o desenvolvimento profissional.
Entre os principais fatores que afastam os afastam do interior estão a ausência de uma segunda renda para o profissional, a falta de opções de lazer, a distância de centros urbanos que oferecem faculdades ou escolas de idiomas, além da escassez de estrutura para atendimento de casos graves.
Mesmo com a boa remuneração, muitos não se sentem seguros ao se estabelecer em cidades menores devido à falta de recursos adequados para o exercício da profissão.
Precariedade da infraestrutura agrava a situação
A ausência de outros profissionais da medicina especializadas, como pediatras, também agrava o quadro. Em situações de urgência, muitos médicos que atuam nas cidades do interior enfrentam a dificuldade de estabilizar pacientes devido à falta de equipamentos médicos e à impossibilidade de transferi-los para unidades de referência com maior estrutura.
A rotatividade de médicos também é um problema recorrente no interior do estado. Muitas vezes, um médico atende a uma localidade por um curto período de tempo, o que prejudica a continuidade do tratamento e a confiança dos pacientes no sistema de saúde. Essa instabilidade no quadro de profissionais médicos impacta diretamente a qualidade do atendimento e aumenta a insatisfação da população.
Outro fator importante é a precariedade das condições de trabalho nos municípios menores. A falta de estrutura adequada para exames e procedimentos mais complexos, a ausência de equipamentos modernos e a dificuldade de acesso a especialistas são obstáculos que desmotivam os médicos a permanecerem no interior. Para muitos profissionais, a solução encontrada é retornar à capital, onde as condições de trabalho são mais favoráveis.
Além disso, o modelo de contratação, na maioria dos casos como pessoa jurídica, é um ponto negativo significativo. A falta de estabilidade no emprego, o pagamento atrasado e, em algumas situações, o não pagamento dos salários, contribuem para que os médicos prefiram não se arriscar em cidades menores.
Uma das alternativas que poderia ajudar a melhorar a distribuição de médicos no interior seria a implementação de uma estrutura de saúde mais robusta nas regiões afastadas, com equipamentos modernos e profissionais especializa.