O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

Negócios

Varejo da moda cresce 2,1%, mas coleções de inverno e mercado se reinventa

Indústria de vestuário enfrenta dilema entre estoques enxutos, custo elevado de produção e clima incerto

Otavio Augustopor Otavio Augusto em 16 de maio de 2025
Modelos em tons terrosos e tecidos fluidos marcam a aposta. Divulgação/ FecomércioSP

Com a ausência do El Niño e a expectativa de um possível La Niña moderado em 2025, o clima brasileiro passa por uma reviravolta que já influencia o comportamento de consumo e força o varejo a se adaptar. Após verões extremamente quentes e invernos fracos nos últimos anos, a volta das chuvas e as temperaturas mais amenas mudam a dinâmica de vendas de produtos sazonais, como roupas e aparelhos de ar-condicionado.

Nos últimos dois anos, o calor persistente mesmo nos meses frios prejudicou as vendas de casacos, botas e outros itens típicos de inverno. Em 2024, apesar da onda de frio após o Dia das Mães, os meses seguintes registraram temperaturas até 4ºC acima da média histórica. A previsão de um inverno mais frio para 2025 anima o setor, mas a cautela prevalece.

Roupas mais leves, coleções menores no inverno 

A tendência nas vitrines aponta para coleções compactas, peças leves e sobreposições — o chamado estilo “cebola”. Segundo o IEMI – Inteligência de Mercado, o volume de peças para o outono-inverno de 2025 deve crescer apenas 1,8% em relação a 2024, enquanto os preços devem subir 3,5%.

Uma rede de moda com 43 unidades no Brasil reduziu em 20% o número de modelos lançados neste inverno em comparação ao ano passado. A aposta são tecidos fluidos, tons terrosos e azulados. “É preciso acertar na bola de cristal. Fazemos testes com nossas clientes para validar a coleção”, afirma a diretora da marca. Os preços subiram 12%, puxados pela alta do dólar e pelo encarecimento dos tecidos importados.

Já uma varejista voltada às classes C e D decidiu diminuir a participação das peças de inverno na coleção, de 50% para 46%. “Estamos investindo em moletons, mangas longas e jeans, peças que se adaptam ao ano todo”, explica a diretora comercial. Para manter o tíquete médio, a rede aposta em roupas versáteis, cartão próprio e estratégias de exposição dos produtos nas lojas.

Marcas de luxo, por sua vez, ampliou a coleção em 7%, especialmente para abastecer novas lojas. Com parte da produção na Ásia, os preços subiram 12%. “Coleção de inverno é sempre uma aposta arriscada. Pode ser espetacular ou virar dor de cabeça”, diz Paulo Matos, diretor-geral da marca.

inverno
Setor de vestuário de inverno cresceu 2,1% em 2024. Foto: Divulgação

Estoque sob vigilância e aposta no boho chic

Especialistas recomendam cautela. “Melhor que não vender é não ter estoque encalhado”, alerta Fábio Pina, economista da FecomercioSP. Ele destaca que 2025 começa com queda de 12,8% na confiança do consumidor e com 70% das famílias paulistas endividadas.

A saída, segundo o especialista em varejo Luís Taniguchi, está em coleções adaptáveis. “Invista em sobreposições, use cores invernais em peças leves e traga novidades sem exageros.” Ele também recomenda evitar itens com mesma estampa para toda a família, que limitam a compra.

Entre as tendências da moda, o estilo boho ressurge com força neste inverno, com destaque para camurça, tons naturais, texturas e detalhes artesanais. Calçados com saltos robustos, metalizados e plataformas compõem um visual autêntico e confortável, segundo Nayane Moitinho.

Eletrodomésticos fora de época 

As mudanças no clima não afetam apenas o vestuário. A indústria de eletrodomésticos também lida com novos padrões. O boom na venda de ares-condicionados e ventiladores fora de época reforçou a importância de monitorar o clima na hora de montar estoques. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o número de ares-condicionados no Brasil pode saltar de 36 milhões para 160 milhões até 2050 — um aumento de quase 350%.

Importados ganham espaço

Mesmo com aumento nominal de 6,5% no setor de vestuário em 2024, a produção ainda está aquém do potencial. “Poderíamos produzir 30% mais”, avalia Marcelo Prado, sócio do IEMI. O avanço das importações preocupa: a participação de roupas vindas de fora do Brasil passou de 18,5% em 2022 para 21,3% em 2023.

Diante da imprevisibilidade climática e de um consumidor mais cauteloso, o varejo brasileiro entra em 2025 com a missão de equilibrar apostas e estoques, ousadia e prudência. A moda pode até mudar com as estações, mas a necessidade de adaptação já virou regra para sobreviver no mercado.

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos canais de comunicação do O Hoje para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.
Veja também