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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
REFERêNCIA

Brasil lidera doação de leite materno

Rede nacional é referência internacional, mas amamentação segue abaixo das metas globais

Luana Avelarpor Luana Avelar em 22 de maio de 2025
Foto: CONASS
Foto: CONASS

Antes mesmo de abrir os olhos, o bebê prematuro pode receber o alimento que decide seu destino. Em um frasco etiquetado, guardado sob refrigeração, repousa o leite materno doado por uma mulher que ele nunca verá. Esse leite, que não é comprado nem produzido por máquinas, alimenta, imuniza e, em muitos casos, salva.

O Brasil tem a maior rede de bancos de leite humano do mundo, com mais de 200 unidades que distribuem cerca de 160 mil litros por ano. Reconhecido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o sistema ajuda a reduzir a mortalidade infantil, mas a amamentação exclusiva até os seis meses ainda não atinge as metas globais.

Atualmente, apenas 44% das crianças no mundo são amamentadas exclusivamente até os seis meses de vida. Nas Américas, esse índice é de 38%. A situação é ainda mais crítica em relação à amamentação na primeira hora de vida: na América Latina e no Caribe, menos da metade dos bebês recebe o leite materno nesse período, considerado crucial para a proteção contra infecções e para a redução da mortalidade neonatal.

A meta estabelecida pela OPAS para 2025 é atingir 50% de aleitamento exclusivo até os seis meses. A Agenda 2030, articulada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), eleva essa expectativa para 70%. Para especialistas, os desafios envolvem desde a desinformação até a falta de apoio institucional e familiar às mulheres que amamentam.

O leite humano é insubstituível. Ele contém nutrientes, anticorpos e substâncias bioativas que protegem o bebê contra doenças respiratórias, infecções e alergias. Para recém-nascidos prematuros ou com baixo peso, funciona como um verdadeiro medicamento, com impacto direto na recuperação clínica. Estudos mostram que o leite produzido por mães de prematuros tem composição distinta, adaptada às necessidades dos bebês que nasceram antes do tempo.

No Brasil, qualquer mulher saudável, que esteja amamentando e não faça uso de medicamentos que interfiram na lactação, pode doar leite. A coleta pode ser feita em casa ou diretamente nos bancos de leite, desde que respeitadas as orientações de higiene e armazenamento. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) disponibiliza, por meio do site da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH), os endereços dos postos de coleta em todo o país. Também é possível obter informações pelo Disque Saúde (136).

Não há exigência de quantidade mínima para doação. Um litro de leite pode alimentar até dez recém-nascidos por dia, e em casos de extrema prematuridade, um mililitro é suficiente para uma refeição. A triagem das doadoras, o processamento e a análise microbiológica do leite seguem protocolos rígidos para garantir a segurança alimentar dos bebês.

Além dos benefícios para os recém-nascidos, a amamentação também traz vantagens para a saúde das mães. Segundo a OPAS, o aleitamento prolongado está associado à redução dos riscos de câncer de mama e de ovário, além de contribuir para o espaçamento entre gestações. Também fortalece o vínculo afetivo entre mãe e filho, aspecto muitas vezes negligenciado nas discussões técnicas.

A legislação brasileira reconhece a importância do tema. A Lei nº 13.227/2015 instituiu o Dia e a Semana Nacional de Doação de Leite Humano, celebrados em 19 de maio. A norma tem como objetivo promover a cultura da doação, incentivar o aleitamento e divulgar os bancos de leite existentes nos estados e municípios.

Apesar dos avanços, a doação de leite ainda enfrenta barreiras. Muitas mulheres desconhecem a possibilidade de doar, outras não recebem o apoio necessário para manter a lactação. Profissionais da saúde alertam que campanhas de esclarecimento e investimento contínuo nos bancos de leite são fundamentais para garantir que mais recém-nascidos tenham acesso a esse recurso tão importante.

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